O CENTRO REVIVE
Revitalização da 14 de Julho dá início a outras mudanças no Centro
Prefeitura quer executar projetos de habitação e movimentar área central
by NATALIA YAHN E EDUARDO MIRANDAA obra de revitalização da Rua 14 de Julho – iniciada em 4 de junho do ano passado – será oficialmente entregue hoje, com novas perspectivas da população e também da Prefeitura de Campo Grande, responsável pela intervenção.
Enquanto moradores, comerciantes e aqueles que transitam pela via diariamente exaltam as inúmeras características do projeto (veja nesta página), realizado ao longo de 1,4 quilômetro entre as avenidas Fernando Corrêa da Costa e Mato Grosso, o Executivo municipal já trabalha para que toda a região central seja ocupada de forma definitiva e crescente, além de planejar o funcionamento do Centro em horário estendido, fazendo com que a via reformada traga nova vida noturna para a cidade. A intenção é movimentar a área e com isso contribuir para o comércio e a segurança pública de forma geral.
Diariamente, aproximadamente 10,5 mil pessoas transitam nas ruas da região central. Por mês, em torno de 315 mil campo-grandenses passam pelo Centro, a grande maioria são pessoas que vivem nos bairros da periferia da cidade.
Os moradores fixos do Centro, de acordo com dados do Censo Demográfico 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são aproximadamente 11,5 mil. Com a inauguração da obra, o plano da prefeitura é fazer com que mais pessoas passem a morar no bairro.
“Quem frequenta o Centro é dos bairros. Por isso, é que, quando chegam as 18h, essas pessoas vão embora. Então, eu tive a ideia do Hotel Campo Grande, de fazer moradia. Pegar prédios e hotéis abandonados no centro da cidade e transformá-los em unidades habitacionais, das quais 50% são para locação para acadêmicos e 50% para assalariados com até três salários mínimos, com comprovante de estabilidade funcional. Não é para qualquer um”, afirmou ao Correio do Estado o prefeito Marcos Trad (PSD).
Construído em 1971, o Hotel Campo Grande foi referência arquitetônica, mas encerrou as atividades em 2001, por conta de dívidas e pendências financeiras. Dos 13 andares, apenas o térreo tem área comercial em funcionamento. No total, o hotel tinha 82 apartamentos e quatro suítes.
ALTERNATIVA
A utilização de prédios que demandariam apenas reformas é o mais indicado por especialistas ouvidos pela reportagem. “O Centro precisa ser ocupado com habitações, além do comércio. Só as pessoas é que darão vida a esse lugar, quando o comércio fechar as suas portas às 18h. E edifícios que estão desocupados, como o Hotel Campo Grande, necessitam dar nova vida a esses espaços que receberam revitalização. Ocupar o hotel com novas habitações é o projeto ideal. Partir do zero é mais caro”, opinou a doutora em Planejamento Urbano e professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Maria Lúcia Torrecilha.
“Se teve todo esse investimento, é preciso aproveitar para as pessoas virem morar no Centro”, opina a cuidadora de idosos Adriana da Silva, 49 anos.
“A gente espera que esta requalificação consiga atrair os moradores para a região. Nós temos dois projetos de habitação. Sabemos que é um processo lento, mas percebemos que a nova 14 de Julho tem outras características e deve atrair novos moradores”, disse Catiana Sabadin, coordenadora da Central de Projetos da prefeitura.
Antes da inauguração, movimento na Rua 14 de Julho surpreende
Enquanto os últimos retoques da obra de revitalização da Rua 14 de Julho eram feitos ontem, a população já movimentava a via e o comércio. As lojas estavam lotadas, atrativo desta época do ano - quando já começam as compras de Natal -, dos descontos oferecidos na Black Friday e também por conta da inauguração da via que será entregue hoje com festa a partir das 17h , já decorada para as festas de fim de ano.
E quem decidiu conferir de perto a rua já pronta precisou didivir o espaço com caminhões e trabalhadores.
Uma das principais mudanças da antiga para a nova Rua 14 de Julho, na opinião da aposentada Rosa Maria, 69 anos, é o sumiço dos vendedores ambulantes que ficavam na calçada - que antes da obra eram menores do que as atuais. “As mudanças que fizeram foram muito boas. Antes era tumultuado, os ambulantes tomavam conta de toda a calçada. Agora a gente tem bastante espaço para poder andar”, disse.
Na requalificação da via, os vendedores ambulantes não aparecem mais na paisagem e deram lugar aos bancos e plantas ornamentais que enfeitam a rua.
Usuária da principal via do Centro da Capital, a também aposentada Inete Nogueira, 84 anos, contou que viu a rua passar por muitas mudanças desde a época em que trabalhava na região, em uma agência de viagens. “Lá em [ano de] 54, 55 era muito diferente. Eu saia do trabalho e ficava andando nas ruas. Namorava muito por aqui”, brincou ela, que garante que vai aproveitar a nova mudança. “Eu tava acostumada com o jeito que estava, mas com certeza eu venho aproveitar para passear a noite aqui. E tem que ter uma musiquinha com gente que é da nossa terra”, opinou.
Outro ponto de novidade do local, a rede Wi-Fi disponibilizada para os pedestres já estava em funcionamento ontem. A velocidade registrada chegou a 5 megas. A internet será livre e gratuita para quem frequentar a rua.
A pavimentação de calçada e de pista foi totalmente refeita na rua, que ganhou novailuminação, com lâmpadas de LED. Os semáforos foram trocados e instalados equipamentos sonoros para os pedestres, atendendo pessoas com deficiência visual, que também já estava em funcionamento.
A época natalina propiciou à via a instalação de luzes coloridas e uma árvore de natal de aproximadamente 20 metros que chamava a atenção de quem passava. “Está muito bonito. Não tem como passar e não parar para tirar uma foto”, disse a vendedora Clei Nonato, 53 anos, que acabava de sair do trabalho e fotografava a decoração para mostrar ao filho que mora do Rio de Janeiro.
Atrás da árvore de Natal e ao lado do palco onde vão se apresentar hoje o Balão Mágico e a cantora Delinha, desde segunda-feira equipe de 50 pessoas estão na Praça Ary Coelho, onde fazem a limpeza do coreto, chafariz, desobstruíram as canaletas de escoamento da água da chuva e a pintura dos pórticos de entrada e grades. O trabalho envolve ainda tratamento no paisagismo, com poda de árvores e replantio de grama. O playground e os equipamentos da academia ao ar livre também foram revitalizados.
Coordenadora da Central de Projetos, Catiana Sabadin, disse que as obras vão cessar por enquanto. “Devemos dar um tempo agora para o centro. Esperar o período de chuvas e iniciar as obras seguintes, que devem começar em abril”, contou.
* Com Adriel Mattos e Fábio Oruê
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