Café de Cabo Verde em risco por causa da seca
by EuronewsNas encostas do Fogo, os solos vulcânicos escondem tesouros em risco de serem roubados. Nesta ilha de Cabo Verde, o café, outrora erguido a riqueza nacional, corre o risco de desaparecer devido à seca prolongada que se faz sentir no país.
Entre os 350 e os 1300 metros de altitude, sobrevivem as plantações da variedade arábica.
Há um século, os terrenos davam origem a 500 toneladas de café. Atualmente, a produção está abaixo das cem.
Aos 74 anos, Rosério Rodrigues gosta de se ver como "um continuador" da tradição familiar. Faz parte da quarta geração de produtores de café, mas teme que a produção que mantém seja uma herança que mais ninguém queira honrar. Os filhos parecem pouco interessados num negócio cada vez menos rentável.
"Com a falta de chuva que Cabo Verde tem estado a passar, tem havido cada vez menos produção. Pode variar, o café é uma coisa que não se pode confiar, não se deve ter fé", alerta.
A falta de fé no café é um sentimento generalizado entre vários produtores, que, como Manuel Barros, sofrem com a seca que assola o país.
"Eu já tentei muitas vezes aumentar as plantações, mas infelizmente não estou com muita ideia de aumentar, porque dá muito trabalho e não está a avançar para nada. Temos muita falta de água", lamenta.
Exportação de qualidade
Para minimizar os efeitos da seca na agricultura, o governo de Cabo Verde admitiu já serem precisos mais de nove milhões de euros e ter em vista parcerias internacionais.
É precisamente de fora que vem um dos mais importantes investidores na economia do país. Através de uma aliança com empresários holandeses, a ilha está a levar o café até à gigante Starbucks.
Um mercado ao qual é dado resposta sobretudo pela qualidade, porque a quantidade é pouca e as previsões não dão lugar a grandes otimismos. A seca dura há três anos e atividade é cada vez mais comprometida pelas consecutivas quebras na produção.
Herança portuguesa
De acordo com o historiador e professor cabo-verdiano Fausto do Rosário, o café chegou a Cabo Verde, através da diáspora judia que deixou Portugal. Primeiro, à ilha de São Nicolau e depois a Santo Antão, Santiago e ao Fogo. Contudo, as plantações de cafeeiros na ilha do Fogo tiveram a particularidade de ser as únicas que escaparam às ordens do Marquês do Pombal para que fossem arrancadas, de forma a não prejudicar o comércio das outras colónias de então.