Onde “chuva é tsunami”, moradores fazem barragem para não perder tudo

“Parece que cada vez mais a minha casa vai afundando”, disse mãe de 6 crianças, moradora do Jardim Canguru

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A barragem improvisada de concreto é a única divisão entre o tsunami de chuva e a casa de Marileide (Foto: Marcos Maluf)

Não tem asfalto ou sistema de drenagem e escoamento. A rua, nessas casas, pode ser vista de cima. Por ali, onde as vezes mais de 5 dividem um cômodo, as casas ficam abaixo do nível da rua. O cenário é, nessa época, a matemática perfeita para que o grande volume de água da chuva invada a casa como um tsunami. É o Jardim Canguru, ponta sudeste da cidade, entre as ruas Betoia e Caruru.

Na área onde a chuva é chamada de "tsunami" pelos moradores, surge uma espécie de guerrilha da chuva. Acostumados à falta de estrutura e ao “resolver sozinhos”, até barragem improvisada com entulho vira tática especial para não perder o que foi conquistado com muito custo.

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Onde fica a rua de lama e onde fica o quintal? Tudo vira enxurrada quando chove (Foto: Marcos Maluf)

Moradora da Rua Betoia, Marileide Alves Aguilar, 43, é dona de casa e é onde vive que uma barragem com restos de construção teve de ser feita no próprio quintal para impedir que a água invada, com violência, o interior da casa. A barragem, por ali, é a única estrutura que separa a enxurrada do quarto onde dorme o filho de Marileide, que é cadeirante.

A rua recebe toda a enxurrada que vem da Rua Caruru. “A água bateu na parede no muro e passa para dentro, deixa infiltração. Quando chove a gente já se prepara para levantar os móveis porque sabemos que a chuva vai molhar, ontem não consegui levantar todos os móveis e molhou meu guarda roupa e algumas roupas”, disse.

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Pra criançada, nem a chuva impede a correria de brincar (Foto: Marcos Maluf)
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O que separa o quarto do filho cadeirante da água da chuva (Foto: Marcos Maluf)

Do lado de foram, ela mostra a divisão entre o quintal e o quarto do filho com entulhos. “Quando chove a gente fica trancado em casa”, lamenta, já que o filho, pessoa com deficiência, precisa ainda mais da estrutura esperada há anos. Nos fundos, ainda vive a família de outro filho.
“As duas alagam”, admite. A água da rua passa pra dentro e vai direto para casa do fundo, comentou.

“Minha casa está afundando” - Dona de casa e mãe solo – as mães que levam nas costas a exaustão de criarem os filhos sem ajuda dos pais – Fabiana Vicente, 34, divide um só cômodo com seis crianças. Limpou a casa até meia noite, nesta madrugada, depois da chuva invadir o espaço. Perdeu boa parte da compra de mercado, em especial o que estava armazenado na parte inferior da geladeira.

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A porta que não se abre mais para que a água da chuva não entre (Foto: Marcos Maluf)

“Molhou geladeira, a cama, e tinha feito compras e estava tudo na geladeira, perdi verduras e coisas na parte inferior”, contou. “Parece que cada vez mais a minha casa vai afundando. Piorou quando começaram a fazer muros [na Rua Caruru], a água desce e não encontra barreira”, diz.

Ao fim de tanto desgaste, entre a rua de terra batida – mas que segundo os moradores discrimina taxa de pavimentação no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) -, Fabiana decidiu cimentar a porta lateral de casa. Para conter o tsunami.

A reportagem pediu informações sobre obras no bairro e sobre o IPTU dos moradores e aguarda resposta.

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