Kobe Bryant: um ídolo de verdade

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Nunca acompanhei a NBA muito de perto. No entanto, a morte do jogador de basquete americano Kobe Bryant, eterno camisa 24 do Los Angeles Lakers, me impactou como se eu não perdesse uma partida sequer da competição. O mesmo aconteceu com a minha namorada, que mal conhece o esporte e só conseguiu reconhecer o rapper canadense Drake em alguns dos jogos que assistiu no ano passado. Impactou, ainda, amigos, conhecidos e desconhecidos que contam nos dedos as vezes que acompanharam um jogo de basquete na vida. 

Se você se der ao trabalho – assim como eu me dei – de ir na sessão de comentários das últimas notícias sobre a tragédia, vai ver inúmeras pessoas lamentando a morte precoce, desejando força às famílias das vítimas, questionando a apuração das autoridades americanas. Pessoas que não lembram qual foi o jogo mais marcante da carreira de Bryant ou quando ele esteve aqui no Brasil. Pessoas que até podem desconhecer o atleta, mas conhecem o ídolo. 

A morte trágica ao lado da filha de 13 anos, Gianna, e de outras sete pessoas também se torna um catalizador dessa comoção, eu sei. Mas, não se engane, sua ausência seria sentida de tal forma não importa como partisse. A perda de um ídolo choca, entristece. Especialmente um ídolo do esporte. Porque a competição desperta a paixão nas pessoas e, com isso, não há somente a veneração, há, também, a torcida. É como se ídolo e admirador estivessem mais próximos graças a um escudo ou uma bandeira em comum. 

Não lembro de morte mais marcante, coletivamente falando, que a de Ayrton Senna. O país parou em maio de 1994 e até hoje seu falecimento é lembrado com pesar pelas pessoas, muitas delas sequer o viram correr. O que é o tempo perto de um ídolo? Ou, ainda, um idioma, uma modalidade esportiva? Nada. 

Tenho um respeito sagrado com aqueles que considero ídolos de verdade. Gente como Kobe que, mesmo sendo um atleta de um outro país em um esporte pouco popular por aqui, consegue comover pessoas comuns como eu e você. Talvez por isso, eu seja tão crítico quanto ao comportamento de muitos atletas que são alçados a essa categoria. Quer queiram, quer não, o título vem com uma grande responsabilidade. Ser ídolo não é para qualquer um. E estar em um ambiente tão fértil para criação de heróis também não deveria ser. 

Para quem estamos torcendo ultimamente? Vale trazer qualquer um como reforço para o seu time? Quem merece a sua adoração? Esses são questionamentos muito pertinentes quando pensamos nos valores que rodeiam o universo do esporte. Atletas moldam comportamentos, ditam moda e costumes, referendam práticas e isso não deve ser tratado como um coadjuvante perto de cifras ou qualquer outro interesse. 

Kobe Bryant não se tornou ídolo porque era apenas um atleta excepcional. Ele alcançou o monte Olimpo porque era tão brilhante fora de quadra como era dentro. Porque aceitou a responsabilidade de carregar tal título e soube usar esse poder de mover multidões para contribuir de forma positiva na vida de muitos. Pessoas assim, ainda que não sejam os melhores em sua área de atuação, são os que serão sempre lembrados. São os verdadeiros ídolos.

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras