Cinco Desafios para o pós-covid
by Jaime Quesado
Esta crise pandémica está a provocar profundas alterações na nossa economia e na nossa sociedade. Depois do Covid, será muito importante que o estado, as empresas, as universidades e os cidadãos em geral estabeleçam um novo contrato de competência e confiança que permita encontrar as respostas adequadas para um conjunto de problemas que se vão agudizar, com impactos incertos e complexos ao nível da cadeia de valor da economia e do equilibro da sociedade. Precisamos por isso de saber responder de forma colaborativa e inteligente com vários desafios a este mundo Pós Covid, dos quais destaco cinco:
1 – O DESAFIO DA SOLIDARIEDADE SOCIAL – São muitos os que fruto desta crise correm o risco de ficar para trás. Nem todos vão conseguir infelizmente voltar a reencontrar um contexto de estabilidade económica e serão precisos novos mecanismos de solidariedade social que permitam com dignidade e sentido de responsabilidade dar a todas estas pessoas um contexto de oportunidade para o futuro. Precisamos de uma verdadeira política integrada de inovação social que integre de forma positiva os nossos cidadãos num mundo novo em que não sendo iguais teremos que fazer os possíveis por ser menos diferentes;
2 – O DESAFIO DA NOVA COMPETITIVIDADE – As empresas vão precisar de reganhar a agenda da competitividade e da criação de valor. E o apoio do estado será fundamental para ativar este verdadeiro restart e reconnect das empresas. Um Programa para a Competitividade e Internacionalização tem que forçar dinâmicas efectivas de aposta na tecnologia, seja ao nível a concepção de ideias novas de serviços e produtos, seja ao nível da operacionalização de centros modernos rentáveis de produção, seja sobretudo ao nível da construção e participação activa em redes internacionais de comercialização e transacção de produtos e serviços. Só assim a Nova Competitividade será assegurada.
3 – O DESAFIO DA EXCELÊNCIA TERRITORIAL – Com esta crise, Portugal tem uma oportunidade única de potenciar um novo paradigma de cidades médias, voltadas para a qualidade, a criatividade, a sustentabilidade ecológica. Verdadeiros centros de modernidade participativa, que façam esquecer a dinâmica asfixiante das “âncoras comerciais” que são os modernos shoppings que dominam o país. Um Programa Territorial para a Modernidade é vital para dar conteúdo estratégico à ocupação das cidades médias e à nova vontade de também saber apostar no interior. Também aqui esta crise veio criar novas oportunidades para um país que tem que ser descoberto.
4 – O DESAFIO DA DIMENSÃO CULTURAL – Portugal tem uma forte cultura alicerçada no potencial histórico da língua. É um activo único. Um Programa Intelectual da Cultura Portuguesa tem que saber dinamizar de facto nos grandes circuitos internacionais a aptência pela prática e consumo dos muitos “produtos culturais” nacionais disponíveis. A “cultura da língua portuguesa” tem que ajudar na criação de valor para o nosso país e esta crise veio mostrar que temos que saber reganhar a agenda da nossa língua nas suas diferentes dimensões.
5 – O DESAFIO DA INTELIGÊNCIA COLETIVA – Tudo passa por no principio e no fim saber estar e participar. Impõe-se para o futuro uma cultura de participação colaborativa positiva e de uma verdadeira agenda de inteligência coletiva. Precisamos de reganhar a agenda de um sentido de confiança em que todos estejam disponíveis para terem uma intervenção individual marcada pelo sentido de responsabilidade cívica e liberdade criativa.
O “Next Normal” que aí vem vai obrigar cidadãos e instituições a um novo sentido de convergência económica e social. Nunca como agora vai ser tão importante regressar a um sentido de comunidade em que todos se revejam e estejam disponíveis para construir um novo percurso coletivo de inteligência competitiva com resultados positivos para o futuro de todos.
* Economista e Gestor – Especialista em Inovação e Competitividade