Pesquisa de avaliação esqueceu de Dilma II

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A partir da pesquisa Datafolha que apontou avaliação de 36% de ruim/péssimo para o governo Bolsonaro ao fim do 1º ano de gestão, contra 30% de ótimo/bom e 32% de regular, o jornal O Globo fez uma comparação entre a avaliação dos últimos cinco presidentes eleitos do país. Nela, Bolsonaro lidera com a avaliação negativa (ruim/péssimo) de 36%, superando os 34% de Fernando Collor em 1991, FHC e Lula empatam em 25%. Mas a “vitória” é de Dilma, com apenas 6% negativos, em dezembro de 2011.

Entretanto, como ensinou o famoso filme “Blow-up” (1967), de Michelangelo Antonioni, um recorte não mostra o todo, embora nesse recorte possa estar algo surpreendente (no caso do filme, na revelação da flagrante de um beijo num parque londrino, ao ampliar a foto, o fotógrafo descobre um crime).

O critério de só considerar o fim do 1º ano, sem avaliar a aprovação após a reeleição (que aconteceu com FHC, Lula e Dilma), deixa transparecer que Dilma estava bem na fita no seu 2º mandato. Assim como FHC. Mas não era verdade nos dois casos. Com a desastrada desvalorização do real aos 16 dias do 2º mandato, FHC viu sua rejeição saltar para 65% em meados de 1999 e só piorou.

Já Dilma, que era chefe da Casa Civil no 2º mandato de Lula e foi eleita apesar de ser considerada um “poste”, carreou para si a aprovação recorde de 87% registrada por Lula em dezembro de 2010, ao fim do 2º mandato. Isso teve impacto na baixíssima avaliação negativa de 6% no final do 1º mandato (2011), com larga predominância da avaliação de conforto social no governo Lula.

Mas já no fim de 2015 – ano em que a economia teve recessão de 3,5%, a inflação disparou de 6,41% em 2014 para 10,67%, com alta de 18% nas tarifas públicas, sendo de 45% a alta da eletricidade e de 26% dos combustíveis (reduzidos artificialmente ou congelados para garantir a reeleição) a taxa de desemprego saltou de 6,5% para 9%, com o total de desempregados crescendo de 6,3 milhões para 9,2 milhões. Para piorar, a desvalorização de 34% do real diante do dólar fez a renda per capita encolher 27,3%, caindo dos US$ 12.109 de 2014 para apenas US$ 8.880 de 2015.

Os motivos da marcha à ré nas exportações à Argentina

O comércio do Brasil com os países do Mercosul, à frente a Argentina, que responde por mais de 65% das exportações brasileiras para a região, encolheu drasticamente este ano. De janeiro a novembro as vendas ficaram na casa dos US$ 13 bilhões, contra mais de US$ 20 bilhões no mesmo período de 2018.

Por isso, há grande expectativa com a posse amanhã, 10 de dezembro, do novo presidente da Argentina, o peronista Alberto Fernández. Literalmente, após a guinada de 180 graus para a direita, após três mandatos de tendência esquerdista dos Kirchner (Néstor governou de maio de 2003 a 2007, sucedido pela esposa Cristina, eleita em 2008 e reeleita em 2011), sendo sucedida pelo centro-direita Maurício Macri (2015-19), o país que volta à esquerda está em obras. E o exemplo maior é a sede do governo, a famosa Casa Rosada, que passa por ampla reforma estrutural.

Mas o site do jornal especializado “Âmbito Financiero” traz nesta segunda-feira, 9 de dezembro, uma explicação muito prática para se entender porque as vendas de automóveis e demais veículos produzidos pele indústria automobilística brasileira caíram tanto com destino ao país vizinho. No mercado interno as vendas de automóveis dão marcha à ré há 20 meses.

Desde 2015, o dólar – cuja cotação ficou reprimida pelo “cepo” que limitou em US$ 300 as compras mensais dos argentinos – subiu 541%. No mesmo período, a inflação oficial ficou em 160%. Mas o Âmbito explica porque a indústria automobilística local também sofre diante da escalada dos preços das autopeças que importa e perde competição, ante o avanço de 70% do mercado ocupado pelos importados. E a prorrogação de 10 anos do acordo automotivo do Mercosul não deixa a estrada pavimentada para o futuro.

Campeão de vendas no país, o Gol da Volkswagen, também exportado pelo Brasil, ficou 75% mais caro até novembro. De 2015 a 2019, seus preços já subiram 406%. O Renault Sandero ficou ainda mais caro este ano (78%), acumulando 322% desde 2015. Não há poder aquisitivo capaz de manter o consumo inalterado.

Copom vai definir até quando o juro cai

Se na Argentina a expectativa é com os rumos da política econômica que será aplicada pelo novo ministro da Economia Martín Guzmán, no Brasil, aguarda-se o comunicado final do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) sobre os rumos futuros das taxas de juros básicas na quarta-feira, 11. Na reunião, é certa a redução da taxa básica de juros (Selic) dos atuais 5% para 4,50% ao ano. A dúvida é sobre a continuação.

Há duas semanas, antes da preocupante escalada do dólar, desfeita na semana passada, provocar forte alta na carne, com demanda pressionada pelas importações de carne bovina pela China, para suprir parte da perda da produção de carne suína (47% do consumo do país) devido à peste suína africana, o mercado estava confiante que os juros cairiam até 4,25% (aposta do Bradesco) ou 4% (aposta do Itaú), até março de 2020.

Na pesquisa Focus divulgada hoje, o mercado manteve os 4,50% até dezembro de 2020. O Bradesco reafirmou a crença em 4,25%, elevando o PIB de 2019 de 0,90% para 1,20% e o de 2020 de 2,20% a 2,50%. O Itaú manteve a previsão de 2,20% no PIB e 4% de Selic em 2020.

Crescimento da economia pode frear juro

Apesar das pressões na inflação, que atingiu 0,51% em novembro, pelo IPCA, os analistas acreditam que as pressões vão se dissipar (um esfriamento do dólar vai ajudar, ou não). A demanda da China tende a se acomodar e a demanda doméstica por carnes e ovos (elevada pelas festas de Natal) deve refluir passadas as festas e porque a elevação de preços vai comprimir a demanda.

Há quem diga que o fim do campeonato brasileiro, com derrota do campeão Flamengo por 4 a 0 para o vice, Santos, em Vila Belmiro (Santos-SP), pode reduzir a demanda de sucessivos churrascos nos fins de semana pelos rubro-negros. Mas há risco de novo surto se vier o Mundial em Doha, dias 17 e 23...

Um dos motivos para os analistas econômicos não temerem impactos duradouros de surtos inflacionários (a taxa de 2020 foi mantida em 3,60%) é que segue alta a ociosidade da economia, tanto na capacidade instalada da produção dá indústria, comércio e serviços, como do contingente de mão de obra desempregado (apesar da queda recente nos números).

Mas os indicadores da atividade econômica referentes a outubro, que serão divulgados esta semana vão ajudar o Copom a decidir. Na própria quarta, 11, saem dados do comércio do IBGE. No dia seguinte, 12, o instituto divulga dados dos serviços (certamente já de conhecimento do Copom na tarde do dia 11como as pesquisas de comércio (quarta) e de serviços (quinta). Números esses, somados à alta de 0,8% na indústria em outubro, vão balizar o IBC-Br, a proxy do PIB do IBGE, que o Banco Central divulgará na sexta-feira.

O Bradesco está esperando que as vendas de varejo (restrito e ampliado) cresçam 4% frente a 2018. E que o segmento dos serviços avance 0,4% sobre setembro.

Agenda internacional

Do lado internacional, o banco central dos EUA (Fed) irá publicar sua decisão de política monetária algumas horas antes da decisão do Copom, na quarta-feira. Uma nova queda dos juros nos EUA ajudará o Copom a desenhar o cenário para o começo de 2020.

Mas no mesmo dia, serão divulgados os dados de inflação de novembro (que podem determinar cautela ou novo estímulo monetário ao Fed. Na sexta-feira, será conhecido o resultado das vendas de varejo para o mesmo mês.

Na Europa, as eleições gerais antecipadas do Reino Unido estão agendadas para a quinta-feira, que podem determinar mudança no Brexit.

No mesmo dia, o Banco Central Europeu divulga sua decisão de política monetária.