“Brexit Day”: Reino Unido se desliga oficialmente da União Europeia
by RFIPrimeiro-ministro britânico, Boris Johnson. Foto: Oli SCARFF / AFP
A saída põe fim a 47 anos de participação dos britânicos no bloco
Depois de mais de três anos de reviravoltas e de dois adiamentos, o Reino Unido se desliga oficialmente da União Europeia às 23h local (20h em Brasília) desta sexta-feira (31). O “Brexit Day” põe fim a 47 anos de participação dos britânicos no bloco. Para os europeus, a data também é histórica, já que esta é a primeira vez que eles perdem um país-membro desde nasceram como Comunidade Econômica Europeia, 1958. Os dois lados agora começam novas negociações para definir como vão se relacionar no futuro, em um período de transição previsto para durar até 31 de dezembro deste ano.
A saída do Reino Unido da União Europeia (UE) foi decidida por um referendo realizado em 2016, por uma pequena margem de votos – 52% contra 48%. O país chega ao “Brexit Day” ainda profundamente dividido. Uma pesquisa de opinião divulgada no último domingo mostra que 47% dos britânicos acreditam que o Brexit é uma decisão equivocada, enquanto 40% acham que sair da UE é uma escolha acertada.
➤ Leia também:
• Países da União Europeia ratificam o acordo do Brexit
• Brexit: conheça 5 saídas possíveis para o impasse no Reino Unido
Outra sondagem, divulgada na quinta-feira (30), indica que para a maioria dos entrevistados, 75%, o Brexit criou novas divergências ou aprofundou outras que já existiam entre os cidadãos do país.
Os jornais desta sexta-feira também sinalizam esse racha: os tabloides, que têm uma linha mais conservadora, comemoram o que eles dizem ser a “independência” do Reino Unido, enquanto publicações mais liberais falam em “salto no escuro”.
Festa do Brexit
Defensores do Brexit, incluindo um dos mais influentes, o líder de extrema-direita e ex-ministro do Parlamento Europeu Nigel Farage, estão planejando uma festa em frente ao Parlamento. Mas o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, decidiu manter um tom mais sóbrio nas comemorações. Ele vai passar a tarde em Sunderland, a cidade de onde saiu o primeiro voto a favor do Brexit no referendo de 2016.
Uma hora antes do desligamento da UE, a imagem de um relógio será projetada na fachada do número 10 de Downing Street, a sede do governo britânico. A praça do Parlamento será decorada com a Union Jack, a bandeira do Reino Unido, e o governo também começa a colocar em circulação nesta sexta-feira milhões de moedas comemorativas.
Já aqueles que votaram para permanecer na UE, os chamados “remainers” devem realizar uma marcha “de despedida” esta tarde no centro de Londres. Muitos deles têm criticado o governo por investir recursos públicos nesta comemoração, e reclamam que ela vem apenas acentuar ainda mais as divisões provocadas pelo referendo.
Período de transição
O Brexit não muda tudo da noite para o dia. Durante o período de transição, o livre-trânsito de mercadorias e cidadãos continua valendo, assim como muitos dos termos do mercado comum. O Reino Unido agora vai negociar com a União Europeia o futuro das suas relações nas áreas de defesa, segurança, energia e pesca. Mas, principalmente, os britânicos querem tentar chegar a um acordo comercial com os europeus, já que está se desligando do mercado comum. Os dois lados se reúnem em 3 de março para a primeira rodada de conversas.
O Brexit abalou a política e a economia britânicas nestes mais de três anos, e muitos se perguntam se o Reino Unido vai mesmo sobreviver à saída da União Europeia da maneira que se esperava. O país assistiu a duas trocas de primeiros-ministros e duas eleições gerais.
Nas últimas, em dezembro passado, Boris Johnson obteve uma vitória esmagadora, conquistando uma maioria histórica no Parlamento. Isso deu a ele o mandato que ele precisava para finalmente aprovar os termos do acordo de saída da União Europeia, algo que ficou quase um ano emperrado.
Desafios internos
O premiê está diante de alguns desafios internos: a Escócia, que em 2016 votou em peso para permanecer na UE, insiste em realizar um novo referendo por sua independência do resto do Reino Unido. A Irlanda do Norte pode pegar o mesmo caminho, caso veja o retorno de uma fronteira fechada com a República da Irlanda.
Na economia, o país tem agora a taxa de desemprego mais baixa desde os anos 1970 e a média de aumento salarial atingiu nível recorde de alta nos últimos dez anos. Apesar disso, a libra esterlina continua valendo cerca de 10% menos do que antes do referendo. Na quinta-feira, o Bank of England (Banco Central do país) reduziu a previsão de crescimento para os próximos três anos para uma média de 1,1%, o pior nível desde a Segunda Guerra Mundial.
Muito obrigado por ter chegado até aqui...
... Mas não se vá ainda. Ajude-nos a manter de pé o trabalho de CartaCapital.
O jornalismo vigia a fronteira entre a civilização e a barbárie. Fiscaliza o poder em todas as suas dimensões. Está a serviço da democracia e da diversidade de opinião, contra a escuridão do autoritarismo do pensamento único, da ignorância e da brutalidade. Há 25 anos CartaCapital exercita o espírito crítico, fiel à verdade factual, atenta ao compromisso de fiscalizar o poder onde quer que ele se manifeste.
Nunca antes o jornalismo se fez tão necessário e nunca dependeu tanto da contribuição de cada um dos leitores. Seja Sócio CartaCapital, assine, contribua com um veículo dedicado a produzir diariamente uma informação de qualidade, profunda e analítica. A democracia agradece.
Carregando...