Paz com o Congresso, guerra com o STF

Após trégua com deputados e senadores, presidente tem embate com o Judiciário

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Após a divulgação do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril e os acontecimentos e repercussões dos últimos dias, a guerra travada pelo governo de Jair Bolsonaro com os demais poderes concentra-se em uma frente específica: o duelo com o Supremo Tribunal Federal (STF). Na outra frente, contra o Congresso, o clima hoje é melhor após a aliança e a troca de cargos com o Centrão. Praticamente não se ouve mais reclamações da base bolsonarista contra Rodrigo Maia, que recolheu-se após ver seus aliados migrarem para o apoio ao governo.

Do outro lado da Praça dos Três Poderes a situação é diversa. Ministros do STF têm sido cada vez mais bombardeados pelos aliados do Executivo. E as decisões contra o Planalto se avolumam, com pressões maiores em torno dos inquéritos referentes à possível interferência na Polícia Federal e à produção e difusão de fake news nas redes sociais.

No fim de semana, o presidente divulgou nas redes sociais um artigo da Lei do Abuso de Autoridade – aquela que o presidente e seus aliados chamavam de infame e anti-Lava Jato – para reclamar da divulgação do vídeo de sua reunião ministerial. O foco era claro: o ministro Celso de Mello, decano do STF. Pelo que se conhece do respeito que Celso de Mello tem no Supremo, haverá reações. O ataque ao decano da Corte é considerado um ataque direto ao próprio tribunal. E, além do mais, veio após vir a público a declaração do ministro da Educação, Abraham Weintraub, de que os ministros da Corte deveriam ser presos. Para piorar, Alexandre de Moraes passou o fim de semana lutando contra fake news que insinuavam que tramava, junto ao PCC, um ataque ao presidente da República. O relator do inquérito sobre notícias falsas e ataques à Corte prometeu que a Justiça reagiria.

Também espera-se um aumento de tensão com o Tribunal de Contas da União (TCU) que, apesar do nome, é um órgão auxiliar do Poder Legislativo. Os relatos na imprensa dão conta de que os ministros da Corte estão irritadíssimos com as declarações do presidente do Banco do Brasil na fatídica reunião ministerial. Rubem Novaes disse que o TCU era uma “usina de terror”. Agora os ministros querem sua cabeça. Empresários e os filhos do presidente (por motivos diversos, querem o mesmo). Como poucos órgãos podem dificultar tanto a vida de um governo, no dia a dia, quanto o TCU, esse impulso tende a ser fatal para o comandante da instituição financeira.