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ONU adverte que desigualdade aumenta risco de conflitos na América Latina

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Manifestante corre em meio ao cenário de caos que tomou o Chile durante atos contra o aumento do preço (Foto: Martin Bernetti/AFP)

De acordo com o relatório do Índice de Desenvolvimento Humano, a região registra a maior perda em desenvolvimento humano por desigualdade

A América Latina e o Caribe correm o risco de sofrer mais crises sociais e instabilidade política em consequência da desigualdade, refletida na convulsão provocada pelos protestos sociais na região, adverte o relatório do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, divulgado nesta segunda-feira 09.

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“A desigualdade é um dos problemas estruturais mais importantes da América Latina, sem dúvida, e quando interage com outros elementos se torna um dos fatores de desestabilização”, afirmou Luis Felipe López-Calva, diretor para América Latina e Caribe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

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De acordo com o relatório, milhões de pessoas saíram da pobreza na última década na América Latina, mas ao mesmo tempo esta é a segunda região mais desigual do mundo, atrás apenas da África Subsaariana.

A situação provocou um descontentamento maior em vários setores, que observam com desespero a situação do acesso a serviços básicos de qualidade em educação, saúde, transporte ou aposentadorias.

A região viveu uma série de protestos recentemente em países como Chile, Colômbia, Equador, Bolívia e Haiti, com dezenas de mortos e centenas de feridos e detidos.

O documento destaca as brechas no acesso a novas tecnologias, o que afeta as opções de emprego, a luta contra a mudança climática, especialmente em pequenas ilhas, e a igualdade de gênero.

“Sim, devemos nos preocupar por continuar sendo uma região de tanta desigualdade, porque isto gera tensões e mais conflitos devido à frustração social de não alcançar melhores condições de vida”, declarou López-Calva à AFP.

A rejeição a medidas de ajuste econômico, eliminação de subsídios, encarecimento dos serviços públicos, aumento do preço da gasolina, aumento da idade de aposentadoria e possíveis fraudes eleitorais são os principais elementos do descontentamento.

“A percepção de injustiça na distribuição da riqueza aumentou e apenas 16% dos entrevistados considera esta distribuição justa”, afirma o relatório.

O IDH do PNUD, baseado em estatísticas sobre condições de vida, indica que a América Latina tem uma média de bem-estar levemente superior à média mundial.

De acordo com o índice, o Chile é o país mais avançado da região, com a 42ª posição em um total de 189 países analisados. Argentina (48), Barbados (56), Uruguai (57) e Bahamas (60) aparecem em seguida. O Brasil está na 79ª posição.

Haiti (169), Honduras (132), Nicarágua, Guatemala (126) e El Salvador (124) são os piores colocados do continente.

A América Latina é considerada uma região de renda média em comparação com o resto do mundo, mas o relatório alerta que estes dados “podem ocultar as carências” da sociedade.

Também é a região que registra a maior perda em desenvolvimento humano por desigualdade de renda: Haiti, Guatemala e Honduras são os que mais perdem, enquanto Uruguai, Argentina e Jamaica aparecem no lado oposto.

Dos 50 países mais prósperos, o Chile tem a maior desigualdade de renda e a Argentina a de expectativa de vida. No México, a origem étnica determina em até 12 pontos percentuais a possibilidade de sair da pobreza.

O relatório alerta que 30 milhões de jovens não têm estudos, emprego ou capacitação, dos quais 76% são mulheres. Além disso, a igualdade de gênero enfrenta “sinais preocupantes de dificuldades e reversões”.

Mais investimento público

Para o PNUD, a América Latina tem a oportunidade de reverter a situação com políticas fiscais que geram mais renda para investimentos e políticas públicas para ampliar o acesso à educação, saúde, aposentadorias, novas tecnologias e emprego.

“Mas é evidente que a classe média paga mais do que recebe em serviços sociais”, afirma o documento.

Também é necessário implementar políticas contra a mudança climática e a discriminação por gênero ou por pertencer a grupos vulneráveis como os indígenas.

O processo deve incluir os setores descontentes porque, em caso contrário, as soluções serão “menos efetivas em reduzir os níveis de tensão que existem”, disse López-Calva.

“A desigualdade sempre foi muito elevada, será muito difícil tentar reduzi-la”, concluiu.

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