Supercomputador diz que “fomos nós” que aniquilámos os neandertais

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O homem de Neandertal é uma espécie ancestral humana extinta com a qual o homem moderno conviveu. Contudo, ao contrário do que se pensava anteriormente, a extinção do Neandertal não foi causada por mudanças abruptas do clima glacial nem pela reprodução cruzada com o Homo Sapiens. Segundo novas simulações de modelos de supercomputadores, só a competição entre Neandertais e Homo Sapiens pode explicar o rápido desaparecimento dos Neandertais, há cerca de 43 a 38 mil anos.

Os cientistas climáticos do Centro de Física Climática do IBS recorreram ao supercomputador IBS Aleph e descobriram que afinal… “fomos nós” que aniquilámos os neandertais!

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Neandertais e os seus primos Homo Sapiens

Os Neandertais viveram na Eurásia durante pelo menos 300.000 anos. Depois, há cerca de 43 a 38 mil anos, desapareceram rapidamente da face da terra, deixando apenas vestígios genéticos fracos nas populações atuais de Homo Sapiens.

Os indícios encontrados no planeta ajudaram a estabelecer com alguma firmeza que a extinção dos “nossos primos” coincidiu com um período de rápidas flutuações climáticas. Além disso, há igualmente o facto de que o desaparecimento desta espécie ancestral humana coincidiu com a chegada do Homo Sapiens à Europa. No entanto, determinar qual destes fatores foi a causa dominante, continuou a ser um dos maiores desafios da antropologia evolutiva.

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A Eurásia é a massa que forma, em conjunto, a Europa e a Ásia. Composto pelos continentes europeu e asiático, separados pela cordilheira dos Montes Urais, localizado na Rússia, pelo Rio Ural, pelo Mar Negro e pelo Mar Cáspio.

Matemática e a supercomputação são o Sherlock Holmes

Segundo os dados existentes, só é possível descobrir quais os processos que desempenharam um papel importante no colapso das populações Neandertais usando modelos matemáticos. Estes modelos irão simular realisticamente a migração dos Neandertais e do Homo Sapiens, as suas interações, a concorrência e a reprodução cruzada num ambiente climático em mudança. Tais modelos não existiam anteriormente.

Conforme foi publicado na revista Quaternary Science Review, Axel Timmermann, diretor do IBS Center, apresenta o primeiro modelo realista de simulação computacional da extinção dos Neandertais em toda a Eurásia.

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Simulações computacionais da densidade populacional de Neandertais (esquerda) e Homo Sapiens (direita) há 43.000 anos (em cima) e há 38.000 anos (em baixo). Os círculos laranja indicam sítios arqueológicos de Neandertais e os verdes sítios de Homo Sapiens, durante intervalos de 5.000 anos, centrados em torno de 43 e 38 mil anos antes do presente.

O modelo é composto por vários milhares de linhas de código informático e executado no supercomputador IBS Aleph. Segundo os autores do estudo, esta máquina resolve uma série de equações matemáticas que descrevem como os Neandertais e Homo Sapiens se moviam numa paisagem glaciar variável no tempo e sob mudanças de temperatura, pluviosidade e padrões de vegetação.

Luta pelos recursos poderão ser o fator da extinção dos Neandertais

No modelo, ambos os grupos de hominídeos competem pelos mesmos recursos alimentares e uma pequena fração permitia a reprodução cruzada. Os argumentos principais do modelo são obtidos a partir de simulações realistas de modelos climáticos computorizados, dados genéticos e demográficos.

Esta é a primeira vez que podemos quantificar os motores da extinção do Neandertal. No modelo informático posso ligar e desligar diferentes processos, como as alterações climáticas bruscas, a reprodução cruzada ou a competição.

Referiu Timmermann.

Ao comparar os resultados com os dados paleo-antropológicos, genéticos e arqueológicos existentes, como podemos ver na imagem acima, Timmermann demonstrou que uma extinção realista no modelo informático só é possível, se o Homo Sapiens tiver vantagens significativas sobre os Neandertais em termos de exploração dos recursos alimentares existentes.

Supercomputador aponta o Homo Sapiens como responsável pela extinção do homem de Neandertal

Apesar de o modelo não especificar os detalhes, as possíveis razões para a superioridade do Homo Sapiens poderiam ter sido associadas a melhores técnicas de caça, maior resistência a agentes patogénicos ou maior nível de fecundidade.

O que causou exatamente o rápido desaparecimento do Neandertal permaneceu elusivo durante muito tempo. Esta nova abordagem de modelização informática identifica a exclusão competitiva como a razão provável para o desaparecimento dos nossos primos.

Os Neandertais viveram na Eurásia durante os últimos 300.000 anos e experimentaram e adaptaram-se a mudanças climáticas bruscas, que foram ainda mais dramáticas do que as que ocorreram durante o tempo do desaparecimento do Neandertal. Não é uma coincidência que os Neandertais tenham desaparecido na altura em que o Homo Sapiens começou a espalhar-se pela Europa. As simulações do novo modelo de computador mostram claramente que este acontecimento foi a primeira grande extinção causada pela nossa própria espécie.

Referiu Timmermann.

Portanto, desta investigação resulta a perceção que o Homo Sapiens, que evoluiu ao homem moderno, adaptou-se melhor. Segundo o supercomputador, o “humano” criou técnicas de caça aperfeiçoadas e poderá ter aniquilado o seu primo, o homem de Neandertal. A matemática, a genética, a antropologia e a arqueologia precisam dos supercomputadores para chegar a um modelo fiável.

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