O sangue do Brasil e do jornalismo no livro de reportagens de Renan Antunes, o último dos moicanos. Por Zambarda

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O livro de Renan Antunes de Oliveira. Foto: Reprodução

A morte de uma jovem que era prostituta nas mãos de um estudante que contratou seus serviços. Caldo de cana assassino. O relato de uma confissão de um homem que matou a própria mulher a marteladas. Assassinatos de índios.

O caso Monica Lewinsky. Uma ex-mulher de Trump que acusou um ex-assessor de roubar pares de sapatos. Uma jovem que se recusa a ter uma criança fruto de um estupro. Histórias de demissões em grandes (e pequenas) redações.

E a história do jovem Felipe Klein, que fazia modificações corporais e foi encontrado morto em circunstâncias que pareciam com as de um suicídio.

Essa última reportagem lhe rendeu o único Prêmio Esso.

Todas essas histórias, e muitas outras, estão no livro “Em Carne Viva com Calda de Chocolate” (Jornal Já Editora), do jornalista Renan Antunes de Oliveira e lançado neste mês de novembro.

Renan é repórter do DCM, tem 70 anos de idade e 43 de jornalismo.

Se alguém torcesse as páginas do livro, sairia sangue.

Por isso, Renan afirma logo na abertura que sua filha Angelina, de 11 anos, lhe pediu que fosse um pouco mais doce. E ele jogou uma calda de chocolate na obra que iria se chamar apenas “carne viva”.

A jornalista Paula Bianchi narra no prefácio que recebeu um “maço de mil dólares” para se tornar correspondente na Bolívia durante a reeleição de Evo Morales e “se consagrar”.

A repórter resolveu retribuir a generosidade de Renan, mas ele usou o dinheiro para ajudar outro jovem jornalista.

Em outro episódio, Renan se recusou a atacar um político muito conhecido do Paraná para agradar o chefe do “jornal encouraçado”. Foi demitido e teve solidariedade de 30 colegas no bar, que também foram cortados da redação.

Esses são os breves momentos doces.

Nas demais páginas, Renan Antunes não nos poupa de detalhes de crimes, consumo de drogas pesadas como o crack, brigas sindicais com barões da imprensa, a prisão do ex-presidente mais popular da história do Brasil, comboio de índios no México, um papagaio de pirata no impeachment fraudulento de 2016, entre muitos causos.

“A mensagem do opúsculo é simples: não faça como eu fiz”, escreve Renan.

“Em Carne Viva com Calda de Chocolate” não é uma obra barata de bajulação da imprensa, mas sim a reunião de artigos e reportagens de um profissional que contesta organizações, patrões e editores em nome de um conceito que anda em falta na imprensa: integridade.

Da Gazeta do Povo ao Estadão, passando pela Agência Pública e o DCM, Renan Antunes de Oliveira narra muitas histórias de pessoas comuns em circunstâncias extraordinárias e pessoas notáveis em situações mesquinhas.

Entre suas reportagens publicadas no Diário do Centro do Mundo, há o relato sobre os militantes contra a prisão de Lula na Lava Jato, o suicídio do reitor Cancellier, o triplex da família dona da Rede Globo em Paraty e uma entrevista com a mãe de Sergio Moro em 2017.

O livro também traz sua entrevista com o traficante de drogas brasileiro Marco Archer, que foi fuzilado após ser condenado na Indonésia. Renan conversou com ele na cadeia em 2005.

O relato foi o texto mais lido do DCM por muito tempo.

“Fonte é tudo igual, só troca de endereço. Quando procuro uma fonte, ainda hoje fico paralisado por segundos, sem saber como começar ou por onde ir. As dúvidas galopam na minha cabeça. Quando as localizo, fico inseguro entre dar bom dia e perguntar se vai chover. Não sei se conto que meu tio Girolamo produzia vinhos na Serra Gaúcha ou se vou direto ao ponto. Depende do feeling”, diz Renan Antunes em uma entrevista reproduzida nas passagens finais do livro.

Essas histórias mostram como o jornalismo deve servir ao leitor: com muita carne viva e pouco doce.

Serviço

Para os interessados no livro do Renan Antunes de Olveira, mande email para renanoliveira@uol.com.br.