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Rui Pinto está detido em prisão preventiva desde março do ano passado
Foto: Mário Cruz/EPA

"Os denunciantes têm sempre necessidade de violar a lei", diz advogado de Rui Pinto

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Os advogados de Rui Pinto no caso "Football Leaks" reiteraram que o jovem gaiense continua disponível para colaborar com as autoridades portuguesas e que o seu lugar é em liberdade.

"Rui Pinto mantém a mesma disposição de colaborar com as autoridades portuguesas na luta contra o branqueamento de capitais e a corrupção", disse o advogado Francisco Teixeira da Mota, esta sexta-feira à tarde, numa conferência de imprensa sobre o português, alegadamente responsável pelas denúncias do caso "Luanda Leaks", que revelou esquemas financeiros da empresária angolana Isabel dos Santos. Questionado pelos jornalistas sobre se há alguma alteração ao estado dessa cooperação, Teixeira da Mota respondeu que não pode atestar que exista e que a "vontade de colaborar" de Rui Pinto ainda não foi discutida. "A partir do momento em que começar a ser discutida, saberemos em que termos."

Por seu turno, o advogado francês William Bourdon disse que o arguido, que vai ser julgado pela tentativa de extorsão à Doyen e acesso indevido a e-mails de diversas entidades, "não é um delinquente", mas sim "um grande denunciante que deve ser protegido": "É assim que ele é entendido por procuradores da Europa no âmbito do Eurojust".

O seu lugar é em liberdade, ao pé dos seus

"Não estamos preocupados se Rui Pinto é ou não é hacker, porque os denunciantes têm sempre necessidade, para revelar os factos, de violar a lei ou as regras, para os trazer ao conhecimento público", declarou Bourdon, que está a ponderar chamar outros denunciantes como testemunhas para apoiarem Pinto em julgamento. O causídico contou que, na Hungria, as autoridades francesas ofereceram a Rui Pinto a possibilidade de entrar num programa de testemunhas para denunciantes de casos de corrupção, mas que tal não foi possível, porque "foi preso no dia seguinte". E acrescentou que um telemóvel dado a Rui Pinto pelas autoridades francesas "está apreendido pelas autoridades portuguesas".

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"O que eu quero é limpar o meu nome e limpar o futebol", disse Rui Pinto a Bourdon, em 2018
Foto: FERENC ISZA / AFP

"O seu lugar é em liberdade, ao pé dos seus. Não há, na Europa, nenhum denunciante que esteja em prisão preventiva há quase um ano, como ele se encontra", reiterou, acrescentando que a defesa do português tentará desmontar a acusação de tentativa de extorsão, que considera "artificial", visando a sua absolvição.

Nunca pediu dinheiro à Doyen

Sobre a acusação de extorsão (entre 500 mil e um milhão de euros) ao fundo de investimento da Doyen Sports - que terá sido ameaçada com a divulgação de informação privada - Bourdon insistiu na ideia de que Rui Pinto "nunca pediu dinheiro" e que "desistiu voluntariamente". "Foi uma brincadeira de miúdos", descreveu.

Também presente na conferência de imprensa, Stefan Candea, coordenador da "European Investigative Collaborations" (EIC), disse que as "mais de 1500 histórias" publicadas pela rede de investigação "em mais de 20 países", nos últimos quatro anos, se basearam maioritariamente "em dados disponibilizados pelo denunciante português".

A conferência de imprensa, cujo tema é "Rui Pinto - o denunciante dos Football Leaks e dos Luanda Leaks", reúne os advogados do hacker português; o diretor do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, o editor de Mediapart, em representação do Consórcio Internacional de Jornalistas, o diretor da Plataforma de Proteção dos Denunciantes em África e a diretora executiva da "The Signals Network".

Acusado de 90 crimes

Rui Pinto assumiu, através dos advogados, que entregou discos rígidos à Plataforma de Proteção de Denunciantes em África, que permitiram a recente revelação dos "Luanda Leaks", documentos que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.

O gaiense, preso preventivamente desde março passado, no âmbito do caso "Football Leaks", está acusado de 90 crimes, de acesso ilegítimo, acesso indevido, violação de correspondência, sabotagem informática e tentativa de extorsão.