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Romeu e Julieta, de John Romão: A vertigem do amor

Para pensar sobre a velocidade do nosso tempo, John Romão recorreu ao texto de Romeu e Julieta, de Shakespeare. A estreia é na sexta, 14 de fevereiro.

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Não era intenção de John Romão, criador mais preocupado com as questões da contemporaneidade do que com visões autorais de textos canónicos, fazer uma nova encenação de Romeu e Julieta, a tragédia de Shakespeare sobre dois adolescentes que, em apenas cinco dias, numa vertigem, se conhecem, apaixonam e suicidam, por serem de famílias rivais, o que os proíbe de se amarem.

"Cheguei a esta peça porque queria pensar sobre a velocidade no nosso tempo, esta indefinição do lugar do corpo contemporâneo, que graças à tecnologia hoje consegue habitar vários lugares em simultâneo, ser omnipresente, estar num sítio a comentar outro, o que estava reservado aos deuses", explica o encenador, que aqui utiliza o texto original da peça, mas omitindo passagens e as figuras de autoridade: os pais e o príncipe da cidade, "assim reduzidos a uma sombra que paira sobre a narrativa", tal como o poder, os governos, a polícia, pairam sobre nós, impondo-nos limites, mesmo sem vermos parlamentos ou esquadras.

Restam, pois, Romeu e Julieta (João Cachola e Mariana Monteiro), os jovens primos e amigo, Tebaldo, Benvólio e Mercúrio (João Arrais, João Jesus e Rodrigo Tomás), a ama da heroína, "quase da mesma idade" (Mariana Tengner de Barros) e o Frei Lourenço (Matamba Joaquim), que fornece ao par romântico os meios para alcançar a morte, aqui entendida - como, de resto, já se entendia em Shakespeare, defende Romão - como "lugar simbólico de encontro, uma fuga e não um fim, uma hipótese de plenitude para lá do plano físico".

Assim, refletindo sobre a nossa sociedade "cada vez mais individualista, onde há mais solidão apesar de estarmos todos ligados e podermos sempre falar nas redes sociais", os atores representam "numa ilusória imobilidade, que na verdade remete para a velocidade da luz", obrigando o público a "reconfigurar as palavras e o que está a ver": no D. Maria II, a partir de 14 de fevereiro, há confronto, beijo, vida, morte... e (quase) nenhum movimento.

Romeu e Julieta
Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa
De 14/2 a 1/3
Quarta e sábado 19h; Quinta e sexta 21h; Domingo 16h

€9 a €16