Pai achado carbonizado rejeitava união de filha e ofereceu imóvel, diz tia
by Yala SenaUma relação conturbada, mas que vinha melhorando nos últimos anos. Assim duas familiares definem a relação entre o comerciante Romuyuki Gonçalves, 43, e a filha Ana Flávia Menezes Gonçalves, 24. A jovem está presa desde quarta-feira, suspeita de ter matado o pai, a mãe (Flaviana Gonçalves) e o irmão (Juan Gonçalves) em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Os corpos foram encontrados carbonizados no porta-malas de um carro.
Em entrevista ao UOL, Francisca de Sousa Ferreira, tia de Romuyuki, explica que pai e filha estavam em conflito nos últimos anos por causa do relacionamento de Ana Flávia com Carina Ramos, que também está presa suspeita de participação no crime e que, segundo a polícia de São Paulo, era casada com Ana Flávia. A defesa das suspeitas alega que elas são inocentes.
Francisca explica que o sobrinho chegou a comprar um apartamento para a filha, deu um carro e pagava uma mesada, mas fez uma exigência: não queria que Carina frequentasse a casa onde Romuyuki morava com Flaviana em Santo André (SP).
"Ele não queria que ela (Carina Ramos) frequentasse a casa dele. Ele não gostava dela e não confiava. Por isso, ele deu um apartamento para a filha, além de mesada, carro. Ele ajudava bastante, fazia tudo pra ela. A vida dele era para os dois filhos", conta Francisca, que mora no Piauí.
Romuyuki é natural de Cocal do Piauí (a 268 km de Teresina) e morava em Santo André havia 40 anos. A tia, que é piauiense, mantinha contato com o sobrinho e disse que ele tinha dificuldade de aceitar que a filha era homossexual e não tinha uma boa relação com Carina.
De acordo com a tia, ele teria comprado também duas lojas de perfumaria em shopping para que a filha e a mãe administrassem.
Francisca lembra que Romuyuki esteve em Cocal do Piauí há três anos e sempre vinha passar férias no estado. Segundo a família, ele era chefe-executivo de uma concessionária em São Paulo. Em 2016, o comerciante lançou um livro chamado "Adaptação às mudanças em tempos acelerados".
Crime por herança?
A família de Romuyuki está atônita com a crueldade do assassinato. A tia acredita que o crime foi motivado pela herança do casal e recusa a versão de Ana Flávia de que os pais foram mortos por dívida de agiotas.
"Ele não precisava de agiota. Sempre foi um rapaz trabalhador, não tinha problema com dívidas. Foi um crime cruel, imperdoável e foi por ganância, por herança", disse Francisca.
Segundo ela, Ana Flávia estudou em bons colégios e sempre que podia viajava com os pais. Na última conversa que teve com o sobrinho, Francisca diz que Romuyuki estava passando a aceitar o relacionamento da filha. "Eu não ando na casa dela, mas a convivência era boa e vou relevar o que ela faz", teria dito o comerciante à tia.
Prima de Romuyuki, a funcionária pública Tárcila Gonçalves, 24, lembra que ele sempre foi um pai presente. "Parecia que estava tudo bem, ele sempre ajudou ela", disse a prima que classificou como crime "surreal" e "bárbaro".
Avó de Romuyuki não sabe de mortes
A avó de 90 anos de Romuyuki ainda não sabe da morte do casal e do bisneto. Ela tem problema cardíaco e a família decidiu não contar. De acordo com Francisco, a família evita, inclusive, ligar a TV e proibiu que as pessoas contem a ela.
O UOL tentou contato com o advogado Lucas Domingos, que defende Ana Flávia e Carina, mas não conseguiu localizá-lo. Ontem, o advogado falou com a imprensa e disse que as duas negam participação e autoria no crime.