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Circles afirma definitivamente Mac Miller como singer-songwriter na tradição das vozes clássicas do rock/pop/folk americanos christian weber

Como desenhar um círculo perfeito

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Não há tempo para despedidas: o álbum póstumo de Mac Miller, luminoso apesar de melancólico, é demasiado belo para isso.

Porque os afectos e a idealização de uma intimidade partilhada por público e artista sempre tendem a toldar a apreciação de um tipo de objecto por natureza votado à aclamação acrítica como é o caso de um objecto póstumo, talvez importe começar pelo fim: o que faz de Circles, álbum póstumo de Malcolm James McCormick (1992-2018), uma vera obra prima não é o facto de ser “o álbum póstumo de Mac Miller”. Em rigor, o espanto de disco que Circles é afirma-se por direito próprio, tivesse aparecido agora ou quando Miller, diabrete franzino, fazia videoclips com os amigos no Blue Slide Park da sua Pittsburgh natal. Desde logo porque vem confirmar o prosseguimento da evolução do seu som, uma das mais interessantes de acompanhar na última década. The Divine Feminine (2016) havia marcado a sua guinada em relação ao hip-hop simplista dos primeiros anos de carreira (o que não impede que lá se achem algumas belas peças, sobretudo a partir de Macadelic); Swimming (2017) foi um degrau acima na construção de um som próprio (aproximado do funk, enamorado pelo indie e pela pop mais inventiva) e na exploração do canto, que passava a ter o mesmo protagonismo do que o rap. Circles, fechando esse círculo perfeito, afirma-o agora definitivamente como um singer-songwriter (os trechos rappados contam-se pelos dedos de uma mão) na tradição das vozes clássicas do rock/pop/folk americanos, a ela lhe adicionando a energia e o groove da música negra (o hip-hop, o funk, o R&B).