Na vez do quebra-crânio, pais ajudam a viralizar “brincadeiras” perigosas
Todo ano aparece um novo "episódio" de violência viralizando, e muitas vezes quem apresenta a cena aos filhos são os próprios pais
by Paula Maciulevicius BrasilJá foi baleia azul, boneca momo e, agora o tal do "quebra crânio" ou "eu pulo, você pula". Nos grupos de WhatsApp de escolas e de mães, o que tem circulado esta semana são os "alertas" quanto a "brincadeira" de derrubar o colega no chão. No vídeo aparecem três adolescentes: os da ponta pulam e falam "eu pulo" enquanto o do meio só pula depois, e acaba levando uma rasteira dos colegas. O caso já gerou contrapartida de escolas municipais e particulares, no entanto, o que mais impressiona mesmo é que quem tem espalhado o assunto são os pais.
Você já deve ter recebido o vídeo onde crianças ensinam a "brincadeira", a notícia de uma morte no Rio Grande do Norte que pode ter sido por consequência da queda, ou o comunicado que a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia teve de fazer, sobre os riscos da queda, como a jornalista Kassandra Campos, de 36 anos, recebeu. Mãe de uma criança de 6 anos, ela procurou a imprensa para o alerta e também a escola depois que o filho chegou contando que ouviu de colegas de classe a frase: "eu pulo, você pula", dita no vídeo. No entanto, um dia antes disso acontecer, ela quem tinha mostrado para a criança as imagens, na intenção de alertá-lo. "Para que ninguém fizesse com ele e para ele também não fazer com ninguém", disse.
Quando o episódio aconteceu, a mãe ficou assustada e foi até a escola pedir que todos os alunos fossem orientados. "A família também tem que falar dos riscos que essa brincadeira de mau gosto causa. Meu Deus, e se eu não tivesse conversado com ele? Poderia acontecer?" se questiona a mãe.
As escolas, ao perceber toda a movimentação, já começaram campanhas de conscientização, como o vídeo abaixo, feito por alunos da Escola Etalívio Pereira Martins.
Superintendente de Gestão e Normas da Semed (Secretaria Municipal de Educação), Alelis Gomes, explica que o órgão tem orientado diretores e equipe técnica quanto ao trabalho de prevenção. "Estamos com uma semana de aula e ainda não tivemos nenhum caso", explica.
Na tarde de ontem, por exemplo, ela chegou a uma classe que estava discutindo o assunto. "O que estava em pauta era exatamente a preocupação que esta brincadeira está causando. E é brincadeira entre aspas, porque brincadeira não dói, não machuca, não fere. Estamos fazendo este trabalho, falando sobre afeto, carinho e respeito, para que as crianças sejam multiplicadores", ressalta. "Porque na educação trabalhamos sobre prevenção. E dependendo da forma como a gente coloca, pode estimular mesmo", observa Alelis.
Mãe, advogada e uma das fundadoras do coletivo Aldeia Materna, Fernanda Gomes de Araújo, também chama atenção para a histeria que os pais estão tendo diante do fato. "Na minha visão eu não passo um vídeo desse, primeiro porque sei que as crianças têm acesso a celular e às vezes, na ânsia de mostrar para o meu filho, eu posso despertar uma reação contrária: 'ah, deixa eu ver se eu consigo, eu acho que não é assim'", exemplifica.
Ela ainda cita que crianças e adolescentes que ainda nem estão sabendo acabam avisados pelos próprios pais. "Eu não mostrei para o meu filho. Só falo que existem brincadeiras que a gente não pode fazer, porque tenho esse receio: será que mostrando não estamos instigando? Eu sempre falo: 'você manda o seu filho para a rua? Não, então porque você deixa na internet? A internet é um mundo", comenta.
Psicóloga, Simone Cougo, caminha na mesma linha de pensamento e reforça que é necessária a comunicação clara entre pais e filhos sobre os riscos. "Teve adolescente que de fato morreu por conta disso, e essas situações fortalecem a necessidade de profissionais especialistas neutros facilitando a comunicação entre famílias, escolas e pais", reforça.
Até a tarde de ontem a Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude) não tinha recebido nenhum registro de boletim de ocorrência quanto ao fato. Nas palavras da delegada Ariene Murad, o caso requer alerta dos pais e orientação. "Crianças e adolescentes devem ser orientadas principalmente em relação ao respeito ao outro, a formação da autocrítica e evitar divulgação inconsequente de vídeo para não estimular aqueles que já tenham tendência a praticar esses tipos de conduta", frisa.
Havendo previsibilidade de uma lesão corporal, a depender do caso, pode ser que o adolescente venha a responder por ter praticado ato infracional.
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