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Mário Barros, Deputy Operations Manager South Europe (Portugal, Espanha e Itália) da Ingka Centres

“Todo o comércio, seja em centros comerciais como em lojas de rua, será afetado”

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É prematuro avaliar a dimensão da crise, mas afetará todo o comércio, acredita Mário Barros, Deputy Operations Manager South Europe da Ingka Centres.

A dimensão da crise provocada pela pandemia do covid-19 não deixa margem para dúvidas. “A confirmarem-se as projeções de que a crise económica será profunda e prolongada, certamente todo o comércio, seja o que é operado em centros comerciais como em lojas de rua, será afetado, diz Mário Barros, Deputy Operations Manager South Europe (Portugal, Espanha e Itália) da Ingka Centres.

Parte do grupo Ingka, o braço dos centros comerciais do grupo dono da Ikea tem 44 shoppings em 14 países, recebendo anualmente cerca de 480 milhões de visitantes.

Em Portugal, tem 303 lojistas instalados no Mar Shopping de Matosinhos e no Mar Shopping de Loulé, tendo cerca de 5.500 colaboradores. Aos lojistas, durante o período em que estiveram encerrados por decreto legal, a empresa perdoou as rendas. Mas para a reabertura total prevista para junho não avança novas medidas para mitigar esse impacto no custo de operação dos retalhistas.

A abertura dos centros comerciais está prevista para 1 de junho, mas a APCC já pediu que fosse antecipada essa data, pedindo inclusive que fosse já no dia 18 de maio. Há efetivamente condições para uma abertura em segurança?

Não podemos falar por todos os centros comerciais, mas no que aos centros comerciais MAR Shopping Algarve e MAR Shopping Matosinhos diz respeito, já antes de encerrarmos estávamos a adotar todas as medidas de segurança para mantermos a saúde e a segurança dos nossos clientes, colegas de trabalho e parceiros, tendo sempre sido essa a nossa prioridade. Para a reabertura dos centros, continuamos a enquadrar todas as nossas ações nas recomendações e diretrizes da Direção-Geral de Saúde. E, nesse sentido, temos vindo a preparar a reabertura do MAR Shopping Algarve e do MAR Shopping Matosinhos em conjunto com as autoridades de saúde, no sentido de adotarmos as melhores práticas.

Estamos a implementar uma série de medidas preventivas para garantir um ambiente seguro na reabertura. Introduzimos medidas para recordar aos clientes qual a distância de segurança que devem manter uns dos outros, designadamente sinalética no chão, bem como informação sobre as boas práticas na higienização das mãos em vários displays espalhados pelo centro comercial. Também reforçámos a limpeza e desinfeção dos espaços, a desinfeção do sistema de ar condicionado em todo o centro comercial e instalámos uma maior quantidade de dispensadores de gel desinfetante para a higienização das mãos. Ainda em linha com as recomendações das autoridades de saúde, a maioria dos nossos espaços de entretenimento, play areas, entre outros, manter-se-ão encerrados até novas indicações ou abertos com alterações ao serviço para garantir a segurança do uso dos mesmos.

Além disso, reorganizámos os lugares no Espaço de Restauração e nas sitting areas para garantir o distanciamento social. Falta apenas dizer que imporemos as limitações à lotação do centro comercial que o Governo determinar e que temos vindo a trabalhar com os nossos lojistas, sensibilizando-os para a necessidade de adotarem todas as medidas de segurança recomendadas nos seus espaços.

Durante o Estado de Emergência alguns operadores/gestores de centros comerciais suspenderam as rendas dos lojistas que tiveram de encerrar outros perdoaram mesmo as rendas. Qual foi a vossa opção? De que modo ajudaram os vossos lojistas a mitigar o impacto da crise?

Mesmo antes de ser declarado o Estado de Emergência, a Ingka Centres, responsável pelo MAR Shopping Algarve e MAR Shopping Matosinhos, informou os seus lojistas de que, além de poderem flexibilizar os seus horários sem quaisquer penalizações, se tivessem de encerrar ficariam dispensados de pagar remuneração mínima ou encargos comuns. Esta medida teve como objetivo apoiar os lojistas, numa altura em que o Estado de Emergência ainda não tinha sido decretado, minimizando os impactos económicos nos seus negócios. Essa medida continua a vigorar até os nossos parceiros poderem reabrir os seus espaços no dia 1 de junho. Apesar de o Governo ter imposto apenas o adiamento desses pagamentos, nós decidimos prescindir desses valores.

Fomos o primeiro, e acreditamos, o único promotor de centros comerciais em Portugal a adotar estas medidas, pois entendemos que só com apoio mútuo durante este período especialmente adverso, estaremos em condições de retomar o nosso negócio com uma base mais sólida, assim que a vida regressar à normalidade.

Na reabertura lojas estão limitadas à entrada de um número de clientes, consoante a sua dimensão, o que só por si já impacta receitas. Há associações que já pedem descontos de 50% nas rendas comerciais pelo menos durante 3 meses e extensão do pagamento das rendas. Como olham para essas propostas? Vão reduzir rendas, oferecer algum tipo de condições mais favoráveis?

Acreditamos que as medidas que tomámos de apoio aos nossos lojistas durante este período de crise e enquanto mantiveram os seus negócios fechados, os colocam numa posição de maior solidez quando comparados com outros negócios. Esperamos que isso lhes permita ver a continuidade dos seus negócios com mais otimismo. Relativamente ao futuro, a Ingka Centres sempre terá uma posição de parceria com os seus lojistas.

Com muitos trabalhadores em lay-off, muitas famílias debatem-se com quebras de rendimento disponível. Que impacto considera que isso possa vir a ter no comércio nos shoppings e no comércio de rua?

A confirmarem-se as projeções de que a crise económica será profunda e prolongada, certamente todo o comércio, seja o que é operado em centros comerciais como em lojas de rua, será afetado. Contabilizar esse impacto é ainda prematuro. Vai depender de inúmeros fatores, a começar pela evolução da situação sanitária. E enquanto essa incerteza durar, toda a economia e, consequentemente, a vida das pessoas, continuará a ser afetada.

Nós queremos, no entanto, ter uma atitude positiva e construtiva para com os nossos parceiros de negócios, colaboradores e comunidades. Achamos que temos um papel relevante na sociedade e queremos contribuir para melhorar a vida das pessoas. Nesta fase, esta postura é ainda mais relevante.

Daí termos, neste momento adverso, não só apoiado os nossos lojistas, com as medidas que já referi, como também a comunidade. Estamos, desde abril e até final de junho, a apoiar com cabazes alimentares completos 200 famílias carenciadas dos concelhos de Faro, Loulé e Matosinhos, uma vez que percebemos, logo no início da pandemia, que os mais fragilizados economicamente seriam os primeiros a ver as suas vidas transformadas, e já entregámos milhares de Equipamentos de Proteção Individual a hospitais e forças de segurança das regiões do Algarve e do Grande Porto. Foram apoios que identificámos como prioritários graças ao relacionamento próximo que temos com as instituições das comunidades em que estamos instalados, que nos foram fazendo chegar as suas necessidades mais prementes.

Com as pessoas a recear grandes aglomerações pensa que isso possa eventualmente vir a beneficiar o comércio de rua?

Creio que ambos terão desafios, tal como os outros setores que são afetados pela lotação limitada. No caso dos centros comerciais MAR Shopping Algarve e MAR Shopping Matosinhos, além da lotação limitada, há ainda um conjunto alargado de medidas preventivas que acredito que irão transmitir segurança aos clientes. O nosso grande objetivo é que a população se sinta segura e confortável para fazer as suas compras.

Nos últimos anos assistimos à abertura de muitas lojas de distribuição moderna no comércio de rua, bem como nos shoppings. Que impacto considera que a situação de pandemia poderá ter nesse ritmo de aberturas?

Haverá certamente mudanças, mas acreditamos que as marcas se estão a reinventar para poderem adaptar os seus negócios e continuar a gerar valor. No caso dos centros MAR Shopping Algarve e MAR Shopping Matosinhos não será diferente, pelo que estamos a implementar uma série de soluções e serviços para acrescentar a nossa oferta de valor a todos os que nos visitam e aos nossos lojistas.

Só para mencionar alguns, os nossos centros são completamente acessíveis a pessoas com mobilidade reduzida, têm equipamentos de abastecimento de veículos elétricos, soluções de cacifos e serviço Pick and Collect da CTT, além de conceitos únicos como a sala de cinema IMAX, no MAR Shopping Matosinhos, e os espaços LEGO Fun Factory nos dois centros que são dos mais visitados da Península Ibérica. Temos estado e continuaremos a estar atentos às necessidades de todos e, assim, continuar a ser uma parte importante da economia e comunidade locais.

Ocorreu igualmente a muitas operações de compra de centros comerciais. O que antecipa que o atual clima possa vir a resultar nesta área de negócio?

Não conhecemos para já o verdadeiro impacto a longo prazo da pandemia no mercado dos centros comerciais. A prioridade para a Ingka Centres em Portugal é, para já, ser bem-sucedida nas reaberturas dos centros MAR Shopping Algarve e MAR Shopping Matosinhos e na continuidade dos seus negócios no país.