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O filme Diamante Bruto

A jóia da Netflix que ficou barrada nos Óscares

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Obra-prima dos irmãos Safdie, Diamante Bruto, ficou fora dos Óscares mas é o objeto sensação do momento. É também a obra-prima de Adam Sandler, que no drama é um dos maiores de Hollywood. Chega esta sexta à Netflix.

É o filme do ano para muito boa gente. A obra que consagra os irmãos Safdie como estrelas pop do cinema independente americano. Não está nos Óscares por preconceito, mas figurou na lista dos melhores do ano (2019) das melhores publicações e está cheio de nomeações nos Independent Spirit Awards.

A história de um negociante de jóias do Diamond District de Nova Iorque, um Adam Sandler memorável a dar vida a alguém numa descida aos infernos morais. A personagem, mesmo com todas as falhas de caráter e com um vício ilógico ao jogo, faz um pacto com o público. Um pacto de sobrevivência perante pequenos mafiosos, rappers estrelas mundiais, droga e uma estranha jóia vinda de África.

Os Safdie estão, afinal, a filmar um agoniante caminho para a morte e uma cidade tão elétrica como a Nova Iorque que lembra a cidade dos melhores filmes de Abel Ferrara. Mas neste caldeirão que pronuncia uma explosão há uma temperatura que também lembra um certo cinema dos anos 1970, em particular a emergência de John Cassavettes - já era assim no anterior, Good Time.

Concebido como uma peça de suspense interminável, Diamante Bruto funciona como um extremo convite para a subida de tensão do espetador. Um ataque de nervos que é proposto também pela respiração ofegante de Adam Sandler, porventura o maior injustiçado das nomeações dos Óscares. Este é o Sandler do tempos de Baumbach e P.T. Anderson, não é o Sandler das péssimas comédias idiotas. Ator perfeito para esta sinfonia de neurose americana e dos nossos dias a abrir. O filme deixa-se ir nessa aceleração sem freio e passa para nós uma força que contagia. O público só tem de ir na corrente.

Ao contrário da primeira fase do cinema dos Safdie, agora os irmãos preferem criar e redescobrir um tom só deles, algures entre a respiração épica e um fôlego singular. Aqui, conseguem ainda algo inovador: passar da comédia à tragédia com uma crueldade que se torna pungente. O peso e a angústia deste homem em perda é também uma reflexão sábia daquilo que o dinheiro pode fazer às pessoas. Neste caso, uma prova de vírus incontrolável.

Na apresentação, na estreia mundial no TIFF, Josh e Benny Safdie diziam que esta história era verdadeira e baseava-se num "dealer" de diamantes que conheciam. Isso faz sentido: a cultura dos negociantes de joias e diamantes judeus é das coisas mais fechadas. Os Safdie tiveram acesso e levam-nos para um mundo que o cinema nunca explorou. A viagem mete medo, diverte-nos e deixa-nos num caco emocional. Mas também é impossível não vibrar com a maneira como constroem a profundidade do campo do plano, sempre com um dinamismo em contraponto: personagens a entrar e a sair - coreografia em pele viva.

**** Muito bom