A coluna da coluna

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Desci para fazer o movimento de rotação, como vinha fazendo, duas vezes na semana, há mais de um mês. Na terceira ou na quarta repetição, a dor veio com tudo. Parei na hora, não havia condições de continuar. Era melhor não fazer nada que piorasse o quadro. Pensando com calma depois e conversando com quem entende do assunto, vejo que pode ter sido a infeliz combinação da posição errada junto com a respiração incorreta – o que qualquer pessoa que faz alguma atividade física pode passar um dia.

O problema muscular fez eu parar de desencadear os pensamentos como costumo fazer. Deixo a cabeça ir longe enquanto executo os exercícios. Fui parado pela dor. Por sorte, tive todo o suporte do qual precisei. Voltei andando devagar para casa, lembrando da dor a cada passo. Mas com o corpo quente, segui a rotina do jeito que consegui.

Trabalhei fazendo movimentos curtos, com o máximo de cuidado possível. Sentindo medo de sentir mais dor. Cada pequena ação era calculada para não despertar o sofrimento. Mais tarde, com o corpo relaxado, a dor deitou sobre mim com força. Naquele momento, percebi o quanto somos despreparados para lidar com esse tipo de situação. No início, relutei muito em pedir ajuda para levantar da cama. Não só por não gostar de incomodar, mas também porque sabia que qualquer puxada ou apoio que fosse mais forte, poderia provocar ainda mais dor.

Como avisar aos músculos que eles devem se destravar para que o desconforto vá embora, se a consciência insiste em lembrar que qualquer mexidinha, por menor que seja, pode ser agoniante? Como lidar com a noite em claro, porque o medo de virar e sentir dor não me deixou dormir? Como encarar todas as responsabilidades e atividades, sabendo que alguma delas pode ser comprometida pelo meu estado?

A dor fez tudo parar e passou a ser o foco. Em tudo o que eu planejava, ela era o primeiro item a ser considerado.

Ela tomou a minha atenção toda. Me fez repensar todos os meus movimentos, entender a extensão do cansaço físico e mental que eu vinha sentindo. Foi um recado claro para que eu tenha mais cuidado com o corpo também. Além disso tudo, aprendi que preciso lidar melhor com as situações nas quais me sinto exposto e vulnerável. Que todo mundo precisa se deixar ser cuidado, às vezes. Que assumir o que sente, pedir ajuda e, principalmente, reconhecer a necessidade de pedir ajuda antes que a situação se agrave, não nos faz fracos.

Também exercitei a paciência. Nos dias seguintes, acordei mais cedo. Levantar da cama era a parte mais difícil do dia, porque não havia posição capaz de não fazer a dor gritar. Respirava fundo, tomava coragem e me movia lentamente, sabendo que, mais cedo ou mais tarde, ela viria junto. Assim como era certo que uma hora ela me deixaria. Me deixou. Mas só de lembrar, meus músculos ficam um pouco tensos. Agora sei porque os setores de saúde costumam ter alas de trauma, não tem termo que defina melhor esse tipo de situação. Não desejo a ninguém, mas agradeço por ter passado e pelo que ficou.