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«Jogar sem público não nos tirou a concentração»

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O espanhol Toñito, 43 anos, jogou no Sporting no princípio dos anos 2000 e, a 3 de outubro de 2002, teve oportunidade de jogar, pelos leões, no Estádio do Partizan de Belgrado, com capacidade para 32 mil pessoas. Porém, devido a problemas nas bancadas durante o Partizan-Bayern, da 3.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões, o jogo realizou-se à porta fechada.

O Sporting perdera em casa, na primeira-mão, por 1-3, e precisava de, em Belgrado, inverter a desvantagem para seguir para a 3.ª eliminatória da Taça UEFA. Toñito recorda-se muito bem desse jogo. «Foi um dos melhores da minha carreira», diz o antigo leão, «pois fiz um golo [0-1 aos 13] e a assistência para o 3-1 [Contreras, aos 82] que empatava a eliminatória e levava o jogo para prolongamento».

O rapidíssimo médio de ataque, então com 25 anos, lembra-se muito bem da ausência de sons vindos das bancadas: «Foi um jogo inabitual por causa das bancadas que estavam vazias. Ouvia-se muito o eco dos jogadores a falarem entre si e das pancadas que dávamos na bola. Não estava habituado aquilo, nem sequer vira um jogo assim, sem público. A verdade é que jogámos 120 minutos sem espectadores e esse jogo ficou, por diversas razões, na minha memória. Por ter sido um dos meus melhores e ainda por ter sido disputado sem público.»

Foi a única experiência assim na carreira do jogador espanhol. «Que me lembre, sim», avança. «Julgo que o Partizan estava a cumprir um castigo da UEFA e o jogo foi realizado à porta fechada. Tive jogos em que estava muito pouco público nas bancadas, mas como aquele, de facto, não tive mais», explicou.

Toñito acha, no entanto, que não valorizou demasiado o jogo ter-se realizado sem ninguém nas bancadas: «Quando estás na alta competição, não dás por certas coisas. Tivemos um primeiro jogo em Alvalade muito fraco e precisávamos de fazer o jogo das nossas vidas para continuar na Taça UEFA. Jogar sem público não foi algo que nos tirasse a concentração, pois estávamos totalmente focados em ganhar por dois golos de diferença, pelo menos. Tínhamos de fazer um jogo quase perfeito e quase conseguimos. Tivemos apenas um pouco de azar na parte final [3-1 para 3-3 no prolongamento].

O agora treinador diz, mesmo assim, que houve alturas em que o Partizan-Sporting chegou a parecer um jogo a feijões. «Faltava aquela sensação de jogo de competição europeia, de jogo a doer, por vezes assemelhou-se a um jogo-treino, por causa da ausência de barulho vindo das bancadas», recorda. «Costumávamos jogar com o Estádio de Alvalade cheio e, de repente, chegámos a Belgrado e as bancadas estavam desertas. Foi estranho, sim, mas nada mais», desmistificou. «Aliás», diz, «não foi por causa da ausência de público que acabámos eliminados; faltou, sim, algo essencial, que são os adeptos na bancada.»

Toñito diz que Laszlo Boloni, treinador acabadinho de sagrar-se campeão pelo Sporting na época anterior, nem sequer valorizou muito o facto de o jogo se realizar à porta fechada. «Que me lembre, não falou do tema, pois a sua única ideia era virar a desvantagem que levávamos de Lisboa», começou por relembrar. «Boloni era muito competitivo e preparou o jogo ao detalhe, mas, que me lembre, nunca se focou nas bancadas vazias. Pediu-nos apenas máxima concentração e, claro, um grande jogo.»

Estranho, para Toñito, foram apenas os primeiros momentos em que se ouviam, sobretudo, as ordens dos treinadores. «Ouvia-se tudo», esclarece, «desde as palavras dos treinadores, aos gritos de colegas e adversários e ainda alguns pequenos sons vindos das bancadas, não sei de quem». O antigo leão aponta os jogadores que poderão sentir mais a ausência de barulho vindo das bancadas: «Quando estás no relvado, a não ser que jogues junto à linha lateral, estás tão concentrado que nem dás pelo ruído que possa vir das bancadas. É quase como um treino. Estás habituado a ouvir bem as indicações do treinador e, num jogo à porta fechada, passa-se o mesmo. Não é preocupante nem te desconcentras. É mais fácil para os treinadores darem ordens e para os jogadores é mais fácil ouvi-las.»

Agora, porém, em Portugal, como em todos os países, não será apenas um jogo à porta fechada. No caso português, serão dez jornadas. Ou seja, 90 jogos. «Um jogo ou outro, ok, não faz mal», antevê, antes de concretizar: «Mas dez jornadas é muito. O jogo de Belgrado era muito especial para nós, como serão estes dez para as equipas portuguesas. Mas são dez vezes mais jogos à porta fechada. Num momento essencial e todos consecutivos e decisivos. A concentração dos jogadores terá sempre de estar no máximo. Um ou outro jogo poderá ser mais complicado, sobretudo para os clubes que estão acostumados a ter mais gente nas bancadas, ou seja, aqueles que, em princípio, lutarão pelo título. São demasiados jogos sem ninguém a torcer e sem sentir o alento dos adeptos. Julgo que acontecerão muitas coisas inabituais.»