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Lixo ficou acumulado na entrada da Cinemateca, na Vila LeopoldinaCrédito: Leandro Gouveia / CBN

Acervo da Cinemateca Brasileira foi afetado pela enchente em São Paulo

A água chegou a cerca de um metro de altura no galpão da Vila Leopoldina, na Zona Oeste da capital paulista. Entre os itens que estão no depósito estão cópias de longas, curtas e cinejornais. Até agora, a direção não falou sobre o assunto.

Por Leandro Gouveia (leandro.gouveia@cbn.com.br)

Quando o galpão da Cinemateca Brasileira, na Vila Leopoldina, foi inaugurado, em 2011, o então diretor, Carlos Magalhães, demonstrou preocupação com os frequentes alagamentos na região. Em entrevista à Folha de São Paulo, na época, ele disse que, por precaução, os filmes ficariam no mezanino. Quase nove anos depois, a água da chuva não só entrou no galpão como atingiu parte do acervo.

No local, estão principalmente cópias de longas e curtas-metragens de várias épocas, além de cinejornais. Segundo uma fonte da CBN, ainda não é possível saber a dimensão dos danos. Algumas películas que estavam dentro de latas ficaram intactas, mesmo depois de submersas. Por outro lado, também é possível que filmes danificados não tenham mais as matrizes que geram as cópias e tenham se perdido pra sempre. O acervo documental, que inclui cartazes, roteiros e contratos, não foi afetado.

Desde terça-feira, depois que a água baixou, funcionários estão limpando o galpão e trabalhando na triagem do material. A reportagem CBN esteve no prédio nesta quinta-feira. Sem saber que estava sendo gravada, uma funcionária disse que foi orientada a não dar nenhuma informação.

Da recepção da Cinemateca foi possível ver caixas de papelão destruídas, embalagens de equipamentos e um arquivo de aço acumulados. No térreo, funcionários com máscaras trabalhavam na análise de fotografias e livros doados, de menor valor histórico.

O galpão foi criado por causa da falta de espaço na sede, que fica na Vila Clementino, na Zona Sul da capital. Os materiais atingidos pela água foram pra lá em 2015 por causa de uma reforma no prédio principal e não voltaram por falta de verba e funcionários. Especialistas em cinema e preservação ouvidos pela reportagem disseram que a instituição funciona como uma caixa-preta e que não sabem o que está no galpão.

A Cinemateca Brasileira é administrada desde 2018 pela Associação Comunicativa Roquette Pinto. Em dezembro, o governo Bolsonaro rompeu o contrato com a organização social, que também era responsável pela TV Escola, e desde então a gestão funciona por meio de um contrato emergencial.

Desde terça-feira, a CBN solicita informações à associação sobre a dimensão dos danos causados pela água, mas até agora não houve resposta. A Secretaria Especial de Cultura, ligada ao Ministério da Cidadania, também não quis se posicionar. Depois de ser alertada pela CBN, a diretoria da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual solicitou informações sobre a enchente à Cinemateca.

Em 2016, a sede da Vila Clementino sofreu um incêndio que destruiu cerca de mil rolos de filmes da década de 40.

Atualização 15h

Após a veiculação da reportagem, a Secretaria Especial da Cultura, ligada ao Ministério da Cidadania, enviou uma nota. Leia na íntegra:

A Secretaria Especial da Cultura informa que está sendo feita a avaliação dos danos decorrentes da inundação dos dias 9 e 10 de fevereiro. Informações preliminares da Cinemateca Brasileira indicam que foram atingidas apenas cópias de difusão, sem prejuízo à memória do cinema brasileiro.