Crescimento perene
Município de Luís Eduardo Magalhães vai aderir à Agenda 2030 da ONU e aliar desenvolvimento com proteção ao ambiente
by Flávio Oliveira e Georgina MaynartA região Oeste da Bahia deve ganhar no ano que vem a primeira indústria têxtil da região. A unidade será instalada no município de Luís Eduardo Magalhães e vai transformar as resistentes fibras de algodão em fios. O empreendimento é do grupo cearense Santana Textiles, que já atua no segmento de fiação no Brasil e vai consolidar um novo momento do crescimento exponencial que a cidade tem experimentado desde a sua fundação, em 2000.
Nesta nova etapa, o desenvolvimento virá aliado a compromissos de defesa do meio ambiente e da melhoria das condições de vida das comunidades mais carentes. Isso porque a Prefeitura de Luís Eduardo Magalhães vai aderir oficialmente nesta terça-feira (10/12) à Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), adotando os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) como metas a serem cumpridas nos próximos dez anos.
“A intenção (da nova indústria têxtil) é completar a cadeia produtiva, já que até agora os agricultores plantavam o algodão, faziam o descaroçamento, e enviavam praticamente 90% das fibras para outros países. Com a indústria, passaremos a fazer a fiação e no futuro queremos atrair as tecelagens para fabricar também tecidos e confecções”, afirma Luís Fernando dos Santos Silveira, gerente municipal de Indústria e Comércio de Luís Magalhães. A unidade terá capacidade para processar 1.700 toneladas de algodão por mês e 1.500 toneladas de fios. A expectativa é a de que o empreendimento gere 300 empregos diretos no município.
Pelo menos outros cinco empreendimentos agropecuários devem se instalar em Luís Eduardo no próximo ano. A lista inclui ainda empresas de cereais, armazenamento de grãos e de construção civil.
A atração de investimentos é uma constante da história do município, que usa políticas de incentivo, como a redução da alíquota do Imposto sobre Serviços (ISS) e o abatimento ou isenção de impostos sobre a propriedade predial e territorial para garantir o seu crescimento econômico e social. Com base em lei estadual, quem se instala no município pode obter 90% de abatimento no Imposto sobre Circulação de Mercadorias, o ICMS. A área faz parte da Sudene e assim é possível ter ainda 75% de abatimento no Imposto de Renda, de acordo com as regras federais.
Com 53 indústrias já instaladas, o Centro Industrial do Cerrado, que fica nos limites da zona urbana da cidade, já ocupa atualmente 320 hectares. A maior parte das empresas é voltada para escoamento ou beneficiamento da produção agrícola, como algodoeiras, exportadores de grãos, trades, frigoríficos, abatedouros, fabricantes de ração, sementes, óleos e fertilizantes. Atualmente o centro industrial processa 90% da soja cultivada no Oeste da Bahia. O desempenho no campo se reflete no PIB. O Produto Interno Bruto do município ultrapassa a marca de R$ 4,3 bilhões.
“A economia cresceu muito por conta da tecnologia aplicada nas plantações. As fazendas estão automatizadas. Uma das nossas metas é treinar a mão de obra local para que as pessoas daqui se capacitem para este ramo, e aproveitem as oportunidades de trabalho”, completa Silveira.
VOCAÇÃO PLANEJADA
Produzir e processar a matéria prima que sai do campo é uma vocação estratégica da região localizada no meio do cerrado brasileiro. O município baiano serve de ligação entre as principais regiões produtoras de grãos do país, e se transformou em ponto de passagem quase obrigatório para os agricultores do Matopiba.
Como o próprio nome sugere através de acrônimo, a área abrange partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Já na década de 1990, quando foi delimitada pela Embrapa, a área prometia dinamizar o desenvolvimento no cerrado através da agropecuária. Sem espaço para se expandir em outras partes do Brasil, foi neste território que os agricultores estabeleceram a última fronteira agropecuária do país.
A soja lidera a produção agrícola, seguida do algodão, milho, café, carne bovina e aves. Mais de 47% do volume produzido vai para exportação. Um dos desafios é atrair investidores para a implantação de outras agroindústrias alimentícias.
“Já temos o plantio consolidado e várias unidades de processamento de commodities nas indústrias primárias. Agora estamos a caminho da terceira fase do desenvolvimento industrial em que podemos agregar valor ao produto agrícola, implantando indústrias secundárias que possam transformar, por exemplo, o farelo em ração animal. Só com esta cadeia completa podemos abrir o leque para aumentar ainda mais a geração de emprego e renda”, afirma Eduardo Yamashita, secretário de agricultura de LEM.
Projetos na área de piscicultura familiar, no segmento de atacado de secos e molhados, e no setor de educação superior também vêm ganhando força na região. Nesta parte da Bahia, banhada pelos rios Corrente e Grande, o turismo é outro nicho com ptencial de desenvlvimento.
REFLEXOS
Quem passa na rodovia BR-242, na altura do quilômetro 890, entre o vai e vem constante de caminhões carregados, encontra as duas margens ocupadas por prédios, postos de combustíveis, hotéis, concessionárias, lojas de implementos, revendedoras de máquinas agrícolas, restaurantes e empresas de assistência técnica.
Foi às margens da rodovia que a cidade se desenvolveu, e vem atraindo novos negócios e projetos. O trânsito intenso e os prédios são sinais de uma cidade em constante expansão.
Prestes a completar duas décadas de emancipação, Luís Eduardo Magalhães mantem uma das maiores taxas de crescimento populacional do país. Segundo o IBGE, entre 2011 e 2019, a população do município aumentou 38,28%, chegando a mais de 87 mil habitantes. Isso significa um crescimento médio de 4,8% ao ano, e quase três mil novos habitantes a cada doze meses.
Excluindo os municípios do estado que tiveram expansão de área, esta é a cidade da Bahia que mais atraiu novos moradores na última década. Não está incluída aí uma faixa itinerante com quase 20 mil pessoas que costumam migrar para a cidade apenas durante os cinco meses de colheita e plantio.
Não é por acaso os habitantes se orgulham de ter uma das economias mais pujantes do Nordeste. Eles estampam ainda o título de oitava maior economia do estado e a 218ª maior do Brasil. Uma posição de destaque diante de um país com 5.570 municípios.
Mas quem cresce, precisa de sustança, fôlego e novos desafios. As cidades também. Com sérios problemas provocados pelo crescimento acelerado, principalmente, em áreas periféricas da cidade, o município continua necessitando de obras constantes de infraestrutura, saneamento, serviços públicos de saúde e novas escolas.
Para atender a população, o comércio não para de crescer. Atualmente são mais de sete mil microempresas e quase cinco mil microempreendedores ativos.
São pessoas como o consultor e gerente de projetos Marcelo Feijó. Ele trocou Brasília pela cidade baiana há quatro meses e está montando uma empresa de móveis planejados.
“Estamos erguendo o nosso show-room e já sei que não vou mais voltar para a capital federal. Foi amor à primeira vista pela cidade. Vim com a minha esposa e já decidimos ficar. Acreditamos no potencial de crescimento da região. A intenção é continuar investindo, trabalhando e vivendo aqui”, afirma o empresário.
INDICADORES
Segundo o IBGE, o índice de desenvolvimento humano em Luís Eduardo Magalhães é de 0,716. O IDH é uma das principais medidas usadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para medir a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico da população. A referência varia de 0 a 1. Quanto mais próxima de zero, menores são as condições de saúde, renda e educação. Quanto mais próximos de 1, melhores são os indicadores.
Para exemplificar, países como Austrália e Suíça possuem alguns dos maiores IDH do mundo, em torno de 0,939. Já países como Burkina Faso, que tem graves problemas sociais e de saneamento, chegam a registrar IDH de 0,402.
Luís Eduardo Magalhães conta com 45 unidades escolares de ensino fundamental, e outras oito estão em construção.
De acordo com o último levantamento do IBGE, apesar de deter uma das maiores rendas per capita do país, cerca de R$ 48,9 mil, aproximadamente 27,2% da população recebe dois salários mínimos. Cerca de 32% da população ocupada ganha em média meio salário mínimo.
Na saúde o município tem uma taxa média de mortalidade infantil de 13,57 óbitos por cada mil nascidos vivos. Não é uma das mais altas do país. De acordo com o IBGE, neste item o município ocupa a 249ª posição entre os 417 do estado, e a posição número 2.233 do país. Um hospital público começará a ser construído em janeiro de 2020, em parceria com o estado.
A partir desta semana, os gestores do município pretendem traçar uma nova rota de desenvolvimento. A cidade vai aderir à Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas. O programa prevê a implantação das 17 metas, conhecidas como Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), elas incentivam, entre outras ações, a erradicação da pobreza, o acesso à energia renovável, educação de qualidade, emprego digno, igualdade de gênero e redução das desigualdades atreladas ao crescimento econômico.
“Nós falamos em econometria da sustentabilidade. A partir da inclusão do município na Agenda da ONU, os produtos da região agregam mais valor, e parte deste patrimônio, como as áreas de reserva legal das fazendas, ou os produtos que saem das agroindústrias, podem ser valorizadas, precificadas e monetizadas”, afirma Eduardo Athayde, diretor do WWI – World Watch Institute.
SERVIÇO:
O QUE: Lançamento da Plataforma 2030 da ONU
ONDE: Auditório do SENAR - Sindicato dos Produtores Rurais de Luís Eduardo Magalhães, Oeste da Bahia
QUANDO: 10 de dezembro de 2019 - Das 9 as 12 hs.
Programação:
*Abertura e Adesão a Agenda 2030: Prefeito Oziel Oliveira, outras autoridades e dirigentes de Associações.
*Assinatura do decreto de Adesão: Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - LEM 2030
Palestras:
*Eduardo Athayde, Diretor do WWI - World Watch Institute
*Rodrigo Alves, Superintendente do Ibama na Bahia e Salomão Santana Filho, Coordenador Nacional de Gestão de Qualidade Ambiental do Ibama.
*Antonio Freitas, membro do Conselho Nacional de Educação do MEC