Carros elétricos: e quando a bateria arriar?

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Qualquer aparelho elétrico “autônomo”, ou seja, que não precisa estar ligado na tomada para funcionar, usa baterias que podem ser trocadas ou recarregadas. Um carro elétrico não é diferente. Sua bateria não poderia também ser trocada, ao invés de obrigatoriamente ter que recarregar?

Nos carros elétricos atuais, a bateria “faz parte” do veículo, sendo muito difícil a sua troca, que seria quase equivalente a uma “reforma” do carro. Mas, tecnicamente, não precisa ser assim: a bateria poderia ser empacotada em um módulo com encaixes que, com equipamento adequado, poderia ser retirado do carro, substituído por outro em dois ou três minutos e o motorista seguiria em frente.

As baterias retiradas seriam posteriormente recarregadas no próprio posto, fora do veículo, sem necessidade de equipamentos sofisticados. Os postos precisariam ter apenas o equipamento de troca, que seria padronizado para todos os veículos.

Com isso, o motorista poderia fazer a recarga em sua casa, mas não precisaria ficar esperando a recarga no posto (uns 30 ou 40 minutos de “recarga rápida”, parcial), nem necessitaria ter pontos especiais na garagem de casa, do prédio ou do estacionamento.

Além disso, a bateria integrada ao carro implica um problema que não tem sido ressaltado até agora: a vida útil do veículo. No Brasil, até 2018 inclusive, a frota circulante de automóveis era de 37 milhões de veículos[1], sendo que apenas 42% (15 milhões) tinha menos de oito anos de idade. A duração de uma bateria depende do seu uso, mas também do tempo decorrido. Quanto tempo essa bateria vai durar?

A maioria dos fabricantes[2] está dando garantia de oito anos e 160 mil km, com capacidade residual de 60%, para as baterias de seus veículos. Atualmente, o custo de uma bateria nova (50 kwh) seria da ordem de US$ 12.000[3] para o fabricante.

No Brasil, com tudo o que já conhecemos (impostos, taxas, etc.), o valor de uma bateria nova avulsa chegaria facilmente a uns R$ 90.000, sem instalação. Quando a bateria arriar, o carro todo virará sucata, pois o custo de substituição (uma bateria nova e cara, mais uma “quase reforma” no carro para instalá-la) não irá valer a pena. Ou seja, mais da metade dos carros em circulação no Brasil não estaria rodando.

Assim, comprar um carro elétrico com baterias integradas será um investimento alto de vida útil curta, que poderá ser viável para frotas ou esquemas de uso compartilhado, mas não o será para o consumidor comum.

Um carro com baterias trocáveis pode ficar um pouco mais pesado e caro, mas há boas soluções técnicas para minimizar isso. Podemos, então, imaginar dois cenários mais prováveis para o futuro mercado do carro elétrico:

Cenário 1, carro com baterias integradas ao veículo: vida útil vinculada à da bateria, muito cara. Viável apenas para carros de frotas ou esquemas de uso compartilhado, com sofisticada logística de recarga; poucos compradores para uso pessoal;

Cenário 2, carro com baterias trocáveis: vida útil independente da bateria e grande facilidade de recarga. Vendas principalmente para consumidores individuais, com forte mercado de baterias alternativas.
Qual o cenário que mais interessa a todos nós?

Em tempo: boa parte do que foi dito acima também se aplica aos patinetes e bicicletas elétricos de uso urbano, tão na moda, bem como a veículos híbridos.

(*) Ronaldo de Breyne Salvagni é professor do Centro de Engenharia Automotiva da Poli-USP e membro da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva.

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