O futuro do lixo como capital, o capital do lixo no futuro

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É preciso pensar o lixo de hoje com o olhar fixo para futuro. Vivemos em tempos de crescente desenvolvimento tecnológico, num mundo em que as pautas de preocupações não são mais as grandes guerras, a fome ou as grandes epidemias, a pauta atual está focada no futuro do planeta, seja nas alterações climáticas, seja na necessidade de preservar os recursos naturais, a manutenção do homem em seu meio, como a preservação da Água, do Solo, do Ar e das demais fontes de vida do planeta.

Nesse sentido, o futuro reserva-nos inúmeros desafios e oportunidades, não se pode perder de vista que as relações humanas já mudaram muito e vem mudando numa velocidade impressionante, os produtos se transformaram, os empregos de hoje serão irrelevantes no futuro e novos surgirão sem que tenhamos a exata ideia de sua configuração.

Estamos diante de um paradigma econômico do mundo moderno, pelo qual nossa relação e ideia de valor e uso dos produtos, materiais e recursos precisa se ajustar aos novos tempos. É preciso que esses ativos permaneçam na economia pelo maior tempo possível, de tal forma que a geração de resíduos (lixo) seja cada vez mais minimizada e tendente a zero.

Esse é o paradigma da conversão da economia linear em economia circular, pela qual os produtos circulem indefinidamente na econômica, esse é o grande desafio da humanidade para o presente com olhar para o futuro. No lixo há um mundo de negócios e oportunidades.

A transição para uma economia circular, onde o uso e reuso, o reaproveitamento, a recuperação e a transformação dos produtos pós-consumo em nova fonte de recurso gerará riqueza, oportunidades e benefícios não só às pessoas, mas a todo o meio e a cadeia produtiva que circunda entre eles.

Ainda modesta como prática ambientalmente mais adequada, o conceito de economia circular vem ganhando corpo, forma e foco no dia a dia das empresas e pessoas no mundo. Países mais desenvolvidos já avançaram muito na gestão dos resíduos sólidos urbanos, bem como na implementação de tecnologias de tratamento e de valorização, e na conscientização, sobretudo dos mais jovens.

É preciso que o Brasil avance nesse mesmo sentido. Ainda somos ineficientes em questões básicas como a correta e adequada segregação dos resíduos em sua fonte geradora (residências e estabelecimentos), os baixos índices de reciclagem do país (3%), em relação aos países mais desenvolvidos (63%) mostra o quanto ainda estamos atrasados nesse conceito.

É difícil? É, mas é possível e é urgente. A produção per capita de resíduos sólidos urbanos no país é em média pouco mais de 01 Kg/dia de lixo por habitante, ou seja, um casal produz mais de uma tonelada de lixo ao ano, dos quais apenas 30 Kg são reaproveitados.

Se há alguma dúvida de que algo precisa mudar, os números falam por si só. Desse total, ou seja, cerca de 970 kg de lixo são depositados em locais inadequados como lixões, rios, mares e uma pequena parte, cerca de 9% é destinada aos aterros sanitários.

É preciso inovar, buscar lá fora alternativas a mudar essa realidade, é difícil? Sim, mas não impossível, a coleta seletiva é uma realidade em muitos países e permite diminuir o índice de “desvio de resíduos” para os aterros sanitários. É preciso olhar os resíduos como recursos, e não mais como lixo, quebrar preconceitos e entender o valor e papel desses materiais para a economia.

É preciso que a União, os Estados e os Municípios fomentem essas práticas e introduzam incentivos adequados para estimular o investimento e atingir os objetivos de preservação e elevação dos índices de reciclagem de resíduos sólidos.

A exemplo disso, a rede europeia de discussão desse tema na comunidade dos países membros, como os Países Baixos, a Áustria, a Suíça, a Alemanha, a Bélgica, a Suécia e a Noruega vêm implementando sistemas de incentivo a empresas, cooperativas e organizações públicas e privadas, há mais de 18 anos.

Nessa mesma esteira, países como o Reino Unido, a Itália, a França, a Espanha, a Finlândia, a Irlanda, a Eslovénia e a Estónia fizeram avanços consideráveis promovendo ações integradas entre empresas privadas e a educação básica nas escolas.

Em 2001 Barcelona criou o Programa Agenda 21, envolvendo professores, alunos, monitores, funcionários e famílias. Assim, o Brasil ainda tem muito a evoluir, elevar os índices de reaproveitamento de resíduos, em grande medida, ainda associados à cultura e a educação para a coleta seletiva.

Possuímos um caderno de legislações e normas ambientais rígidas, porém pouco exercidas pelo estado. Precisamos de comprometimento das pessoas e empresas, e metas exigentes para os próximos anos.

(*) Fernando Abrahão é economista, especialista em Gestão de Estratégica de Resíduos.