Maqueiro do setor Covid diz que vira 'porta-voz' de familiares de pacientes
Por Caroline Oliveira
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O setor Covid-19, nos hospitais públicos e particulares, precisa de muitos profissionais para atender aos pacientes. Além dos médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem, outros funcionários do hospital também têm acesso ao local, como maqueiros e o pessoal responsável pela limpeza.
O maqueiro Adão Carlos da Silva Castro que trabalha em um hospital particular vivenciou o setor por um mês, já que o hospital faz revezamento de profissionais que trabalham no local, e afirma que a experiência foi enriquecedora.
Foto: Arquivo Pessoal
Segundo ele, um dos momentos mais marcantes era quando saía do setor e familiares de vítimas que estavam lá o procurava por notícias. “O que me chamou atenção é a gente vê os familiares chorando lá fora, perguntando como é que estão seus entes queridos. Porque eles não podem entrar e a gente fica como se fosse os olhos deles, perguntando se estão conversando, acordados ou intubados”, destaca o maqueiro, que está nesta função há 11 anos.
Ele revelou que sofreu repulsa de pessoas de outros setores, por circular na Covid e isso fez com que o deixasse triste, mesmo sabendo que utilizava todos os equipamentos de proteção, fazendo a higienização e seguindo todos os protocolos.
“O que me deixou assustado, por incrível que pareça, que ficaram com preconceito com a gente dentro da Covid. As pessoas que foram escolhidas para fazerem parte, muitas vezes somos recebidas em outros lugares com preconceito, não deixavam pegar na maçaneta, não deixavam entrar na sala porque trabalhava na área Covid. Isso me entristece, porque estamos ali é para combater e não para se dividir dentro do hospital e ser discriminado assim... a gente só entrava lá protegido, sabendo com o que estava lidando”, destacou Adão.
Ele ainda completou afirmando que acredita que era mais fácil adoecer em locais públicos do que no seu trabalho. “É mais fácil adoecer no ônibus ou no supermercado do que dentro da área Covid. Não tenho medo de entrar, porque sabemos com quem estamos mexendo, diferente da rua que a gente não sabe quem é quem”.
Mas, Adão Carlos afirma que apesar disso, o reconhecimento que recebe de outros profissionais, pacientes, acompanhantes e da sua família, o faz esquecer desses momentos.
Foto: Arquivo Pessoal
“Fico feliz também, porque por outro lado, tem gente que se dispõe a nos parabenizar, por a gente estar lá dentro, no meio da equipe e não ter medo. E sorriso dos pacientes que chegaram suspeitos e que deram negativo e agradecem por ter levado no Raio X, na tomografia ou os que tiveram Covid leve e vão para casa, passar a quarentena e que reconhece o maqueiro é engrandecedor”.
Em casa
Pai de dois filhos, Adão diz que sempre conversa com sua família sobre como é seu dia a dia na linha de frente e destaca que recebe apoio.
“Estou tendo o maior cuidado, minha roupa e o tênis eu já deixo na área de lavanderia, só abraço meus filhos depois de tomar um bom banho e lavar bem a cabeça. Tenho um filho de dois anos e outro de 11 anos”, afirma o maqueiro que já trabalha no hospital há 16 anos.