Líderes religiosos unem esforços para ajudar população de rua de SP diante da Covid-19

Procura pelo acolhimento cresceu com a pandemia do novo coronavírus tanto na zona leste quanto na norte

Integrantes de religiões, como católica, islâmica, candomblé e a umbanda têm unido forças para ajudar as pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo. As ações não começaram com a pandemia do novo coronavírus, mas foram ampliadas com a situação atual.

Recentemente, um lavatório foi colocado na Paróquia São Miguel Arcanjo, localizada na Mooca (zona leste de São Paulo), para higienizar as mãos. Segundo o padre Júlio Lancellotti, na igreja há distribuição de café da manhã, kits com materiais de higiene, roupas e alimentação, principalmente, para as pessoas em situação de rua.

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O padre Júlio Lancellotti e o xeque Rodrigo Jalloul numa ação de acolhimento social inter-religiosa na igreja de São Miguel Arcanjo, na Mooca, zona leste de São Paulo. Eles distribuem café da manhã, kits de alimentação e higiene pessoa e roupas para moradores de rua - Rubens Cavallari/Folhapress

Além disso, as pessoas recebem máscaras e são orientadas sobre como as utilizar corretamente para evitar o contágio pela Covid-19. O padre conta que iniciativas como a distribuição de alimentos e café da manhã também acontecem na Casa de Oração do Povo da Rua, localizada na Luz (região central).

A ação na paróquia ocorre todas as manhãs, entre domingo e sexta-feira, e conta com a ajuda de diversas pessoas. “Não perguntamos a religião. Aceitamos líderes, ministros, pessoas que têm posição dentro da religião e quem não tem religião alguma”, afirma o padre. Para ele, o importante é o “encontro de pessoas que querem humanizar a vida”.

Às segundas-feiras, por exemplo, o xeque Rodrigo Jalloul integra a iniciativa, levando alimentos para compor o café da manhã. O líder muçulmano conta que o trabalho em conjunto com o padre, voltado para a população de rua, acontece há mais de um ano. Antes da pandemia, cerca de 200 pessoas eram atendidas todas as manhãs. Atualmente, este número está em torno de 500.

Para Jalloul, além de ajudar por meio de doações de alimentos e roupas é importante fazer intergração com os moradores rua. “É importante fazer com que elas se sintam incluídas na sociedade”, afirma.

“Isso é ser solidário, saber o que está acontecendo com eles, partilhar e estar junto dos que mais sofrem e estão em uma situação de risco ainda maior”, complementa o padre.

Lancellotti destaca a importância dessa união ecumênica e lembra ainda que uma mãe de santo costuma participar das ações na paróquia, semanalmente, e tem levado equipamentos de proteção individual, como máscaras e escudos.

No último dia 17, o babalorixá Daniel Carlos Ribeiro levou cerca de 480 marmitas para entregar às pessoas em situação de rua na paróquia da Mooca e na região do viaduto Alcântara Machado (zona leste). A comida foi preparada por 25 pessoas do terreiro de umbanda, localizado na zona norte da capital paulista.

Foi a primeira vez que o babalorixá participou de uma ação com pessoas de outras religiões e pretende dar continuidade. “A união é muito bonita e grande. É importante que as pessoas entendam que não é religião, é questão de ser humano”, destaca.

O babalorixá conta que integra ações sociais há anos, nas regiões da Vila Nova Galvão e Cachoeirinha (ambas na zona norte), direcionadas, principalmente, à população de rua. Com a pandemia do novo coronavírus, foi necessário estendê-las a famílias que perderam o emprego recentemente, ajudando com cestas básicas e kits de higiene.

Estas ações são coordenadas com outras casas de Candomblé e Umbanda e aumentaram cerca de 60%. Além disso, ele está arrecadando roupas, água e cobertores para doar a famílias da zona leste.

O xeque Rodrigo também promove ações sociais, como entrega de cestas básicas e visitas de enfermeiros voluntários em comunidades, em parceria com padres da região de Itaquera e Ermelino Matarazzo (ambas na zona leste). Ele destaca que já recebeu apoio de pastores e kardecistas. “Uma sociedade só vai ter paz quando as religiões derem as mãos”, afirma.

Para ele, ações inter-religiosas ajudam a quebrar preconceitos. “A crença pode ser diferente, mas a prática de toda religião deve ser a caridade e o combate à intolerância”, diz.