Benedito Antonio Luciano: A Nona Sinfonia de Beethoven

by

Escrita durante os últimos anos de vida do compositor alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827), a sinfonia número 9, em Ré-Menor, Opus 125, ficou conhecida como a Nona Sinfonia de Beethoven ou simplesmente a Sinfonia Coral. 

Concluída em 1824, doze anos após a sétima e oitava, a Nona Sinfonia foi dividida em quatro movimentos: os três primeiros são de caráter instrumental e no último movimento foi introduzido o canto coral, o que serviu para influenciar outros compositores como Berlioz, Wagner, Brukner e Mahler. 

O primeiro movimento (Allegro ma non troppo, um poco maestoso) começa como se os naipes orquestrais estivessem em processo de afinação. Em uma orquestra, os naipes são compostos por: cordas (violinos, violas, violoncelos e contrabaixos), madeiras (flautas, oboés, clarinetas e fagotes), metais (trompas, trompetes, trombones e tubas) e percussão (tímpanos, pratos, bombo e afins). 

No segundo movimento (Molto vivace), o padrão é ternário, ou seja, a primeira unidade de tempo é forte enquanto que a segunda e a terceira são fracos.   Os tempos são partes do compasso. O compasso é a divisão da música em pequenas partes de duração igual ou variável. De acordo com o tempo, os compassos podem ser binário, ternário e quaternário.

No terceiro movimento (Adagio molto e cantabile) destacam-se os sons das trompas, dos fagotes, clarinetas, trompetes e flautas. As cordas são tocadas com os arcos e dedilhadas (“pizzicato”, termo italiano que significa “beliscado”), produzindo um efeito agradabilíssimo aos ouvidos. 

O quarto movimento é baseado no poema de Johann Christoph Friedrich Von Schiller (1759-1805). E não é preciso saber alemão para sentir que ele é, de fato, um “Ode à Alegria” (An die Freude), um cântico de esperança, de júbilo, de exaltação dos melhores sentimentos do homem, da paz e da felicidade. 

Conforme a opinião do meu filho Pablo Luciano, o ouvinte se comove porque outra não pode ser a resposta quando se está diante de tamanha beleza. Com absoluta alegria, fica-se sabendo que, ao menos uma vez, a humanidade foi capaz de atingir à suprema perfeição.

Hoje, se alguém me perguntasse se na minha vida eu tive algum momento de transcendência, eu responderia que foi no Teatro Municipal Severino Cabral, em Campina Grande – PB, em 20 de dezembro de 2002, quando a Orquestra e o Coro Sinfônico da Paraíba, em conjunto com o Coro em Canto da Universidade Federal de Campina Grande, apresentaram a Nona Sinfonia, sob a regência da maestrina cubana Elena Herrera.

No dia anterior, a apresentação havia ocorrido no Centro Cultural, em João Pessoa – PB. Talvez, devido à tensão da estreia, como integrante do naipe dos baixos, eu me preocupei apenas em cantar de acordo com a partitura, atento aos movimentos da maestrina, em particular no tocante às entradas e pausas, mantendo a impostação adequada da voz para atingir as notas mais altas. 

Em Campina Grande, superado o nervosismo da estreia, pude entrar no clima da música e ter o privilégio de experimentar todo o esplendor da Nona Sinfonia. Em certo momento, enquanto a orquestra tocava e os naipes aguardavam o momento da entrada, tive a sensação que algo além do meu corpo e da minha mente se projetava para além do palco, da platéia e do prédio do teatro: era a transcendência à qual me reportei.