Fábrica Confiança sem compradores na hasta pública da Câmara de Braga
by LusaA hasta pública para venda do edifício da antiga fábrica Confiança, em Braga, por pelo menos 3,6 milhões de euros, ficou deserta por falta de licitações.
O leilão promovido pela Câmara de Braga ficou sem propostas de compra, tendo sido apenas colocadas "algumas questões", informou fonte da autarquia esta sexta-feira.
A venda da fábrica, em processo de classificação como imóvel de interesse público, era contestada pela oposição e por uma plataforma cívica, que defendem a continuidade do imóvel na esfera pública.
O preço base da hasta pública era de 3,6 milhões de euros, o mesmo valor pago em 2012 pelo município para aquisição do edifício, desenhado por José da Costa Vilaça e inaugurada em 1921, tendo produzido perfumes e sabonetes até 2005.
Contactada pela Lusa, a Plataforma Salvar a Fábrica Confiança manifestou hoje satisfação pelo facto de a venda não se ter concretizado, frisando que a falta de licitações "só mostra que há muitas dúvidas" sobre o processo.
"Algumas delas foram hoje colocadas" na hasta pública, acrescentou a representante da Plataforma.
Para a Plataforma, outro comprovativo das dúvidas existentes é "o edital divulgado na quinta-feira, ao fim da tarde, com oito páginas", a acrescentar informação ao caderno de encargos da hasta pública.
A Lusa tentou também, sem sucesso até ao momento, obter comentários da Câmara de Braga sobre os resultados da hasta pública.
O município sublinhava ter elaborado um caderno de encargos que, "além de salvaguardar integralmente" a volumetria da antiga fábrica, previa a construção de um novo edifício destinado exclusivamente a residência universitária, com capacidade para 300 unidades de alojamento.
O documento apontava ainda para a criação, no edifício principal, de um centro interpretativo/museu da memória da Confiança e serviços de apoio à residência universitária.
O caderno de encargos foi elaborado após a aprovação do pedido de informação prévia (PIP), que contou com parecer favorável da Direção Regional de Cultura do Norte e do Conselho Nacional de Cultura.
A alienação do edifício é contestada por PS, CDU e Bloco de Esquerda, e também pela Plataforma Salvar a Fábrica Confiança, para quem o imóvel deveria continuar na esfera pública e ser convertido num equipamento cultural.
Alegam que será um "negócio da China" para o privado que comprar, já que pagará, em 2020, o mesmo valor que a câmara pagou em 2012 quando adquiriu o edifício.
Dizem ainda que o argumento da residência universitária é um "embuste", sublinhando que, "quando muito", o que poderá ali nascer será "uma residência para universitários", a preços elevados.
Criticam igualmente a alienação "do último reduto da memória industrial" da cidade.
A plataforma interpôs uma providência cautelar, aceite pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga, em que alega que há violação do Plano Diretor Municipal (PDM).
Segundo a plataforma, o que está previsto para o local não é uma residência universitária, mas sim "um empreendimento marcadamente imobiliário no mercado livre do alojamento, com uma eventual estratégia de marketing dirigida para o mercado universitário".
Sublinha que o PDM consagra aquela zona para equipamentos.
A providência cautelar suspende o PIP, pelo que, alerta a plataforma, um eventual comprador na hasta pública de hoje "não tem qualquer garantia" de poder construir no local.
A Câmara liderada pelo socialista Mesquita Machado chegou a abrir um concurso de ideias para o edifício, mas em 2013 a câmara mudou de mãos.
Em setembro de 2018, a nova maioria PSD/CDS-PP/PPM votou pela venda, alegando que, por falta de fundos disponíveis para a reabilitação, o edifício se apresenta em "estado de degradação visível e progressiva".