Da cozinha comunista à elitista
by Mário Sérgio LorenzettoA culinária também pode estar salpicada por ideologias. Assim como existiu uma cozinha comunista, Mussolini impôs uma culinária tresloucada: tentou proibir os italianos de comer macarrão. Mas os soviéticos não ficaram atrás, criaram uma cozinha sob o grito "sem escravidão na cozinha".
A salada russa de "todos".
Os líderes da antiga URSS mesclaram as diferentes cozinhas tradicionais das nações que integravam a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Pouco interessava que o método abarcasse 22 milhões de quilômetros quadrados e 15 países. O urgente era conseguir um alto nível de igualdade entre o povo. A alimentação era uma ferramenta essencial para conseguir essa proeza. A mudança culinária permitiu que o povo almoçasse fora de casa nos centros de trabalho, instituições públicas e nos bairros, por preços módicos. Chegaram a regular a quantidade de ingredientes e a forma de elaboração dos poucos pratos servidos. O menu em Kiev era igual ao encontrado em Vladivostok a 9.000 quilômetros de distância. O carro-chefe era a "Stolíchnaya", a nossa conhecida salada russa ou salada de maionese, aquela em que adicionam grandes quantidades de maionese a cubos de vegetais, especialmente de batata.
A salada russa capitalista.
Um par de décadas antes da existência da URSS, em plena época de decadência do regime dos czares, um famoso chef de nome Lucien Olivier, abriu em Moscou o restaurante Hermitage. Seu prato-estrela, a salada Olivier, se converteu no mais pedido em sua elitista clientela. Era uma versão sofisticada da salada russa. A receita exata se perdeu, mas levava carne cozida de galo selvagem, perdiz ou veado com camadas de caviar e gelatina, junto a fileiras de caranguejo, língua de bezerro, ovos duros e batatas cozidas. A mesa também é um termômetro que mede supremacia e poderes. A receita de Olivier se popularizou no mundo todo, retirando os ingredientes caros, trocando-os por alguns baratos. O povo da URSS se queixava de comer sempre o mesmo menu. As ideologias extremistas arruínam até a culinária.