Câmara de JF aprova moção de repúdio a Paulo Guedes

Crítica foi feita à fala recente do ministro da Economia que chamou servidores públicos de ‘parasitas’

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A Câmara Municipal de Juiz de Fora aprovou na última terça-feira (11) uma moção de repúdio ao ministro da Economia, Paulo Guedes, por “ofender e agredir os servidores e o serviço público, classificando-os como ‘parasitas do estado’”. Validado com o apoio da maioria do plenário, a moção tem como autores os vereadores Juraci Scheffer (PT) – que capitaneou a movimentação, Ana Rossignoli (MDB), Antônio Aguiar (MDB), José Márcio (PV), Luiz Otávio Coelho (Pardal, PTC), Wagner França (PTB) e Wanderson Castelar (PT).

A moção entrou em votação na segunda-feira, mas sua apreciação acabou destacada por avulso solicitado pelo vereador Júlio Obama Jr. (PHS), ficando assim para terça-feira. Durante a deliberação, Garotinho, que é servidor de carreira da Prefeitura, considerou que a fala provocou reações adversas de funcionários públicos, de quem conhece funcionário público e de quem é parente de funcionário público.

“Sou funcionário público há 39 anos, completados agora em janeiro. Todos nós nos sentimos ofendidos por esta fala. Ontem (segunda, 10) esta discussão veio à tona nesta Casa e tomou uma coloração ideológica e partidária. Convido todos a excluir a cor partidária da discussão. Ocorreu que um ministro de Estado classificou uma categoria de trabalhadores, que representa 12% da população de parasita. Isto é, no mínimo, deselegante, agressivo, ofensivo e desqualificante.”

Ainda tentando tirar qualquer conotação política do repúdio, Garotinho pediu ainda que os pares fizessem um exercício de raciocínio e pensassem que um ministro de Estado de qualquer país classificasse determinada categoria de profissionais de seu país como “parasitas”. “Seja padeiros, médicos, professores, pedreiros ou todos pastores e funcionários de uma igreja. Isto não cabe a um líder ou a um gestor público. É totalmente fora do contexto e desconhecer o que é ser servidor público.”

Antônio Aguiar fez coro às palavras de Garotinho. “Qualquer indivíduo no exercício de qualquer função pública que desrespeite a nação, pois isto é um desrespeito ao trabalhador, merece um puxão de orelha”, considerou o emedebista. Para Wanderson Castelar, a fala do ministro pode ser considerada como um assédio e trata-se “de uma ofensa do ministro a um conjunto de trabalhadores do Brasil. “São milhões de pessoas que foram agredidas em sua dignidade e como cidadão”.

Proponente inicial da moção, Juraci Scheffer também condenou a fala do ministro da Economia. “Quando se fala de parasita, refere-se a verme. O servidor público não é uma lombriga.” Ana Rossignoli, que é servidora aposentada do Estado seguiu no mesmo tom. “Não consigo me calar. Não me considero um parasita. Parasita é uma sanguessuga. Aquele que sobrevive com os esforços dos outros. Aquele que sobrevive dos esforços dos outros. Trabalhei na educação por 45 anos. Será que o ministro sabe quanto recebe um professor?”, questionou. “Só pedir desculpas, não adianta. Palavras, o vento não leva tão fácil”, reforçou. Outro que adotou tom crítico foi Wagner França. “Não aceito as desculpas do Paulo Guedes. Um ministro não pode nunca falar contra qualquer categoria.”

Vozes contrárias

Por sua vez, André Mariano (PSC) defendeu que o ministro Paulo Guedes já havia se desculpado. “O ministro talvez tenha passado dos limites, mas se retratou e pediu desculpas.” Para o parlamentar, a moção tem por objetivo amplificar a fala de Paulo Guedes. “Eu não quero isso. Estamos vivendo um momento muito intenso politicamente em que as pessoas olham mais os erros do que os acertos”, considerou. Carlos Alberto Mello (Casal, PTB) foi outro que se posicionou contra a moção, apesar de considerar que o ministro tenha errado em seu posicionamento. “Para mim, esta discussão é ideológica sim.” André e Mello votaram contra a moção.

De acordo com o texto da moção, o repúdio da Casa legislativa juiz-forana deve ser encaminhado, entre outros, ao presidente Jair Bolsonaro; ao presidente do Senado, o senador Davi Alcolumbre (DEM); e ao presidente da Câmara dos Deputados, o deputado federal Rodrigo Maia (EM), além do próprio Paulo Guedes.

O caso

Na última sexta-feira (7), durante uma palestra, o ministro Paulo Guedes comparou funcionários públicos a “parasitas” ao defender a necessidade de realização de uma reforma administrativa no funcionalismo público. Entre outros pontos, Guedes criticou os reajustes automáticos de salários de funcionários públicos. “O governo está quebrado. Gasta 90% da receita toda com salário e é obrigado a dar aumento de salário. O funcionalismo teve aumento de 50% acima da inflação, tem estabilidade de emprego, tem aposentadoria generosa, tem tudo, o hospedeiro está morrendo, o cara virou um parasita”.

Após a polêmica, Guedes chegou a afirmar que a imprensa havia tirado sua fala de contexto e declarou reconhecer a qualidade do quadro de servidores. “Eu me expressei muito mal, e peço desculpas não só a meus queridos familiares e amigos, mas a todos os exemplares funcionários públicos a quem descuidadamente eu possa ter ofendido”, considerou Paulo Guedes já na última segunda-feira.