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Foto: Álvaro Isidoro/Globaal Imagens/Arquivo

Os olhos da Europa postos no futebol português

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Retoma do campeonato no início de junho vai aumentar o interesse mediático na prova e também centrar a atenção de empresários e olheiros estrangeiros.

Entre os seis campeonatos que lideram o ranking da UEFA, o português será o segundo a entrar em ação, depois de a Bundesliga ter reaberto a cortina competitiva para gáudio dos amantes do chamado desporto-rei. Nesse topo do futebol do Velho Continente, a liga francesa já foi definitivamente encerrada, enquanto as edições de 2019/20 dos campeonatos espanhol, inglês e italiano ainda esperam luz verde governamental para serem retomados. Quer isto dizer que as primeiras jornadas da retoma da Liga vão ter mais audiências do que nunca, não só por parte dos portugueses, mas também pelos adeptos e agentes do futebol espalhados pelo Mundo, o que não deixa de ser curioso, uma vez que, conforme é de conhecimento público, os jogos vão decorrer à porta fechada.

Lá diz o ditado popular que o futebol é o ópio do povo e o caso da Bundesliga é sintomático. O regresso da Liga alemã, no passado sábado, fez disparar as audiências da Sky germânica, que é a principal detentora dos direitos televisivos daquele campeonato. Foram 3,68 milhões de telespetadores nos canais pagos e 2,45 milhões nos de sinal aberto. Percebe-se, assim, os motivos pelos quais têm havido tanta polémica em Portugal, envolvendo as principais operadoras e os dois canais (Sport TV e BTV) que detêm os direitos televisivos do principal escalão português. E a prova de que a Liga portuguesa ultrapassará as fronteiras do Velho Continente está, por exemplo, nos dados oriundos da América do Sul, mais concretamente no Brasil, onde o regresso da Bundesliga foi seguida, em direto, via TV, por mais de um milhão de telespetadores.

A pouco mais de uma semana da retoma do campeonato português sabe-se que nem todos os que vão assistir a esses primeiros jogos da jornada 25 o farão na qualidade de adeptos. Empresários, scouts, treinadores e outros agentes do futebol olharão para o regresso do nosso campeonato por uma perspetiva mais profissional e, os que foram ouvidos pelo JN, não têm dúvidas em considerar que a retoma antecipada em relação a outras ligas de topo é uma vantagem.

Ao longo dos anos, o futebol português tem servido de trampolim para muitos jogadores voarem para clubes de campeonatos financeiramente mais poderosos. Sinal de que a liga nacional é sempre seguida com particular atenção, mas nesta fase de retoma as atenções estarão ainda mais centradas nos jogadores da Liga, uma vez que este contexto singular de competição permitirá, entre outras coisas, fazer análises mais profundas a questões de ordem física e de propensão de lesões.

Em suma, o regresso do campeonato português estará no centro de todos os olhares, o que só pode servir de motivação para todos os intervenientes.

Ricardo Calleri, agente italiano: "Vamos estar de olhos postos na liga portuguesa"

O campeonato luso é um dos poucos prestes a regressar e, para Ricardo Calleri, não há dúvidas de que isso é uma vantagem para os atletas, cujo valor já é reconhecido: "Os jogadores da Liga portuguesa costumam ser muito bons. Tanto os portugueses como os estrangeiros. O próprio campeonato é um dos mais importantes da Europa. Vamos estar todos de olhos postos na liga portuguesa", assegurou, sublinhando ainda a possibilidade do aumento do valor de mercado. "O valor do jogador depende sempre do clube que compra. Em Portugal, como o futebol começa primeiro do que na maior parte dos outros países, há vantagem, pois mostra-se os jogadores enquanto os outros estão parados. Isso é bom, tanto para o valor de mercado dos atletas, como para o futebol português".

Christophe Mongai, agente francês: "Todos sentem muita falta de ver futebol"

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Christophe Mongai
Foto: DR

Sendo o futebol um desporto que move multidões, o regresso depois de quase dois meses de paragem só pode, na opinião de Christophe Mongai, trazer vantagens a Portugal e Alemanha: "A retoma das competições será bastante positiva para os campeonatos, jogadores e para os clubes. Todos sentem muita falta de ver futebol, todos têm muita vontade de ver jogos e mais pessoas vão estar atentas. Será benéfico para o mercado", começou por dizer o francês, considerando ainda que o valor dos atletas só tem motivos para aumentar: "Há uma grande dúvida, que é quando é que vai começar e terminar o mercado de transferências. A atenção vai estar virada para Alemanha e Portugal. São dois grandes países de futebol. Os jogadores do campeonato português são interessantes".

Jonas Vallina, agente espanhol: "Os primeiros jogos vão parecer da Liga dos Campeões"

Para o empresário espanhol, o regresso do futebol em Portugal mais cedo do que nos outros países de topo até pode trazer alguma vantagem, mas não de forma significativa: "Os departamentos de scouting já têm os jogadores da Liga portuguesa bem referenciados". Para Valina, o valor de mercado não deve aumentar e há outra coisa a ter em conta: as lesões. "Será interessante perceber como vão reagir fisicamente a uma carga de jogos mais elevada. Os primeiros jogos vão parecer da Liga dos Campeões. Mas chegará uma altura em que a maioria dos clubes já não terão objetivos para atingir e esses jogos vão tornar-se enfadonhos. É certo que alguns atletas até podem surgir mais motivados, pois sabem que têm mais pessoas atentas. Mas isso até pode prejudicar o jogo coletivo".

Artur Fernandes, agente português: "Maior visibilidade via TV traz alguma vantagem"

O empresário português lamenta a impossibilidade de se fazerem observações "in loco" na retoma da Liga, mas vinca que o facto de haver poucos campeonatos em andamento trará "uma visibilidade muito maior, via TV" ao português, que "deverá ser capitalizada", pois confere-lhe "alguma vantagem". "Levamos um bocadinho de vantagem, sobretudo nessa primeira semana", referiu Artur Fernandes, ao JN, acrescentando que as observações ao jogador da Liga portuguesa já foram maioritariamente "feitas nos oito meses de competição" já realizados. "Sendo o regresso feito de forma atípica, não servirá de grande referência na analise aos nossos jogadores", sublinhou o agente, recordando que possíveis lesões trarão "complicações a eventuais transferências".

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Nuno Ventura
Foto: DR

Nuno Ventura, presidente da Associação Nacional de Scouts de Futebol: "Podem surgir bons negócios que não se iriam fazer"

Tendo como base a Bundesliga, que serve de farol para o que aí vem, o presidente da Associação Nacional de Scouts de Futebol (ANSF) explicou ao JN que a retoma da Liga "pode despertar o interesse de clubes em jogadores que poderiam estar nas equipas B ou mais tapados pelos habituais titulares". Nuno Ventura referia-se à onda de lesões que se verificou na primeira jornada da retoma do campeonato alemão. E prosseguiu assim: "Podem surgir negócios e bons negócios que, se as coisas tivessem corrido normalmente, não se iriam fazer. Novos negócios de novos valores que possam emergir". O líder da ANSF vinca que os observadores estarão de olhos postos na nossa Liga nem que seja, apenas, "para atualizar relatórios de jogadores que já se encontravam referenciados".