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Rui Constantino, economista-chefe do Satander Portugal

Economia verde vai avançar como fator diferenciador e gerador de valor

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Economista-chefe do Santander Portugal, Rui Constantino está convicto de que a marcha da industrialização verde é imparável, inclusive na banca. Ana Isabel Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde, levantou a “oportunidade” no Estado da Nação, programa do Dinheiro Vivo e TSF em parceria com o Santander

Rui Constantino está convicto de que a marcha da industrialização verde é imparável pelos benefícios que tratará à economia como um todo, inclusive na banca, diz o economista-chefe do Santander Portugal.

“Sobre a transformação da economia e a transformação verde, é um caminho que iremos seguir, iremos avançar. Creio que posso dizer que independentemente do que os supervisores ou os reguladores ou os legisladores venham dizer a economia como um todo, incluindo o setor bancário, vai avançar nesse sentido enquanto fator diferenciador e gerador de valor”, explicou Rui Constantino.

O mote tinha sido dado pela convidada do último Estado da Nação, de uma série de oito programas, Ana Isabel Trigo Morais. A CEO da Sociedade Ponto Verde falou da obrigatoriedade de mudanças relativas a um “novo futuro”. “Cabe-nos contribuir para a sua construção, e aqui no setor em que todos operamos, o setor do ambiente, da sustentabilidade, da economia circular da reciclagem”, lançou.

“A industrialização verde pode ser uma oportunidade interessante para Portugal. Na Sociedade Ponto Verde sentimos que há falta de indústria de reciclagem. Na Sociedade Ponto Verde sentimos que há grande deficiências no sistema que está por conquistar e achamos que a estrutura que o país tem ainda está longe de estar adaptada e preparada para as novas metas que vamos ter de cumprir não tarda, daqui a quatro ou cinco anos”, enquadrou a CEO da Sociedade Ponto Verde.

E sublinhou: “O país vai ter de mudar muito, vamos ter de recolher as embalagens de garrafas de bebidas. 77% de qualquer embalagem tem de ser colocada. Vamos precisar de matéria-prima para refazermos o conceito de economia circular. É uma obrigação para as empresas incorporar esta matéria-prima”.

“A industrialização verde é uma oportunidade muito grande e devíamos ter uma linha condutora de política ambiental para o país que desse espaço a que as empresas tivessem capacidade de acompanhar este rumo do mundo. Sentimos muita falta de que haja uma política baseada em incentivos à transformação verde e menos numa política de que o ambiente agora está na moda. Não vamos pensar aqui numa nova fiscalidade ou numa nova proibição, ou banir determinados materiais sem se perceber que a transformação, precisando de tempo, precisa também de uma nova orientação.

E talvez seja disso que sentimos mais falta. Temos dialogado com o governo”, elencou Ana Isabel Trigo Morais.

“Este tempo que estamos a viver e que nos surgiu de repente não pode deixar de ser uma oportunidade para pormos Portugal diferente. Em matéria de sustentabilidade de economia circular devemos prosseguir um caminho em que estes temas são chave para o futuro. Sobretudo numa altura em que é curioso vermos que um dos fatores que nos ajudou a combater esta pandemia, e todos os episódios que estamos a viver há dois meses parados nas famílias, nas empresas, no mundo, tem a ver com atitudes e com responsabilidade dos cidadãos e das pessoas e das autoridades”, sublinhou a CEO da Sociedade Ponto Verde.

“O ambiente, a prática da sustentabilidade e a economia circular têm também a ver com atitudes e a responsabilização de todos os agentes que se preocupam e tratam as matérias dos ambientes. Da Academia à inovação, as empresas industriais, os retalhistas, os consumidores e as autoridades que de facto contribuem muito com as políticas públicas e as intervenções que têm no setor do ambiente. Queria, aliás, dizer que me pareceu muito interessante nós vivermos num momento em que a Europa estava num renascimento daquilo que eram as suas grandes linhas de orientação, ganhar competitividade e reganhar um espaço mundial na economia e na geopolítica e entretanto vemos que as prioridades pré-Covid estavam muito assentes na estrutura da digitalização, do Green Deal, da ação climática, da neutralidade carbónica. E agora o pós-Covid vai necessariamente implicar que não se perca o foco naquilo que vai trazer ganhos e vai trazer a criação de riqueza, emprego e melhor vida e convívio com o planeta”, dissecou Ana Isabel Trigo Morais.

“É verdade que estamos a sentir grandes dificuldades das empresas e sabemos que estão com limitações fortíssimas na tesouraria. Mas também aproveitava para dizer que o custo de existirmos e de viver como vivíamos era muito elevado. E temos de ajustar a nossa forma de vida e temos também de ajustar o custo e o impacto ambiental que tem. Por isso, julgo que as políticas, quer nacionais, quer europeias, para a nova economia circular, todo este pacto ecológico europeu, que agora se chama Green Deal, vão-nos trazer uma forma diferente de trabalharmos, aliás julgo que o business as usual vai ser reconfigurado”, defendeu.

“Mas acredito que os temas da sustentabilidade, da economia circular, do impacto ambiental da nossa forma de viver vão continuar a estar na nossa agenda e vão continuar de facto a nossa preocupação alargada à nossa cadeia de valor toda”, sintetizou Ana Isabel Trigo Morais.

Sim ao fundo de capitalização

Na terça-feira, António Saraiva voltou a ser recebido pelo primeiro-ministro. “Entre as várias medidas que apresentámos, de facto, na reunião com o senhor primeiro ministro, estava a criação de um fundo de capitalização de empresas”, confirmou o líder da CIP.

“Sugerimos que o fundo deveria ter um montante na ordem dos três mil milhões de euros para ter alguma expressão. É um fundo de emergência, mas acaba por ser um fundo de fundos e devia estar na órbita da Instituição Financeira de Desenvolvimento [IFD], dando à IFD essa operacionalização para a capitalização das empresas.

Através de fundos de capital de risco, da forma mais consentânea com o atingir deste objetivo e este fundo poderia ser potenciado pelos recursos do Banco Europeu de Investimento e no âmbito do Portugal Venture Capital Initiative, que também têm montantes por utilizar, e serviria para estes novos investimentos”, explicou.

“Desde logo para cobrir prejuízos e depois novos investimentos para a modernização, expansão e internacionalização, exportação ou substituição de importações, fator que para nós é igualmente importante que, gradualmente, possamos ir substituindo as importações por fabrico interno. Esta capitalização é fundamental em muitos casos para evitar incumprimentos de créditos inexistentes e que o sistema bancário ficasse com problemas como a crise anterior lhe provocou. Depois, proteger as empresas portuguesas porque com esta capitalização ficariam menos expostas à compra oportunista de concorrentes ou até à sua aquisição por fundos-abutre que sempre aparecem nestas situações em que as empresas se encontram mais fragilizadas”, desenvolveu o presidente da CIP.

“O governo mostrou enorme sensibilidade e concordância com estas nossas posições.

Ficou de se constituir um grupo de trabalho no âmbito do ministério da Economia, envolvendo as entidades associativas empresariais, como aliás sugerimos, para se operacionalizar, eventualmente não com este montante que sugerimos, mas esta foi a quantificação que fizemos”, confirmou.

“O governo disse que na sua avaliação esse valor seria excessivo, mas fiquei com a convicção, na conversa, que pelo menos os dois mil milhões seriam possíveis de atingir. Fiquei com essa expetativa”, revelou António Saraiva.

“Sem dúvida que estas medidas que de alguma forma não exigem um reembolso são muito importantes para as empresas, porque já bem basta estas paragens que não são apenas de dois meses. São mais do que dois meses porque a retoma não se faz à velocidade de cruzeiro em que estávamos”, apoiou João Duque, economista e professor universitário do ISEG.

“Mas deste que se crie este fundo com este objetivo e com um montante significativo – 1,5, 2, 2,5 mil milhões, enfim, aquilo que for possível –, sendo que o governo aguarda pela fatia do que vier a ser definido pela União Europeia e também tivemos conhecimento de novas evoluções, de que a Alemanha e a França pensam do fundo a criar, enfim, esperemos que tudo isto se reúna virtuosamente para se criar este objetivo, esta proposta que apresentámos e que o governo aceitou de bom grado possa ser concretizada e assim possamos reforçar, que é esse o objetivo que temos na proposta, os capitais do tecido empresarial português para que não fique tão exposto como seguramente vai ficar com os prejuízos que virão com esta crise desde logo”, concluiu o líder da CIP.

João Duque acrescentou dados à sua análise: “Vamos ter aqui alguns meses para recuperar até chegar ao ponto em que estávamos. Estas medidas são de facto importantes. É preciso percebermos uma coisa: em termos globais estou convencido que houve uma alteração profunda na economia, não só na portuguesa, na economia global. Isto tem impactos na oferta que as empresas vão ter que providenciar para o novo paradigma. Vai haver uma alteração significativa”.

“Há empresas que não vão recuperar. E com essas o esforço que estamos a fazer vai ser um pedaço bom inútil. Porque não vale a pena estar a capitalizar uma empresa que depois não tem procura. O que acho que tem de ser encarado com alguma insistência é a possibilidade de ou deixarmos o mercado reagir livremente e satisfazer as procuras que vão aparecendo, e que vão aparecendo à medida que o tempo vai passar, ou há alguma linha pelo menos condutora que de alguma forma oriente e dê preferências a estes estímulos”, prosseguiu o economista.

“Olhando para a o lado do governo faz sentido que depois de alguma discussão, enfim, de algum acordo das forças políticas representadas no Parlamento, se estabeleça uma boa base de entendimento para dar alguns sinais de preferência a setores de atividade, a tipos de organizações. Para podermos usar esta crise como uma oportunidade para por Portugal diferente”, projetou João Duque.

“Porque pessoalmente não acho que o modelo que tínhamos fosse de sucesso. Foi um modelo que ajudou a recuperar alguma coisa, mas não era um modelo que estava com sucesso dentro da economia europeia. Todos os anos estávamos a ser ultrapassados pelos países emergentes da Europa do Leste que conseguiam bater Portugal em PIB per capita e em capacidade de poder de compra. Todos os anos estávamos a ser ultrapassados por eles, o que quer dizer que não estávamos a reagir da forma adequada”, sublinhou.

“Aproveitar esta oportunidade para de alguma forma modificar o que é a nossa estrutura, através da reindustrialização, através de alguma alteração na política de desenvolvimento de investimento público, ou nos apoios concretos que privilegiem determinados setores, determinado tipo de atividades. Por exemplo, que promovam a substituição de importações por produção nacional”, especificou João Duque.

“De alguma forma, que haja alguma lógica e que haja um plano. Pelo menos algum plano, porque se não temo que acabemos no final desta crise mais ou menos a sobreviver, os portugueses são bons a sobrevier. Não me parece que chegue, não dá confiança de longo prazo. Temos tido uma série de sobressaltos grandes e não temos tido grande linha de rumo. A única linha de rumo que conseguimos nos últimos anos, com cores políticas diferentes, foi uma. Foi conseguirmos equilibrar o Orçamento do Estado. Mas isso não é linha, é uma exigência financeira”, sustentou.

Lay-off prolongado

António Saraiva desmontou a intenção sinalizada pela ministra Mariana Vieira da Silva de que o lay-off não será prolongado depois de junho. “Foi excessiva”, garantiu o presidente da CIP. E no mesmo dia em que o Estado da Nação foi para o ar na TSF, o primeiro-ministro António Costa admitiu que as regras teriam de ser revistas.

No início da semana, a ministra de Estado e da Presidência Mariana Vieira da Silva deu a entender que o lay-off, que perdura desde meados de março e até final de junho, não será prolongado.

“A retoma, como temos avaliado ao longo destes programas, vai ser lenta, assimétrica, quer em termos de setores, quer em termos de atividades, e por muito otimistas que sejamos não podemos pensar que vai acontecer de uma forma fantástica e que todos os empregos estão acautelados e que a confiança vai imediatamente ser restaurada.

Sabemos que não vai ser assim. E porque não vai ser assim não creio que o governo não esteja sensível a dilatar o prazo do lay-off, porque muitas empresas vão necessitar de gradualmente ir adaptando a sua resposta, a sua oferta à diferente procura que vão ter”, explicou António Saraiva.

E o líder da CIP foi além: “Por isso, é fundamental que o lay-off seja estendido por mais um período de tempo, em função da avaliação que se vai fazendo e em sede de concertação social, é para isso também que o diálogo social serve, para que possamos lançar medidas que se adaptem às necessidades que a avaliação legitimar”.

“Acho que a senhora ministra foi excessiva e demasiado taxativa em dizer que o lay-off não iria prolongar-se. Vai ter de o fazer, mas como representante do governo não o quis fazer prematuramente essa possibilidade”, disparou o presidente da CIP.

A verdade é que no dia em que foi emitido o programa Estado da Nação, uma iniciativa do Dinheiro Vivo (DV) e TSF, em parceria com o Santander, António Costa abriu essa porta, como o DV noticiou precisamente na quarta-feira. “O Presidente da República pressionou o Governo a prorrogar a medida para lá de 30 de junho para evitar mais desemprego. A resposta não compromete, mas o primeiro-ministro deixa a porta aberta ao prolongamento do regime simplificado de lay-off que vigora desde março e termina no final de junho. ‘Quando segunda ou terça-feira tivermos oportunidade para discutir o programa de emergência económica e social, uma das medidas que tem de ser devidamente ponderada é se devemos regressar simplesmente ao regime normal, que vigora desde os anos 80, ou se deve haver outra medida alternativa’, afirmou António Costa em resposta ao deputado do CDS-PP, João Almeida.

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