Em oito cidades da Baixada Fluminense, 1.680 profissionais de saúde venceram a Covid-19 e voltaram a trabalhar
by Cíntia CruzCom 24 anos de profissão e sete à frente de uma das maiores emergências da Baixada Fluminense, o cirurgião vascular Joé Sestello viveu os dois lados da pandemia. De diretor do Hospital Geral de Nova Iguaçu, virou paciente da Covid-19. Após nove dias internado, uma certeza: a de que a luta contra a doença deve ser intensificada. Na Baixada Fluminense, mais de 1.680 mil profissionais de saúde curados voltaram ao trabalho em pelo menos oito cidades.
— Fiquei de 27 de abril a 3 de maio em casa por videoconferência. Dia 4, já estava dentro do hospital trabalhando. Minha preocupação era que o processo de trabalho não fosse interrompido: compra de material, respirador, abertura de leito — conta o médico, que confessou ter sentido medo da morte: — A tomografia mostrou um comprometimento de 40% do meu pulmão. É um medo enorme de morrer. Um momento crucial para qualquer profissional de saúde é quando você percebe uma movimentação ao seu redor que você não quer que ocorra: a intubação. É uma mistura de medo e angústia. Você pensa em 15 mil besteiras, mas graças a Deus não precisei ser intubado.
Após a experiência com a doença, Sestello conta que voltou ao trabalho com mais determinação para somar na luta contra a Covid-19:
— Voltei com muito mais garra de tentar o que for melhor, e assim a gente tem feito, dando a melhor estrutura para o profissional de saúde.
O amor pela profissão é o que move a técnica de enfermagem Suelen Santa Fé, de 33 anos. Ela voltou à maternidade do Hospital Municipal Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo, em Duque de Caxias, onde trabalha há 11 anos, após ficar na unidade semi-intensiva de um hospital particular por dez dias. Seus pais foram contaminados e a mãe foi internada antes dela. Suelen conta que lutou muito para vencer a doença:
— Tive queda dos sinais vitais, minha pressão ficou a 7 por 4. O médico disse que eu poderia ser intubada a qualquer momento. Pedia a Deus para me levar porque não suportava mais, sentia dores — disse ela, que teve alta no dia 13 e volta ao trabalho nesta segunda-feira.
— Amo o que eu faço e estar no lugar do paciente me fez querer ser cada vez mais humana, me abriu os olhos de que eles precisam muito de nós da enfermagem, que é a base de um hospital — afirmou Suelen.
No Hospital Municipal de Magé, a técnica de enfermagem Juciara de Lemos Vicente, de 54 anos, conta que ficou 18 dias afastada. No período em que esteve doente, disse que chegou a repensar a profissão:
— A gente fica frágil e pensa em deixar a profissão porque tem medo de morrer. Mas, quando voltei, passei a entender melhor o paciente. Ter passado por essa doença só aumentou essa certeza de como somos importantes.