Aprovado em medicina na UFSC, ex-faxineiro uniu plataforma digital, bilhetes e cartas para desenvolver técnica de estudos
Bruno Eulálio Santos, de 20 anos, juntou conteúdos online e criatividade em cards para driblar a falta de tempo.
Em Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina, o calouro Bruno Eulálio Santos, de 20 anos, conseguiu passar no vestibular para medicina da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Para driblar a rotina entre trabalho e estudos, ele utilizou plataformas digitais e anotava em pequenas cartas um resumo de algumas palavras e perguntas, o que era mais importante em cada lição.
Estudante de escola pública, ele terminou o ensino médio em 2016 e foi trabalhar em um lava-jato na favela do Ressaca, em Contagem (MG). Depois, mudou para Santa Catarina com a irmã mais velha, contanto que ele se comprometesse a estudar.
"No início de 2018, eu estava trabalhando em um hospital particular, em Balneário Camboriú, de faxineiro. Naquela época eu já estudava, mas não queria medicina. Mas, vendo a rotina e convivendo com o pessoal comecei a pensar nessa área. Passou um tempo e o pessoal do hospital me deu a oportunidade de trabalhar de jovem aprendiz na área de gestão de exames do hospital. Tive a oportunidade de trabalhar em uma área menos pesada, que exigia menos tempo. Foi quando vi a oportunidade que eu precisava”, disse.
Ele lembra que, para começar, recebeu a indicação da namorada para utilizar uma plataforma por assinatura com um modelo online de estudos, por meio das operações desenvolvidas pela startup EdTech Descomplica.
"Não sabia muito bem como estudar, depois que ela me indicou foi tipo um norte para eu estudar para uma prova tão concorrida como a do Enem. Daí comecei a estudar online e recebi o suporte. Eu não tinha tempo para pagar o cursinho e muito menos tempo para fazer o cursinho, porque demanda muito tempo de deslocamento, e eu não tinha como largar o emprego", afirmou.
Durante esse período, ele tentava adaptar o conteúdo para conseguir estudar. Entre os métodos, ele montou um mural com mais de 300 bilhetes colados em um painel no quarto. "Em casa eu estudava todos os dias quando eu chegava do trabalho".
Ele também aproveitava o tempo de deslocamento até o local onde trabalhava. "Eu comecei a usar a criatividade para inventar algum método para estudar enquanto estava no ônibus, por exemplo, quando eu saía de casa para fazer algo também dava para estudar".
Entre os processos desenvolvidos, Bruno fez mais de 1300 cartas com perguntas direcionadas para lembrar do conteúdo, as chamadas "flash cards", baseadas nas semanas de estudo a partir do conteúdo que estava na plataforma online. Cada bloco de cartas, no formato adaptado para carregar dentro do bolso da calças, tinha recomendações práticas para o momento da prova e frases de incentivo.
Bruno explica que quando terminou o contrato com o hospital, em março do ano passado, ele se dedicou aos estudos com a ajuda da irmã para manter a casa.
"Resolvi focar nos estudos e tive mais tempo para trabalhar a mente. Eu não recomendo para ninguém essa jornada de estudante e de trabalho. Eu acho que tudo depende de uma necessidade, eu não posso falar que foi fácil e que 'nossa, foi flores fazer isso concomitantemente'. Mas, se é uma necessidade da pessoa, igual foi uma necessidade minha, a pessoa pode ter recursos e tem como fazer. Agora se ela pode escolher em ficar em casa e estudar para prestar um curso concorrido, eu não posso falar para ela ir trabalhar porque será a mesma coisa, porque não vai".
Com dois anos de estudo, Bruno conseguiu passar no vestibular no processo seletivo pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2020. As lições que aprendeu durante os estudos para o vestibular, ele também passou a divulgar nas redes sociais, com dicas e orientações.
Até o início do curso, ele explica que irá precisar voltar ao mercado de trabalho. "Preciso arrumar algo que bate até com o horário da faculdade como dar aulas particulares", disse. Na UFSC, em Florianópolis, o curso começa em agosto para o segundo período. "Estou esperando abrir os editais de bolsa permanência do segundo semestre para poder ficar na moradia estudantil", planeja.
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