Primeira sexta-feira de oração muçulmana em Jerusalém desde 'plano Trump'
Jerusalém, 31 Jan 2020 (AFP) - A Polícia israelense mobilizou reforços em Jerusalém, nesta sexta-feira (31), ante a primeira oração semanal na Esplanada das Mesquitas desde o anúncio do plano de Donald Trump para resolver o conflito no Oriente Médio, que foi radicalmente rejeitado pelos palestinos.
Um dos motivos de rejeição é o estatuto de Jerusalém, cuja parte palestina está ocupada e anexada por Israel, mas que Washington estima, em seu plano, como a capital "indivisível" do Estado hebreu.
Pouco antes da oração da madrugada, a Polícia dispersou palestinos que gritavam palavras de ordem "nacionalistas" na Esplanada das Mesquitas, onde se espera milhares de fiéis hoje para a grande oração de sexta-feira.
A Polícia disse estar disposta a intervir, "se for necessário".
O projeto dos Estados Unidos também prevê a anexação das colônias israelenses e do vale do Jordão, território palestino ocupado desde 1967.
Segundo autoridades israelenses, esses projetos de anexação serão apresentados no domingo pelo governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
A situação não parece tão clara.
Estas colônias podem ser anexadas "sem demora", afirmou o embaixador dos Estados Unidos em Jerusalém, David Friedman.
O arquiteto do projeto americano, Jared Kushner, genro e conselheiro de Trump, expressou o "desejo de que (o governo israelense) espere para depois das eleições" legislativas de 2 de março em Israel, para anexar os setores estabelecidos no plano.
As duas opções não questionam o projeto de anexação do vale do Jordão, para onde o Exército israelense já enviou reforços esta semana.
- Foguetes -A mobilização militar no Jordão corrobora a ideia de uma rápida anexação deste vale agrícola, que ocupa 30% da Cisjordânia e é delimitado pela fronteira com a Jordânia.
As fontes militares asseguram, contudo, que esta mobilização está relacionada com as manifestações palestinas.
Desde terça-feira, os confrontos entre manifestantes palestinos que protestam contra o plano dos Estados Unidos e as forças israelenses deixaram pelo menos 30 feridos palestinos na Cisjordânia. Os protestos têm sido limitados, porém.
Na Faixa de Gaza, geograficamente separada da Cisjordânia e controlada pelos islamistas do Hamas, milhares de palestinos se manifestaram nos últimos dias.
Em Gaza, os manifestantes levavam uma faixa com a inscrição "La lisafqat al-Qarn ("Não ao acordo do século", tradução do árabe em português)", uma alusão ao plano Trump, que prevê "desmilitarizar" Gaza e uni-la mediante um corredor com a Cisjordânia amputada.
Hoje, o Exército israelense anunciou ter lançado um bombardeio contra alvos do Hamas na Faixa de Gaza, em represália por disparos, poucas horas antes, de foguetes do enclave palestino contra o sul de Israel. Não houve vítimas e os lançamentos de foguetes não foram reivindicados.
- "Traição" -Os líderes palestinos, que não participaram da elaboração do plano Trump, condenaram o projeto de forma unânime. Segundo eles, o texto foi redigido com base nos interesses de Israel e buscaram apoios internacionais por sua causa.
Salvo Irã - grande inimigo de Israel - e Turquia, ferrenho defensor da causa palestina, as monarquias do Golfo e outros países árabes, como Egito ou Jordânia, acolheram o plano, mas sem grandes críticas.
Nesta sexta, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou alguns países árabes de "traição", por ficarem "em silêncio" diante do plano americano.
"Os países árabes que apoiam um plano semelhante traem Jerusalém e seu próprio povo, e algo mais importante: toda humanidade", disse Erdogan durante um discurso para integrantes de seu partido, o AKP, em Ancara.
"A Arábia Saudita está silenciosa. Quando você fará ouvir sua voz? Omã, Barein, igual. O governo de Abu Dabi aplaude. Vergonha! Vergonha!", declarou Erdogan.
"A Turquia não reconhece nem aceita este plano que destroça a Palestina e se apodera de Jerusalém", insistiu.
"Jerusalém é nossa linha vermelha", sentenciou o presidente turco.
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