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Fotografia: João Marcelino / Espalha-Factos

Conta-me Como Foi: O tempo não passou por eles

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Está na hora de bater à porta, espreitar para dentro de casa e ver como está tudo, agora que passaram 10 anos. Conta-me como Foi vai regressar à RTP1 e o elenco já começou a matar saudades. A estreia está marcada para 7 de dezembro e as novidades são muitas. O Carlitos – e o resto da família – já contaram várias delas ao Espalha-Factos.

Quando regressámos, abrimos a porta, e entrámos novamente pela porta como a família toda. Nós somos uma família, e a família esteve afastada, mas agora reuniu-se e é uma alegria ter uma família toda reunida“, descreve Catarina Avelar, a avó Hermínia da série.

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Catarina Avelar regressa como Avó Hermínia (Fotografia: João Marcelino / Espalha-Factos)

Miguel Guilherme, o pai de família António Lopes, partilha uma grande satisfação por este regresso. “Ainda bem que nós parámos e que retomámos agora, porque acho que é muito mais interessante. Os próprios atores estão 10 anos mais velhos e isso permite um jogo mais interessante ao voltar… se a gente tivesse continuado, talvez aquele tivesse estacionado num ram-ram, e assim voltamos com outra envolvência“, explica.

O ator acrescenta que a paragem permitiu-lhe agora dar “outra gravidade” à personagem. “Como ele é mais velho… procurei dar-lhe uma gravidade maior, uma personagem um bocadinho mais grave, com mais peso do que tinha feito anteriormente“, explica.

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Miguel Guilherme é novamente António (Fotografia: João Marcelino / Espalha-Factos)

Reedita-se a dupla com Rita Blanco, que admite a cumplicidade com o marido da ficção. “Nós damo-nos muito bem, acho que isso se nota. Nós entendemo-nos muito bem esteticamente, somos da mesma geração, fizemos sempre parte de um mesmo grupo, dentro dessa geração, que sempre trabalhou de maneiras próximas e, portanto, isto para nós é, como diria o outro, ‘peaners’“.

Chegámos lá e parecia que nunca tínhamos desligado, o que tem alguma lógica, porque as personagens são feitas a partir de nós, aqui está tudo, não é assim tão complicado. Fazer o Conta-me é como estar de férias… paga“, acrescenta a atriz.

No entanto, a relação entre as duas personagens não será igual. “Eram um casal muito apaixonado. E o tempo tem o seu peso sobre a vida das pessoas. E no caso deles, eles continuam a gostar um do outro, mas há um maior desencanto em relação à relação, e isso vai notar-se na série“, explica o intérprete de António Lopes.

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Fotografia: João Marcelino / Espalha-Factos

“É um dos eventos televisivos do ano“

A RTP tem o regresso de Conta-me Como Foi como um dos momentos mais antecipados da grelha de 2019, depois desta nova temporada ter sido noticiada ainda em fevereiro, ao surgir mencionada no Plano de Atividades da empresa para este ano.

O diretor de programas da RTP1, José Fragoso, não tem pejo em identificar o regresso desta ficção como “um dos eventos televisivos do ano” e um momento que exigiu que várias condicionantes se cumprissem. “Era necessário que tivéssemos os atores, nós queríamos que fosse o mesmo elenco, era preciso encontrar um espaço temporal em que eles todos estivessem alinhados para poder gravar a série… era preciso encontrar uma nova zona, uma nova casa, um novo espaço físico para a família, porque era importante que a família se mudasse…“, descreve o responsável do canal público.

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José Fragoso (diretor de programas da RTP1) e Jorge Marecos (Administrador SP Televisão) no lançamento de Conta-me Como Foi

Rita Blanco conta que as pessoas a abordavam na rua a perguntar se a série ia voltar, algo a que, até agora, ia sempre respondendo que não. A antecipação e os pedidos do público trouxeram uma pressão adicional para a RTP, que assumiu esta nova temporada como um compromisso.

Nós tínhamos dito que era em 2019, os episódios começaram a ficar prontos há um mês, mês e meio, e por isso aqui estamos nós, em 2019, a cumprir essa ideia e esse compromisso com o público, porque eu acho que estes episódios novos vão trazer realmente público novo que não viu os primeiros episódios, e vão trazer o público que já está habituado à história e seguiu a história desta família e vai estar outra vez presente nos vários episódios“, afirma José Fragoso.

A nova temporada, adianta Rita Blanco, é ainda melhor que as anteriores. “Eu estou a gostar mais do resultado final desta do que da anterior, mas posso estar enganada porque ainda só vi um episódio. Gosto da imagem, acho que a imagem é muito cuidada, a realização é muito cuidada“, relata.

Jorge Marecos, gestor da produtora SP Televisão, vai mais longe e diz que aquilo que se fez em Portugal com este regresso de Conta-me Como Foi é algo que “nem em Hollywood se faz“. “Isto é um fenómeno que aconteceu em Portugal, fazer uma produção que parou e que, passados 10 anos, retomou, isto mantendo o mesmo núcleo de atores, que em 10 anos evoluíram, cresceram. Isto faz deste projeto algo incrível. É histórico.“, afirma este responsável.

Miguel Guilherme não esconde ter gostado de voltar a trabalhar com a equipa. “A família nuclear é a mesma, claro que houve alguns atores que deixaram de trabalhar, porque eles mudam de bairro em 74 e vão viver para Benfica, mas a própria equipa técnica, muitos dos técnicos e muita da equipa artística – guarda roupa, decoração – é a mesma do Conta-me antigo. E isso ajudou imenso à compreensão da gravação da série, porque eram pessoas, a maior parte delas, que já tinham trabalhado e já sabiam mais ou menos como é que se devia trabalhar uma coisa deste género.

O gestor da SP Televisão não esconde a importância do momento. “Nunca tivemos uma apresentação com uma carga emocional tão grande como esta, porque o Conta-me Como Foi foi o primeiro trabalho da SP Televisão, quando a empresa foi criada há 11 anos. Para nós, trabalhar para a RTP é um orgulho e um privilégio, nomeadamente fazer o Conta-me é extraordinário, porque no contexto da ficção nacional, o Conta-me terá com certeza sempre um lugar à parte, especial.”

Como eram os anos 80?

José Fragoso faz um esforço para nos ambientar no contexto da ficção: “Este é o Portugal que está pronto para entrar na União Europeia, que vem do 25 de abril e está a ver nascer a música pop e rock cantada em português. Estamos no Portugal em que ainda não havia telemóveis, redes sociais, computadores… É uma época que parece, para quem viveu os anos 80 e vê os episódios, que foi há pouco tempo… mas depois, quando vemos os episódios, percebemos que quase nada hoje é como era há 20 ou 30 anos“.

Luís Ganito, o protagonista da série, só nasceu em 1997. É quem mais pode falar sobre as diferenças que nota face àquela época que não viveu. Aquilo que primeiro lhe salta à vista “é toda uma maneira de vestir completamente diferente“. O ator admite ainda o desafio que tem sido “o cabelo” – “é o maior cabelo que eu tive na minha vida, na construção da personagem eu acho que a parte mais complicada foi o cabelo, de manhã não sei o que lhe hei-de fazer, é acordar e tirá-lo dos olhos… essa é a parte mais complicada“, graceja.

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Fotografia: João Marcelino / Espalha-Factos

E acrescenta que naquela altura “era tudo vivido muito mais calmamente“. Os atores tiveram muito tempo de ensaios e uma das coisas que tem sido mais trabalhada pela direção de atores é, de acordo com o Carlitos, a maneira de falar. “Nós hoje em dia corremos muito, naquela altura era tudo com muito mais pausa, então temos de tentar passar esta calma também… porque eu tenho este ritmo de falar muito rápido, andar de um lado para o outro…“, explica.

Miguel Guilherme, que viveu os anos 80, socorreu-se das memórias para se ambientar ao novo tempo da série, de qual salienta o “rigor histórico“, apesar de lamentar que, por constrangimentos orçamentais, não seja possível recriar com precisão algumas cenas de rua, “com CGI, que era o que devia acontecer na verdade“.

O ambiente da época foi outra das coisas que saltou à vista de Luís Ganito. “Era tudo muito colorido, se um dia fosse para vestir todo de lilás, ok, vestíamos tudo lilás“, diz entre risos. No entanto, nem tudo foram rosas nos anos 80. Duas das realidades que o ator não conhecia tão bem eram “as drogas e a SIDA“.

Eu não fazia a mínima ideia que a droga tinha sido tão presente nos anos 80. Era uma coisa que se estava a descobrir, que não se sabia muito. A droga, como as doenças, a SIDA… era vista como a doença do Variações, não era muito falado, havia muito receio“, explica.

Neste temporada o Carlitos vai ajudar um amigo a sair do mundo da droga, e também fez parte do trabalho perceber qual foi o impacto dessas drogas, das drogas pesadas, a descoberta da heroína e tudo mais. Eu não fazia a menor ideia que descíamos ali a A5 e aquilo era só barracas a vender droga”, descreve o ator.

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Fotografia: João Marcelino / Espalha-Factos
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Fotografia: João Marcelino / Espalha-Factos

Pedro Lopes, da equipa de argumentistas da série, sublinha o papel educativo que esta pode ter. “Há aqui um papel importante, não tanto de entreter, mas de educar, e através de uma história ficcional de uma família, conhecemos a verdadeira história do país, de uma maneira de estar, de pensar, de como é que eram as dinâmicas familiares, as questões de género, para além de coisas muito precisas que aconteceram no país e que achamos que não devem ser esquecidas“, refere.

Nas primeiras temporadas havia um mundo a preto e branco, um ambiente opressivo no país, um Portugal dos pequeninos, e agora é ver como é que seria a série em liberdade, depois do lado efusivo da revolução já ter passado e em que nos começamos a aperceber do que é a realidade, o FMI em Portugal… Foi como se as pessoas tivessem acordado desse sonho“, descreve sobre o ambiente histórico que se vive na temporada que agora estreia.

Eu conheço muito da história de antes e depois do 25 de abril graças ao Conta-me Como Foi. Mesmo os anos 80, eu não fazia ideia que tinha havido tanta coisa nos anos 80, o período pós 25 de abril teve uma parte que eu não fazia ideia, de revoltas, de atentados. Eu sabia, mas não sabia que tinham tido tanta influência na sociedade. Isso ajuda-me a criar, mas também é muito importante para as pessoas ao verem“, reconhece Luís Ganito.

Inês Castel-Branco, que entra na série para viver Clara, uma jornalista que chega a Portugal para dirigir um jornal depois de uma experiência de trabalho nos Estados Unidos, dará a conhecer o ambiente numa redação numa altura em que este era um ambiente sobretudo masculino. “Ela tem um currículo que não é muito normal para uma mulher daquela época ter e vai parar a um mundo de homens, que era o jornalismo e vão contratá-la pela experiência dela, ela vai substituir a personagem do Zeca Medeiros, que era o chefe de redação, e passa a ser ela a chefe de redação da Tribuna de Lisboa. A personagem está muito bem escrita, e a Clara, por ser uma mulher num mundo de homens, tem de ser muito dura, tem de se impôr como as mulheres tinham de fazer naquela altura“, relatou ao Espalha-Factos.

José Fragoso sublinha, contudo, que apesar de o ambiente histórico mudar, o espírito essencial se mantém. “Há uma alteração fundamental, sobretudo no conjunto de instrumentos de comunicação que temos hoje ao nosso dispor, que mudam muito a maneira como as pessoas se relacionam, mas há um espírito de família que estes episódios mantêm, e há um núcleo familiar que persiste, há novas aventuras de cada uma das personagens, e isso vai trazer um aditivo muito grande à história“, afirma.

A série, que tem 52 episódios garantidos, vai percorrer os anos de 1984 a 1987, com a primeira maioria absoluta de Cavaco Silva. E será que continua para os anos 90? A equipa tem vontade, mas “depende do que a RTP achar e como isto correr“, diz Miguel Guilherme. José Fragoso, confiante, fala numa expectativa de 800 mil a um milhão de espectadores por episódio.

Conta-me Como Foi volta a contar, aos sábados, às 21h. A espera está quase a acabar, “está a chegar aquele dia em que estamos todos juntos“, diz Rita Blanco. A família já pode voltar a sentar-se ao sofá.