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Viver junto de estabelecimentos que servem comida ultra calórica, como hamburgueres, "contamina" as crianças
Foto: Maria João Gala / Global Imagens

Crianças pobres e que vivem junto de restaurantes "fast food" têm maior risco de obesidade

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Matosinhos e Valongo têm mais crianças gordas do que o Porto, diz também o novo estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.

Uma em cada quatro crianças que habite em Valongo e uma em cada cinco que viva em Matosinhos são gordas. A prevalência média da obesidade infantil está nos 26,7% no primeiro concelho (confluência das freguesias de Sobrado e Valongo) e situa-se acima dos 20% em Matosinhos (freguesias de Guifões, Santa Cruz do Bispo e Custoias são o "triângulo negro").

Estas são as duas áreas geográficas da Área Metropolitana do Porto onde se registam mais crianças gordas e em que os números superam a média registada no Porto, que é de 15,4%.

Os valores surgem destacados num estudo realizado pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e são citados esta segunda-feira na edição do diário "Público".

"É uma diferença muito grande para uma área geográfica supostamente coesa do ponto de vista administrativo", comenta àquele diário a autora do estudo, Ana Isabel Ribeiro. "Não tínhamos noção da magnitude das diferenças", acrescentou.

"Fast food" contamina

As crianças que vivem perto de restaurantes "fast-food", que servem essencialmente alimentos ultra calóricos e pouco nutritivos, têm mais probabilidades de serem obesas do que as outras crianças, diz ainda o estudo, que já foi publicado na revista especializada "International Journal of Epidemiology".

O efeito de contaminação por proximidade é, assim, considerado real, sendo preponderante no favorecimento da obesidade o chamado "ambiente obesogénico" em que vivem essas crianças, isto é: o local onde residem causa, promove ou propicia a obesidade?

O estudo diz que sim. "As crianças que vivem a uma distância pedestre curta [cinco minutos a pé] destes equipamentos têm cerca de 30% mais de probabilidade de serem obesas do que as outras", salienta o estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.

Ser pobre não ajuda
Mas há outro fator que também aumenta as probabilidades de as crianças crescerem obesas, que é a pobreza do local onde residem: quanto mais pobres, mais gordas poderão ser.

A variável da privação socioeconómica mostrou que quanto menor é o rendimento das famílias dessas crianças, maior é a probabilidade de obesidade.

Além dos fatores referidos, a baixa escolaridade das mães também influencia os hábitos alimentares das crianças. Quanto mais baixa é a instrução materna, menos saudáveis serão os cuidados com a alimentação dessas crianças.

Ana Isabel Ribeiro sublinha ainda que o estudo vem demonstrar que a obesidade é um problema de transversalidade social, não sendo da exclusiva responsabilidade do setor da saúde. "Ambiente e urbanismo são duas áreas que são responsáveis pela organização e ordenamento do território e pelo estabelecimento pelos limiares de distância dentro dos quais devemos disponibilizar certos equipamentos". A investigadora espera agora que este estudo reforce o alerta de que a obesidade é um problema de saúde pública.