https://t2.tudocdn.net/345206?w=646&h=284

Empresas farmacêuticas recusaram plano da União Europeia para acelerar criação de vacinas

by

Há três anos a união europeia apresentou um plano para a acelerar e aprovar a criação de vacinas, que foi rejeitado por um grupo de empresas farmacêuticas.

O plano apresentado previa acelerar a criação e aprovação de vacinas contra patógenos como o novo coronavírus antes mesmo de um surto ou epidemia se espalhar. A proposta foi apresentada por representantes da comissão europeia que participam da IMI (Innovative Medicines Initiative, ou Iniciativa sobre medicamentos inovadores, em tradução direta – uma parceria público-privada cuja função é apoiar pesquisas de ponta na Europa), mas foi rejeitada por membros da iniciativa que fazem parte da indústria farmacêutica.

A informação sobre a negativa foi apresentada em um relatório publicado pelo Corporate Europe Observatory (CEO), que é um centro de pesquisas com sede em Bruxelas e que examina as decisões tomadas pelo IMI.

O argumento dos membros que apresentaram a proposta é que ela poderia “facilitar o desenvolvimento e a aprovação regulatória de vacinas contra patógenos prioritários, na medida do possível antes que ocorra um surto real”. No entanto, a ideia não foi aceita.

A proposta de financiamento apresentada em 2017 envolveria, entre outras medidas, uma análise de modelos de testes em animais para permitir aos reguladores maior confiança na aprovação das vacinas.

As atas de uma reunião do conselho de administração do IMI em 2018 revelam que, além do plano apresentado, o grupo rejeitou também uma proposta de financiamento de projetos com a Coalition for Epidemic Preparedness Innovations (Coalizão para inovações em preparação para epidemias), uma fundação que procura combater doenças como Mers e Sars.

"Embora o escopo de um tópico regulatório proposto pela comissão não tenha sido apoiado pelas indústrias da EFPIA, o tema da modernização regulatória é considerado muito importante pelas indústrias e será discutido mais detalhadamente", registra a ata.

O conselho de administração da IMI é composto por representantes da Federação Europeia das Indústrias Farmacêuticas (EFPIA) e os principais – e mais conhecidos – membros da iniciativa são GlaxoSmithKline, Novartis, Pfizer, Lilly e Johnson & Johnson.

Em resposta a publicação uma porta voz do IMI disse que as doenças infecciosas e vacinas são prioridades desde o início e destacou, para justificar, um projeto lançado em 2015 após a pandemia de Ebola, e que se concentra na biopreparação.

A porta voz destacou ainda que, na época, o tópico estava competindo com outros temas, que eram prioridades na ocasião, incluindo pesquisas sobre tuberculose e doenças auto-imunes. "O relatório parece sugerir que o IMI falhou em sua missão de proteger o cidadão europeu, deixando passar uma oportunidade de preparar a sociedade para a atual pandemia de Covid", disse ela. “A pesquisa proposta pela comissão no tópico de biopreparação era de escopo pequeno e focada na revisão de modelos animais e no desenvolvimento de simulações para melhor definir/antecipar o tipo e o nível de resposta imune desencadeada em animais e humanos”.

O relatório do CEO alega que a influência direta das grandes empresas farmacêuticas na agenda de pesquisa do IMI a levou a ser dominada pelas prioridades da indústria e a afastar doenças relacionadas à pobreza e negligenciadas, incluindo o coronavírus, por exemplo.