Coronavírus foi mencionado menos de 30 vezes na reunião de Bolsonaro, e secretário diz que teve náuseas com vídeo

Presidente do Banco do Brasil chegou a dizer que pico da doença já havia passado no Brasil

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No vídeo da reunião ministerial do governo Jair Bolsonaro do dia 22 de abril, divulgado na sexta-feira (22) por decisão judicial, os participantes praticamente não falaram da crise do coronavírus.

Termos como doença (dez vezes), coronavírus (oito), Covid (sete) e pandemia (quatro) foram utilizados para tratar brevemente do tema ao longo de duas horas de reunião.

Levantamento feito pela Folha mostrou que só o presidente Bolsonaro disse 33 palavrões no encontro. Ao todo, foram 41, número consideravelmente maior do que o de menções à crise que já matou mais de 22 mil pessoas no Brasil.

Secretários estaduais de Saúde manifestaram espanto com o conteúdo da reunião. Um deles disse ter sentido náuseas ao assistir ao vídeo e afirmou que eles não têm coração e não sabem o que é uma UTI cheia de entubados. Ele preferiu não se identificar por temer represálias ao seu estado.

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Reunião ministerial comandada por Jair Bolsonaro em 22 de abril - Reprodução

"É lamentável uma reunião ministerial com aquele nível de debates e com aquele linguajar. Minhas reuniões do centro acadêmico eram mais organizadas. A pauta do país hoje tem de ser uma só: combate à Covid-19. Que logística a União tem a oferecer? Qual o caminho para a reabertura da economia? Qual previsão de diminuição dos casos? Se essas não forem as pautas de uma reunião ministerial nesse momento, o foco está completamente errado", diz Carlos Lula, secretário de Saúde do Maranhão.

"A reunião não tratou da pandemia, não tratou de estratégia no local que está prestes a se tornar o pior epicentro da pandemia do mundo. Não há o que comentar sobre uma reunião que não mobilizou o governo na pandemia. Espero que existam reuniões em que eles tratem disso", afirma Nésio Fernandes, secretário do Espírito Santo.

Nas poucas vezes em que a crise do coronavírus é citada, há distorções e imprecisões. O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, por exemplo, diz que naquele momento o pico da doença já parecia ter passado. Em 22 de abril, o Brasil registrou 165 mortes em 24h. Neste domingo (24), foram 653.

"Onde está a responsabilidade pública desses gestores? Não se vê o mínimo de compaixão por aqueles que estão sofrendo nas UPAs, aguardando serem entubados e com sorte chegar numa UTI, nem pelas famílias enlutadas", diz Fábio Vilas-Boas, secretário da Bahia, sobre a fala de Novaes.

Com Mariana Carneiro e Guilherme Seto