Série de Gwyneth Paltrow mistura tudo ao tratar de bem-estar
Tudo funciona, no fim, como uma grande propaganda para a empresa da atriz
by Carol NevesA atriz Gwyneth Paltrow deu uma guinada na carreira depois que criou, em 2008, a Goop, empresa de life-style. No início era uma newsletter, virou um site, passou a vender centenas de produtos, ter uma revista, podcast e agora chega à Netflix, em uma série de seis episódios.
O negócio da Goop está na moda: bem-estar. Nas palavras de Paltrow, a ideia é a "otimização do eu". Na abertura da série, sentada com os empregados da Goop, ela explica: "Estamos aqui uma vez, por uma vida. Como podemos, de fato, aproveitar o máximo?".
Não é só ela, claro, mas Paltrow conseguiu aproveitar muito bem esse momento em que as pessoas estão se voltando para todos os lugares em busca de respostas. E na Goop qualquer conselho, método ou alternativa aparece como possivelmente útil.
Antes de cada episódio, aparece o aviso legal de que a intenção é entreter, informar, mas não se trata de um conselho médico. Um protocolo para lavar as mãos.
No primeiro episódio, a série trata do uso medicinal e terapêutico de drogas psicodélicas. Há uma mistura depoimentos de pessoas que utilizam substâncias como MDMA para tratar estresse pós-traumático com a experiência vivida pela equipe de Paltrow, que viaja para Jamaica para fazer uma terapia regada a chá de cogumelo. Parecem coisas diferentes? Porque são. A série mistura de maneira premeditada ciência real que está testando fronteiras com a experiência frívola dos funcionários de Paltrow.
Os depoimentos dessas “pessoas comuns”, que não têm ligação com a empresa, soam quase como intertítulos. Eles aparecem sentados, sozinhos, com o laboratório ao fundo. As pessoas não sentem que tratamentos tradicionais estão atendendo todas suas necessidades e daí nasce uma frustração, que é real.
Esses momentos podem dificultar nessa análise do que é real e do que não é, mas o principal é que no fundo a Goop não está muito preocupada com isso. A intenção é embrulhar e oferecer a resposta, seja ela qual for.
Algumas partes funcionam bem quase à revelia. A educadora sexual Betty Dodson protagoniza um episódio sobre o prazer feminino. Militante de 90 anos e com longo histórico na área, ela empresta seu carisma à história e ajuda a fazer essa cerca de meia hora ser educional e também entreter.
É uma série bem produzida, Paltrow funciona razoavelmente bem como guia e é possível ver o apelo, o que talvez seja até pior. Cada episódio só traz convertidos e reconvertidos, mostrando que tudo pode funcionar – a equipe dá uma franzidinha de rosto aqui e ali, mas ao final tudo parece uma promoção sem maior responsabilidade do que é apresentado. O enredo faz com que as técnicas, da plausível ao potencialmente nocivo, pareçam igualmente atraentes.