Em troca de tiros com a PM, faixa etária de quem morre é de 15 e 25

Comandante do Batalhão de Choque afirma que idade decorre da facilidade para adolescentes e jovens serem aliciados para o crime

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Furos em veículo em que estavam assaltantes que trocaram tiros com a polícia em novembro (Foto: Kisie Ainoã)

Um de 20, outro de 25. Um na noite de terça-feira (26), outro na noite de quarta-feira (27). Um morreu com revólver calibre 32 nas mãos, outro com revólver calibre 38. Em comum: morreram baleados por policiais militares em troca de tiros, em Campo Grande, integraram organização ligada a crimes de furtos e roubos e aliciavam adolescentes.

Os números não são coincidência. Segundo o Anuário de Segurança Pública 2019, elaborado pelo Fórum de Segurança Pública, a idade letal para tombar em troca de tiros com a polícia é 20 anos.

Comandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar em Mato Grosso do Sul, Marcus Vinícius Pollet comenta que a idade para morrer em confronto com policiais militares no Estado, com raríssimas exceções, é “entre 15 e 25 anos”.

“A gente percebe que a maioria das pessoas que entram em confronto com o batalhão de choque, eles possuem uma idade ali entre 15 e 25 anos. São muitos jovens. Isso reflete o que é veiculado”, comenta Pollet. O comandante afirma que a idade está ligada à vulnerabilidade como são acessados pelo mundo do crime.

“É a idade de quem entra no crime. O adolescente que não tem uma formação familiar sólida. Fica muito tempo disponível na rua. Então, pelas más influências acaba entrando no mundo da criminalidade. Eles são cooptados pela criminalidade. E é difícil a pessoa que entra na criminalidade, dependendo do segmento, ela ter longevidade. A grande maioria são adolescentes e adultos jovens”, comenta.

Segundo o Anuário, no Brasil, além de jovens, os mortos são, em maioria, negros: 75,4%. Outra característica é a escolaridade: 81,5% só possuem ensino fundamental. A população negra, apesar de minoria nas corporações policiais, também é maioria a morrer.

Entre os policiais, negros representam 34%, mas são 51,7% dos assassinados. O ciclo da violência bate e rebate e os números de policiais que tombam também aumentou. Em Mato Grosso do Sul, em 2017, 38 policiais morreram e em 2018, esse número pulou para 43. Fora de serviço, em 2018, 4 policiais morreram, contra 1 em 2017.

Casos - Lucas Kauã Martins Vinco de Oliveira, 20, conhecido como “Diamante”, morreu, baleado pela polícia, durante troca de tiros com os militares no bairro Jardim Los Angeles, região sul de Campo Grande, durante a noite de terça-feira (26). Ele faria parte, segundo a polícia, de organização criminosa que aliciava adolescentes e cometia furtos na região do bairro Mata do Jacinto.

Diones Rodrigo Saldina Cristaldo, de 25 anos, conhecido como “Paraguaio”, morreu na noite de ontem (27) no pronto-socorro do Hospital Regional depois de ser baleado por policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar durante a noite de quarta-feira (27).

A polícia investiga a ligação entre dois grupos responsáveis por uma série de roubos e furtos na região sul de Campo Grande que compartilham, entre outras similaridades, o aliciamento de adolescentes.