Livre sobre divórcio: "É um momento difícil" mas "tornou-se impossível"
Partido não vai pedir que Joacine Katar Moreira renuncie ao mandato na Assembleia.
by Catarina Correia Rocha"Este é um momento difícil mas foi um momento necessário". Foi assim que o Livre reagiu na conferência de imprensa de confirmação de retirada da confiança política a Joacine Katar Moreira. O partido não vai pedir que a deputada renuncie ao mandato na Assembleia da República.
"Não foi, como imaginam, uma decisão precipitada ou pouco discutida. A assembleia ontem reunida decidiu ratificar a resolução que já tinha sido aprovada pela anterior assembleia, antes do Congresso do Livre, que retirava a confiança política a Joacine Katar Moreira". A assembleia desta quinta-feira, "por margem de 83%, resolveu ratificar a mesma decisão da anterior assembleia", explicou Pedro Mendonça, do Grupo de Contacto.
O partido quis ainda "expressar de forma clara, categórica e inequívoca que Joacine Katar Moreira terá sempre o nosso apoio na luta contra os novos fascismos, o racismo e o populismo". A retirada de confiança à deputada não significa, assim, que esta "deixe de ser defendida destes ataques vis e antidemocráticos", uma vez que "uma coisa são as divergências políticas" e a "falta de confiança política para a deputada nos representar" e outra são "a decência e os direitos humanos".
Tornou-se impossível. Não era mais possível o Livre acordar de manhã sem saber o que ia ser dito em nosso nome nesse mesmo dia
A decisão de retirada de confiança a Joacine foi tomada após "horas e horas de amplos debates internos" para "tentar solucionar e encontrar um método de trabalho que a todos conviesse". "Tornou-se impossível. Não era mais possível o Livre acordar de manhã sem saber o que ia ser dito em nosso nome nesse mesmo dia", destacou Pedro Mendonça.
"As divergências que levaram a esta rotura não são pessoais, são políticas. [...] Tudo o que fazemos, fazemos coletivamente. Joacine Katar Moreira não aceitou", referiu ainda. Lembrando a assembleia em que a deputada chamou "mentirosos" a "camaradas de partido", o responsável reiterou que "não é possível continuarmos a fingir que está tudo bem".
Joacine confundiu esta liberdade que o Livre dá aos seus eleitos com desresponsabilização e com independência de ação. Não se articulou, não discutiu, não aceitou o mínimo conselho dos seus camaradas
Sobre o mandato da deputada no Parlamento, o Livre afirmou que "se Joacine Katar Moreira alguma vez sair da Assembleia da República, que fique claro que não é a nosso pedido". "Desde que foi eleita, Joacine confundiu esta liberdade que o Livre dá aos seus eleitos com desresponsabilização e com independência de ação. Autonomia implica também articulação com todos os órgãos do partido e respeito com todos os camaradas. Tudo isso tem sido quebrado desde há uns meses a esta parte", frisou.
"Joacine Katar Moreira não se articulou, Joacine Katar Moreira não discutiu, não aceitou o mínimo conselho dos seus camaradas", usando a ecologia como exemplo.
Defendendo que o partido tem também de "tirar ilações" desta situação, Pedro Mendonça disse que o Livre vai, "a partir de hoje, iniciar um debate interno para alterar aquilo que nós considerarmos para alterar métodos de escolha de candidatos".
Entre um cargo e os nossos valores, optámos pelos nossos valores. Mas sabemos que vamos pagar por isso
"Tínhamos de fazer uma escolha. Podíamos escolher ficar com uma deputada que, a nosso ver, não nos quis representar, podíamos optar por manter um cargo político ou defender aquilo que acreditamos ser melhor para o país e melhor para a Europa e para o mundo. Entre um cargo e os nossos valores, optámos pelos nossos valores. Mas sabemos que vamos pagar por isso", considerou Pedro Mendonça.
Joacine vai assim passar a ser 'deputada não inscrita' no Parlamento. Já o Livre perde a representação na Assembleia da República.
Em declarações no IX Congresso do partido, que se realizou a 18 e 19 de janeiro, Joacine Katar Moreira afirmou que "está completamente fora de questão" renunciar ao mandato.
De lembrar que os desentendimentos entre deputada e partido começaram no final do mês de novembro de 2019, na sequência da abstenção de Joacine Katar Moreira num voto no parlamento sobre a Palestina.
[Notícia atualizada às 11h55]
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