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A discussão está a ser vista como mais um exemplo da alegada tensão causada pela decisão do primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, de aplicar uma regra de rotatividade semestral ao cargo de ministro interino
Foto:  Lirio Da Fonseca/REUTERS

Ministra timorense explica discussão com vice-ministro que se tornou viral na Net

A ministra interina da Saúde timorense considerou um "desentendimento normal" uma discussão com o vice-ministro para o Desenvolvimento Estratégico da Saúde e cuja gravação foi divulgada nas redes sociais no país.

"É uma oportunidade para clarificar a gravação que se tornou viral nas redes sociais", disse Élia Amaral, que é também vice-ministra para os Cuidados de Saúde Primários, numa conferência de imprensa conjunta com o vice-ministro para o Desenvolvimento Estratégico da Saúde, Bonifácio Maukoli dos Reis.

"Tratou-se de um desentendimento interno. Os desentendimentos dentro das instituições são normais e não afetou o serviço de atendimento à população, nem o desenvolvimento da instituição", afirmou a responsável, que insistiu não existir animosidade entre os dois titulares.

Os dois vice-ministros envolvidos, que assumem rotativamente e por períodos de seis meses o cargo de ministros interinos, procuraram responder, na conferência de imprensa conjunta, à gravação polémica. Os dois responsáveis apresentaram-se à frente dos vários diretores do Ministério de Saúde.

Somos uma só família e é dentro de casa que se resolvem estes desentendimentos

Élia Amaral afirmou que os dois membros do Governo na área mantiveram sempre "boas linhas de coordenação" e explicou que o "funcionário que gravou e que tornou a informação pública" já está sob investigação para se apurar a motivação.

"O Ministério de Saúde é uma família grande que está sempre pronto a apoiar a população 24 horas e continuará a fazer isso", garantiu.

"Os desentendimentos acontecem. Mas somos uma só família e é dentro de casa que se resolvem estes desentendimentos. Temos que nos respeitar mutuamente. Isso é o mais importante", sublinhou.

Questionada pela Lusa sobre se a rotatividade na liderança do Ministério da Saúde afetava a situação, Élia Amaral disse que esse tema era da exclusiva competência do primeiro-ministro.

Por seu lado, Bonifácio dos Reis disse à Lusa subscrever as declarações da atual superior hierárquica e que a relação com Élia Amaral era boa, registando apenas diferenças de opinião sobre questões administrativas.

Está a ser feita uma investigação sobre o caso

No Parlamento timorense, vários deputados pediram explicações sobre o caso, tendo o secretário de Estado da Comunicação Social, Merício Akara, anunciado uma investigação às circunstâncias da gravação por considerar que a divulgação viola a ética dos funcionários públicos.

"O Governo está a acompanhar o assunto e lamenta a situação. Está a ser feita uma investigação sobre o caso. Foi um encontro interno, para consumo interno, mas depois foi divulgado para as redes sociais e acabou divulgado pelos 'media'. Mas foi uma discussão interna, off-record", considerou.

Merício Akara disse que o Governo quer apurar se algum funcionário atuou "negativamente para desacreditar uma instituição superior" e, caso isso se venha a provar, o autor da divulgação "será alvo de sanção disciplinar".

"A ética profissional obriga a que não se publique uma conversa interna", disse, referindo-se à necessidade de pedir autorização antes de gravar qualquer conversa e aos desafios que a nova tecnologia coloca.

O caso está a ser visto como mais um exemplo da alegada tensão no seio da coligação do Governo, agravada neste caso pela decisão do primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, de aplicar uma regra de rotatividade semestral ao cargo de ministro interino.

Élia Amaral é militante do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), maior força política da coligação governamental, Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), enquanto Bonifácio dos Reis é militante do Partido Libertação Popular (PLP), do primeiro-ministro Taur Matan Ruak.

A situação ocorreu quando o cargo de ministra interina estava a ser exercido por Élia Amaral, que deu instruções a um diretor-geral de Serviços Corporativos, afeto a uma área da responsabilidade do outro vice-ministro, para que a representasse num evento da Associação de Parteiras em Maliana, a sudoeste de Díli.

O diretor-geral em causa informou o vice-ministro, que lhe deu instruções contrárias, e posteriormente explicou não poder representar a ministra interina por ter em curso trabalhos "urgentes" da sua área de ação.

Élia Amaral insistiu que, neste momento, é superior hierárquica e lamentou que o caso mostre não existir internamente cooperação na governação.

A discussão privada e agora divulgada vai além do tema da saúde para a questão político-partidária, com referências ao 'poder' parlamentar de cada um dos partidos, o CNRT com 22 lugares e o PLP com apenas oito.

Não é a primeira vez que um registo de um encontro interno acaba nas redes sociais. Em outubro, foi divulgado um polémico vídeo sobre uma discussão relativa a um processo de concursos públicos no Ministério da Agricultura timorense.