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Há quem transmita o novo coronavírus a dezenas de pessoas, pelo que o distanciamento social é importante. Praia da Costa de Caparica no domingo.
© EPA/ANTONIO COTRIM

'Supercontagiadores' existem e explicam um terço a metade dos infetados

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Investigação demonstra existência de pessoas com elevada sensibilidade à transmissão do vírus. E indica que os números do surto inicial foram muito superiores aos oficiais.

Investigadores espanhóis concluíram que entre um terço e metade das pessoas infectadas pelo Covid-19 no mundo estão relacionadas com pessoas supercontagiosas e comprovam que a origem de todas as estirpes atuais do coronavírus não é anterior a novembro de 2019.

A partir de uma amostra de 5 mil genomas do vírus, a equipa de Santiago de Compostela observou as mutações para reconstituir o comportamento do agente patogénico a partir da sua origem. E encontrou estes 'supercontagiadores', como lhes chama um dos cientistas - pessoas que propagam o vírus mais do que outras.

A descoberta "mais surpreendente e nova" do estudo foi demonstrar a existência e o impacto na pandemia de pessoas com elevada sensibilidade à transmissão do vírus covid-19. Até agora, a figura do supercontagioso "tinha sido discutida nos meios de comunicação social e de um ponto de vista epidemiológico", mas agora os investigadores demonstram com provas a sua existência ao detetarem estrangulamentos na diversidade do vírus, o qual é depois transmitido a um grande número de pessoas.

A partir daí, os autores inferem a presença de indivíduos supercontagiosos, neste caso algumas dezenas de indivíduos que infectam outros 20 a 30 e explicam metade desses 5 mil da amostra.

Em alguns locais, levaram ao que os geneticistas chamam tecnicamente de "efeitos fundadores locais", que resultaram em surtos locais ou nacionais.

O estudo foi realizado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Santiago de Compostela (USC) e do Instituto de Investigação em Saúde (IDIS), liderado pelo professor Antonio Salas e pelo chefe do Serviço de Pediatria do Complexo Hospitalar Universitário de Santiago, Federico Martinón.

"Entre as coisas positivas, vimos que houve pouca variação, que é estável, o que é melhor para as vacinas que estão a ser desenvolvidas funcionarem", explica Martinón.

Por outro lado, os investigadores da Galiza descobriram que a variabilidade genética do novo coronavírus corresponde ao que é esperado por um processo evolutivo natural.

Ou seja, os dados obtidos não são compatíveis com manipulações laboratoriais, "baseadas exclusivamente em teorias da "conspiração sem argumentos científicos".

Com base nos dados analisados, a equipa formada por Antonio Salas e Federico Martinón sugere a possibilidade de na primeira vaga da epidemia, cuja origem foi reportada em Wuhan, China, ter havido "muito mais casos do que os comunicados pelas autoridades de saúde".