Reino Unido e União Europeia, 47 anos de altos e baixos
Do entusiasmo ao ceticismo, a relação entre Reino Unido e União Europeia foi sendo pautada por altos e baixos, desde o tempo em que o primeiro-ministro britânico Winston Churchill liderava a iniciativa de criar uma comunidade europeia de nações.
De acordo com o diretor do Instituto de Estudos Europeus da Universidade Livre de Bruxelas, Nicolas Verschueren, é importante lembrar que "depois da Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido esteve no centro dos processos de unificação europeia". Para o historiador, "o discurso de Winston Churchill em Zurique, em 1946, no qual refere os Estados Unidos da Europa e a importância da reconciliação entre alemães e franceses" é um marco histórico na relação do Reino Unido com o continente.
Das cinzas da guerra emergiram seis membros que se tornariam na Comunidade Europeia. Por duas vezes o Reino Unido tentou juntar-se ao clube durante os anos 60. Mas França vetou a entrada. O presidente Charles de Gaulle acreditava na hostilidade dos britânicos ao projeto pan-europeu. Foi o sucessor, Georges Pompidou, quem, em 1973, abriu a porta ao Reino Unido.
A decisão acabaria por ser posta em causa, um ano mais tarde, depois de os trabalhistas subirem ao poder e proporem um referendo sobre a adesão. Mas os britânicos decidiram ficar na Comunidade Europeia.
"Foi aqui que começou a ideia de uma Europa a duas velocidades, com países a não seguir exatamente as mesmas regras, particularmente no que toca à política monetária. O Reino Unido deixa de ser diretamente um membro", defende Verschueren.
As divergências, especialmente em relação ao dinheiro, voltariam ganhar impulso nos anos 80 com Margaret Thatcher à frente dos destinos dos britânicos. Com a antiga primeira-ministra no poder, o Reino Unido conseguiu uma redução nas contribuições para o orçamento europeu.
Só depois de a Dama de Ferro sair do governo foi possível uma nova abordagem. John Major tentou reaproximar o Reino Unido da Europa ao assinar o Tratado Maastricht. E, nos anos 90, a relação entre os britânicos e a restante Europa não podia estar melhor. Sucederam-se vários projetos comuns consolidando os laços entre os Estados-Membros.
Mas a década de 90 também trouxe consigo a abertura ao leste da Europa e com ela novos membros. Um ponto de viragem para o crescimento do euroceticismo, reforçado pelas tentativas de criação de uma constituição europeia.
Em 2016, o então primeiro-ministro David Cameron propõe a realização de um novo referendo. E o resto, como se diz, é história.