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Gustavo Assunção pediu conselhos ao pai sobre jogar sem adeptos

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O Estádio Giuseppe Meazza, 1 de novembro de 2005. O FC Porto viajava até Itália para enfrentar o gigante Inter Milão, em jogo do grupo H da Liga dos Campeões. Havia, porém, ingrediente especial: a partida da Champions foi o terceiro de quatro jogos à porta fechada, castigo imposto pela UEFA ao Inter pelo petardo que quase cegava Dida, guarda-redes do rival Milan, nos quartos de final da Liga dos Campeões da temporada anterior. Antes do jogo com os dragões já o Inter havia empatado com o Shakhtar (1-1), na pré-eliminatória da competição, e vencido o Glasgow Rangers (1-0), na 2.ª jornada.

«Lembro-me muito bem. Entrámos concentrados, marcámos o 1-0 pelo Hugo Almeida mas nos últimos minutos acabámos mesmo por perder por 1-2», relembra Paulo Assunção, médio brasileiro que foi escolha inicial de Co Adriaanse nessa partida, tendo sido substituído aos 62 minutos, entrando Bruno Alves para o seu lugar.

«Impossível esquecer esse jogo, pela forma tão diferente como decorreu. E também porque eu tinha o sonho de poder jogar contra o Inter, desde criança que ouvia falar desse clube onde jogaram grandes jogadores brasileiros. E quando finalmente tive essa hipótese, ninguém estava a ver esse momento», acrescenta o antigo médio, retirado dos relvados desde 2014, e agora com 40 anos. Dessa equipa, porém, ainda há quem esteja no ativo: além de Bruno Alves, suplente utilizado, também Pepe continua - e no FC Porto, curiosamente -, bem como Lucho González (Athletico Paranaense) e Ricardo Quaresma (Kasimpasa), além dos suplentes não utilizados Paulo Ribeiro (Pinhalnovense), Ricardo Costa (Boavista) e Diego (Flamengo).

«Foi a primeira vez que joguei sem adeptos nas bancadas. De início, no período de aquecimento, parecia que estávamos num treino. A verdade é que na palestra o mister passou-nos a mensagem, era preciso dar tudo e entrámos num ritmo muito forte, com enorme pressão, que nos valeu aquele golaço do Hugo Almeida», começa por contar Paulo Assunção a A BOLA, relembrando um outro pormenor que ainda hoje recorda:

«Normalmente chegamos aos estádios duas horas antes dos jogos e eu sou daqueles que quer ir logo ao relvado. Habitualmente já tem adeptos nas bancadas, que aplaudem ou assobiam, conforme estejamos no nosso estádio ou no do adversário, claro. Isso serve logo de motivação, como forma de entrar no ambiente. Ali subi ao relvado e senti um vazio enorme. Depois, no aquecimento, percebi que havia pessoas. Vim a saber que era o diretor do Inter e o presidente e as famílias todas. Mas um estádio daqueles, tão enorme, e tão vazio, deu uma tristeza gigante cumprir um objetivo de carreira daquela forma. Jogávamos fora mas prefiro adeptos, nem que sejam adversários, a uma bancada vazia.»

A viver agora as emoções de fora, depois de uma carreira que começou no Palmeiras, passou por Portugal - FC Porto, Nacional -, teve ainda ponto alto no Atlético Madrid e terminou na Grécia, pelo Levadiakos, já depois de acrescentar AEK, São Paulo e Deportivo da Corunha ao currículo, Paulo Assunção continua a acompanhar de perto o futebol português. Afinal, é no Famalicão, que este ano milita no principal escalão, que joga o seu filho, Gustavo Assunção.

«No outro dia ele próprio perguntava-me como era jogar sem adeptos. Disse-lhe isto mesmo, que no aquecimento tudo parece um treino mas logo que o árbitro apita torna-se sério. É preciso o dobro da concentração», explica o antigo médio, que concorda com a decisão tomada no nosso futebol:

«Sou daqueles que acha que enquanto não houver uma vacina não haverá adeptos nas bancadas. Até lá, acho que não se deve brincar com a saúde das pessoas. Normalmente vai muita gente ao futebol, há muito risco. E contra mim falo, estou louco para voltar a um estádio e assistir futebol. Agora só em casa e finalmente já temos a bola a rolar na Alemanha. Acho que só com vacina, quando tudo estiver a 100 por cento, com segurança, é que voltarei a um estádio de futebol.»