Estudo mostra que 40% a 60% das pessoas podem ser resistentes ao coronavírus
Um estudo publicado na revista especializada Cell, divulgado na imprensa francesa, mostrou que 40% a 60% das pessoas poderiam ser resistentes ao coronavírus, mesmo sem ter sido expostas ao vírus. Chamada de "imunidade cruzada", essa proteção existiria porque os indivíduos teriam sido contaminados, no passado, por vírus que provocam resfriados comuns de estrutura semelhante ao Sars-CoV-2, criando uma barreira natural contra a infecção.
O infectologista Kelson Veras explica essa possível resistência ao coronavírus comparando com a dengue.
"Por exemplo, quando você tem um tipo de dengue, que são quatro, pode desenvolver anticorpos que vão funcionar contra outro que você não se expôs ainda. Temos vários exemplos na área médica de situações semelhantes. Não temos na prática do dia a dia esses exames que são mais específicos para os outros coronavírus. Isso foi um estudo, pesquisa de ponto, de alto nível, que tem condições laboratoriais de identificar isso. Só lembrar a população que nós já convivemos há muito tempo com quatro coronavírus que causam resfriadinhos, a famosa gripezinha. Graças a esses coronavírus que o ser humano já está exposto há muito tempo é que, possivelmente, os anticorpos e células dirigidos contra esses coronavírus benignos vão ter alguma influência protetora em quem nunca teve Covid antes, caso venha contrair a doença", pontua o médico.
O infectologista diz que o estudo traz dados que permitem supor que, além do isolamento social, a "imunidade cruzada" possa estar contribuindo para o desaparecimento da doença.
"Há muito tempo estudando o comportamento dessa doença, eu já estava intrigado como é possível que a China com 1 bilhão e 400 milhões de pessoas, tendo apenas 84 mil casos confirmados, por mais que sejam subnotificados, como o país conseguiu se livrar da doença? isso me intrigava. A gente sabe que para ter a chamada imunidade de rebanho, ou seja para que a população fique protegida e o vírus desapareça de uma região, é necessário em torno de 50% a 70% da população se contaminar, ficar boa ou morrer, para que o restante que não foi contaminado, não seja exposto pelo desaparecimento do vírus naquela região. A França, por exemplo, tem 4,4% das pessoas testadas positivas e a epidemia já regridiu naquela região. A cidade de Nova Iorque com 2,3 % de pessoas positivas na população geral também conseguiu se livrar da doença", exemplifica o médico citando Manaus e Belo Horizonte, como cidades brasileiras onde há redução do número de pacientes internados com a Covid-19.
Graciane Sousa
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