DISPUTA BILIONÁRIA
Bilionário da Indonésia tem controle provisório da Eldorado Celulose
Decisão de desembargador de MS tira participação dos irmãos Batista na empresa, informa advogado
by EDUARDO MIRANDALiminar concedida na quarta-feira pelo desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul Nélio Stábile tira dos irmãos Joesley Batista e Wesley Batista, ainda que provisoriamente, o controle da Eldorado Brasil Celulose. A informação é do advogado Lucas Mochi, que representa o empresário Márcio Celso Lopes. O MCL Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia, que pertence a Lopes, obteve com a decisão a participação de 8,28% no capital da indústria, localizada em Três Lagoas. O porcentual será tirado da fatia da holding J&F, dos irmãos Batista, que tinham uma participação de 50,59% no capital da empresa, afirma o advogado.
Ainda que provisoriamente, a CA Investment Brasil – sociedade do grupo Paper Excellence, holding com sede na Holanda e controlada pelo bilionário indonésio Jackson Widjaja – fica no controle da empresa, com 49,40% de participação. Na próxima semana, decisões poderão, inclusive, mudar a administração da empresa. É que Mário Celso Lopes, agora com participação de 8,28%, solicitará uma assembleia extraordinária dos acionistas. “Vamos fazer esta solicitação dentro de quatro dias”, informou Lucas Mochi.
A liminar do desembargador Nélio Stábile determina que Mário Celso Lopes poderá exercer o direito de voto na empresa até que o recurso interposto por ele – que move uma ação contra a J&F – seja julgado no mérito.
Mário Celso alega que a incorporação da Florestal Brasil pela Eldorado, em 2011, foi diluída por meio de operações que teriam sido feitas a sua revelia e que resultaram na redução de sua participação na empresa para 8,28%. No dia 18 deste mês, o juiz da 4ª Vara Cível de Três Lagoas havia negado a tutela de urgência pedida pelos advogados de Mário Celso Lopes. “O lapso temporal decorrido entre o ato que se pretende ver anulado (29.11.2011) e o ajuizamento da ação (13.09.2019) afasta a alegada urgência”, argumentou o magistrado.
No agravo, o desembargador teve entendimento diferente: “entre as arbitrariedades observadas, destaca-se a violação à cláusula antidiluição prevista no item 2.4 do contrato parassocial, ocorrida com a incorporação da Florestal Brasil S.A., que redundou na indevida redução da participação no capital social da acionista MJ, de 25% para 16,72%, motivo pelo qual reputo ser plausível, recomendável e mesmo necessário assegurar à recorrente, ao menos provisoriamente, o direito de voto, em proporção correspondente a 8,28% das ações representativas do capital social da empresa Eldorado”, asseverou.
Por se tratar de tutela de urgência, a J&F ainda não se manifestou neste processo. A empresa foi procurada pelo Correio do Estado para comentar a decisão da Justiça de Mato Grosso do Sul, mas não enviou resposta até o encerramento da edição.
ARBITRAGEM
Paralelamente à disputa entre Mário Celso Lopes e os irmãos Batista há outro embate pelo controle da empresa, travado nos tribunais arbitrais. O Tribunal Arbitral da Chamber Of Commerce (ICC), que faz a mediação da disputa entre a Paper Excellence e da J&F, deu uma ordem que sinaliza favoravelmente à estrangeira.
O tribunal arbitral da ICC determinou em junho que a Paper Excellence deposite em garantia os R$ 11,2 bilhões que usaria para pagar pela participação da J&F na Eldorado. Ao mesmo tempo, ordenou que a J&F também entregue em garantia as ações correspondentes à sua fatia de 50,6%.
A J&F emitiu nota ontem para informar que a Paper Excellence distorceu informações em fato relevante divulgado nesta semana. Segundo a holding dos irmãos Batista, a empresa do bilionário indonésio “não cumpriu o contrato ao não ter liberado as garantias da J&F dentro de extenso prazo contratual de 1 ano”.
GREENFIELD
Mário Celso Lopes foi denunciado, no dia 24 de outubro deste ano, pela prática dos crimes de gestão fraudulenta, pelo Ministério Público Federal. A força-tarefa da Operação Greenfield alega que ele concorreu para atos de gestão fraudulenta nos fundos de pensão da Caixa Econômica Federal (Funcef) e da Petrobras (Petros). As fraudes teriam ocorrido no primeiro aporte de capital dos fundos no FIP Florestal (fundo composto por Funcef, Petros, MCL e J&F) e também pela gestão fraudulenta dos dirigentes do Petros e Funcef que autorizaram a “fusão/incorporação da Florestal S.A. pela Eldorado, em flagrante prejuízo aos fundos de pensão, que tiveram sua participação diluída na Eldorado.
A transação, atacada pela força-tarefa da Greenfield, é a mesma que deu origem ao pleito ajuizado neste mês na Justiça de Mato Grosso do Sul e que deu os 8,25% de voto no capital da Eldorado. Em 8 de março de 2017, Mário Celso Lopes foi preso, ainda que temporariamente, pela Polícia Federal durante a 2ª fase da Operação Greenfield.
Na primeira fase da operação, em 2016, os irmãos Batista chegaram a ser suspensos do controle da J&F e foram conduzidos coercitivamente à Polícia Federal.
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