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Serviços de inteligência seguiam rasto do ex-"marine" desde 2007
Foto: Dimitar DILKOFF / AFP

Paul Whelan: o homem no centro do jogo de espiões entre os EUA e a Rússia

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A questão é mais do que de Justiça, é um episódio amargo e tenso das relações entre os EUA e a Rússia. Paul Whelan, um ex-fuzileiro norte-americano, pode vir a cumprir 18 anos por espionagem.

A 15 de junho, o tribunal vai decidir se Paul Whelan, ex-fuzileiro dos EUA, cumpre a pena "severa" que é pedida pelo procurador russo responsável pelo processo. O homem de 50 anos está preso desde dezembro de 2018, acusado de espionagem, e pode ser condenado a 18 anos de prisão, caso seja considerado culpado.

A família alega que nos últimos 16 meses sempre lhe foi negada a possibilidade de o contactar e descreve o sistema judicial russo como "injusto", reiterando a tese apresentada pelo advogado de defesa de que Whelan foi vítima de uma armadilha.

"Num sistema justo, o tribunal absolveria Paul por falta de provas. Mas esperamos um veredicto injusto", enfatizou através de um comunicado o irmão gémeo do norte-americano, David Whelan.

A porta-voz da Embaixada dos EUA na Rússia, Rebecca Ross, referiu-se também ao caso no Twitter. "Não há indicação de que o Paul tenha sido autorizado a fazer apenas uma chamada. 16 meses, nem um telefonema para casa", escreveu.

Na mira dos serviços secretos desde 2007

A estratégia da defesa é provar que Paul Whelan recebeu uma pen que pensava conter fotografias de umas férias anteriores na Rússia, já que terá visitado o país por 12 vezes.

Uma teoria contestada pelos serviços secretos russos, que o marcaram como "pessoa de interesse" e que lhe seguem o rasto desde 2007, altura em que ainda fazia parte do corpo de Marines dos EUA.

"O procurador pensa que Paul Whelan é culpado, que é um oficial da agência de informações de defesa americana e que tentou efetivamente receber informações que são segredo de Estado e poderiam comprometer a segurança da Rússia", acrescentou Vladimir Jerebenkov, advogado do ex- "marine".

A informação que estaria no dispositivo de memória é matéria secreta e entre outros dados conterá os nomes de funcionários da agência de informação FSB (Serviço Federal de Segurança, entidade que sucedeu ao KGB).

De acordo com o ex-fuzileiro a pen foi "plantada" no seu quarto de hotel por um amigo que trabalha na agência, mas de acordo com o jornal russo "Kommersant" haverá uma gravação, feita no dia anterior à detenção do norte-americano, onde este solicita a informação que foi depois encontrada.

"Na conversa que ocorreu entre eles no dia anterior, ele descreveu claramente as informações de que precisava", escreveu o mesmo jornal, onde se refere que o FBS começou a seguir Paul Whelan quando este aterrou pela primeira vez na Rússia e levantou suspeitas por ter tentado estabelecer contacto com antigos e atuais oficiais de inteligência.

O julgamento decorre à porta fechada por haver referência a informações consideradas classificadas.

O caso de Whelan provocou especulações de que os Estados Unidos e a Rússia poderiam optar por uma troca de prisioneiros que incluísse o piloto russo Konstantin Yaroshenko, detido nos EUA por acusações de contrabando de drogas e condenado a 20 anos de prisão.