Adolescentes e ansiedade -alerta covid-19
by rita castanheira alvesA adolescência é uma janela de oportunidades incrível. As neurociências ajudam-nos a "ver" que o cérebro adolescente tem uma grande plasticidade neuronal, estando numa fase de grande absorção e desenvolvimento, como não estará novamente.
No entanto, para que a maturação cerebral cumpra a sua função nesta fase de vida, há riscos e vulnerabilidades - uma delas é ao aparecimento de perturbações de ansiedade. Se pensarmos em termos de sobrevivência humana, esta (aparente) fragilidade tem uma função protetora pela conquista de independência desta fase: se "ando" mais fora do que é seguro e corro mais riscos, o cérebro lança mais alertas.
No contexto de pandemia, estamos mais expostos a fontes de stress e, tendo os adolescentes maiores riscos para aparecimento de perturbações de ansiedade, é fundamental que pais/mães/cuidadores estejam atentos: sinais de alerta e sintomas preocupantes; alterações significativas nos seus comportamentos, desadaptativas pela intensidade e/ou frequência (p.e. desinfetar-se com uma frequência muito superior à necessária ou como uma espécie de ritual); recusa total ou evitamento de saídas de casa; excessiva preocupação ou reação emocional face ao tema da pandemia ou saídas de casa; apatia e total isolamento; qualquer outra reação com impacto no funcionamento normal e adaptativo.
Especial atenção aos adolescentes com história de perturbação de ansiedade ou sintomas, para os quais a situação de pandemia pode ser um ativador ou um fator de manutenção dos sintomas.
Tal como na saúde física, o diagnóstico e a intervenção precoces na saúde mental garantem maior eficácia. Estejam atentos e peçam ajuda.
Pela saúde mental, (tente) conversar
Escolha um filme ou uma música sobre adolescência e convide o adolescente para verem ou escutarem juntos. Conversem sobre o tema, evitando críticas ou juízos. Aproveite para falar sobre o que têm sentido nestes meses. Sugiro que a partilha seja mútua, para que o adolescente tenha espaço para falar e em simultâneo saiba que os pais/adultos também têm dúvidas, incertezas e dificuldades. Juntos encontrem soluções ou procurem ajuda, se necessário.
*Psicóloga clínica